O ponto final de uma história que já estava escrita

O Atlético foi para a Copa do Brasil o que o Cruzeiro foi para o Campeonato Brasileiro. Num certame de pontos corridos, dá pinta de campeão aquele que abre vantagem e sobra em pontuação dos adversários, frustra suas tentativas de aproximação em momentos estratégicos, ganha dentro e fora de casa. No mata-mata, quem desponta como vencedor é aquele que vira quando ninguém mais espera, que tem um fator local forte e que não treme na hora decisiva. Nenhum outro time na Copa do Brasil deste ano teve tantos predicados como esses quanto o Galo - qualidades, aliás, que o levaram ao título da Libertadores do ano passado, de um modo bastante semelhante.

O Cruzeiro foi uma decepção ontem, a começar pelas cadeiras do Mineirão. Num estádio que recebeu quase 60 mil pessoas em jogos como Cruzeiro x Goiás e Atlético x Olimpia, um público de 39.786 pessoas é ridículo em um clássico que decide a Copa do Brasil. Ingressos a R$ 700 no setor central da cancha são abusivos, e fica o recado para os dirigentes não só da Raposa, mas de todo o nosso futebol: ninguém está disposto a pagar tão caro, nem em um clássico que decide um torneio nacional, nem um estádio de semifinal de Copa do Mundo. O fiasco precisa servir de lição. É preciso ter renda alta? Com ingressos um pouco menos abusivos, a final da Libertadores do ano passado, no mesmo Mineirão, teve renda superior a R$ 14 milhões. Ontem, não passou dos R$ 8 milhões.

Dentro de campo, a decepção azul foi tão grande quanto fora. O Cruzeiro foi frio, a começar por seu gelado uniforme reserva. Talvez desgastada pelas decisões no Campeonato Brasileiro, a Raposa em nenhum momento assumiu o papel de protagonista do jogo, em nenhum momento acossou seu rival. Ao contrário: mesmo com a enorme vantagem, o Galo foi quem criou as melhores chances de toda a partida. Levir Culpi, comandante recheado de méritos neste título, pensou certo: antes que o Cruzeiro pressione, o Atlético é quem vai pressionar. Com Diego Tardelli, Carlos, Luan e Dátolo marcando forte a saída cruzeirense, a bola voltava para o controle alvinegro o tempo todo. Os volantes Nílton e Henrique não tinham com quem jogar. Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Willian e Marcelo Moreno foram quase que espectadores do jogo, assim como o goleiro Victor.

Muito mais compactado, o Atlético foi por isso também muito mais envolvente. Fez o 1 a 0 tarde, já no final do primeiro tempo, com Diego Tardelli, jogador-símbolo desta era de ouro do Galo, e merecedor mais do que nenhum outro de fazer o gol que definiu o maior clássico mineiro de todos os tempos. Um clássico gigantesco em termos de tamanho, mas minúsculo em emoção: mesmo enfatizando que o jogo não havia acabado, Tardelli já dava entrevistas como virtual campeão no intervalo do jogo. O Cruzeiro, no segundo tempo, em nenhum momento forçou como o Atlético fez diante de Corinthians e Flamengo - situação era igual: 2 a 0 sofrido fora e 1 a 0 parcial contra em casa, precisando de quatro gols para a reversão do panorama. Eis a diferença de um campeão merecido para um vice conformado. Parecem ter pesado o cansaço dos últimos jogos e, talvez, um conformismo pelo fato de o time ter recém se sagrado campeão brasileiro.

Claro que perder um clássico decisivo, o qual evitou a chamada tríplice coroa, é ruim, e em certa medida pode esfriar um pouco a comemoração do título brasileiro de três dias atrás. Ainda assim, é praticamente impossível dizer qual dos dois clubes de Belo Horizonte termina o ano em alta. A temporada 2014 se encerra com a supremacia total dos mineiros, como fora 2013, e de forma muito semelhante: a Raposa com o melhor elenco do país, com o time mais regular, o mais forte em longo prazo; o Galo, já sem aquele brilho técnico de Bernard e Ronaldinho, mas ainda imbatível no mata-mata, com muita determinação para definir situações difíceis, crescendo em jogos importantes e com um fator local impressionante. Que o resto do país corra atrás em 2015, para não ficar invejando a quarta-feira que Minas teve ontem mais uma vez.

A eliminação foi na ida
O São Paulo pressionou, criou muitas chances, teve bola na trave, chute para fora sem goleiro, mas foi eliminado da Copa Sul-Americana. Sabíamos que seria difícil: o Atlético Nacional fez uma boa Libertadores, eliminando Newell's e Atlético Mineiro, é o atual tricampeão colombiano e tem o melhor time do continente, fora brasileiros e argentinos. O 1 a 0 construído em Medellín poderia mesmo ser suficiente para chegar à final, como acabou sendo.

Muitos dirão que o São Paulo foi injustiçado, que merecia a vaga na final. Porém, é preciso lembrar que, se o time de Muricy Ramalho merecia ter vencido por 2 ou 3 a 0 ontem, os colombianos mereciam ter goleado na partida de ida. O confronto foi, nos 180 minutos, equilibrado. O São Paulo acabou pagando ontem o preço da péssima atuação no jogo de ida. E, claro, há também o imponderável: um escorregão na primeira cobrança da decisão por pênaltis, como o de Alan Kardec, mina o moral de qualquer elenco, por mais experimentado que ele seja.

Em tempo:
- Hoje é dia de definir o adversário do Atlético Nacional na final da Sul-Americana. River x Boca é o confronto da vez, em Núñez. Novo 0 a 0 leva a decisão para os pênaltis.

- Título do Galo é péssimo para o Grêmio em sua briga por G-4. Agora, Libertadores só é possível vencendo os dois últimos jogos e com o Inter não ganhando nenhum dos seus. O jogo com o Flamengo, na última rodada, tem boas chances de ser um mero amistoso.

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