Gallardia
Dez anos atrás, Marcelo Gallardo foi um dos personagens mais controversos do Boca x River do século, válido pela semifinal da Libertadores de 2004. Expulso no primeiro jogo, disputado na Bombonera, o referencial técnico daquele River Plate não pôde atuar no Monumental de Núñez, onde seu time venceu nos 90 minutos, mas acabou derrotado nos pênaltis. Ídolo histórico dos millonarios, Gallardo tinha essa conta a pagar em superclásicos. Não tem mais.
O futebol é lindo por isso, por suas reviravoltas, pela possibilidade não de se reescrever a história, mas de continuá-la inserindo o capítulo da volta por cima. Coube justamente a Gallardo comandar o River Plate em sua primeira vitória num mata-mata direto contra o maior rival, também em uma semifinal, desta vez válida pela melhor Copa Sul-Americana de todos os tempos. Uma partida que começou temperada como um chimichurri apimentado: eram 17 segundos quando Rojas derrubou Meli na área. Germán Delfino, sem medo, marcou o pênalti de forma correta. Gigliotti bateu forte, mas à meia altura, e não tão no canto. Cobrança ruim, mas que não tira os méritos de Barovero, que tirou o arremate de mão trocada, com rara felicidade.
A defesa de Barovero mudou a história do clássico para sempre. Com um gol de largada, o Boca Juniors abriria uma enorme vantagem, obrigando o rival a virar o placar para se classificar, após o 0 a 0 da Bombonera. A chance perdida, porém, não abateu o time xeneize, com Gigliotti perdendo mais uma chance aos 12, em dividida com o goleirão do River. Duas chances perdidas em um clássico desta magnitude é imperdoável. Pisculichi deu a lição: no primeiro ataque de real perigo do time da casa, aproveitou cruzamento de Vangioni e colocou de primeira, no cantinho, indefensável para Orión.
Apesar de extremamente disputado, o clássico foi mais bem jogado que o do confronto de ida. O Boca, agora necessitado do empate, veio para cima, deixando mais espaços para o contragolpe rival. E Gigliotti, definitivamente, não estava em sua noite: quando marcou, aos 31, teve impedimento incorretamente marcado. O artilheiro azul y oro perdeu mais uma oportunidade aos 43, sua terceira no jogo. Àquela altura a partida era lá-e-cá, empolgante, com Calleri e Téo Gutiérrez perdendo uma chance cada para cada lado.
No segundo tempo, parece ter faltado ao Boca o comando anímico de Fernando Gago, substituído pouco antes do intervalo, por lesão (mais uma). O time visitante tentou pressionar o River, mas foi a equipe de Gallardo quem levava mais perigo, sempre em contragolpes. Sánchez, pela direita, e Pisculichi, pelo meio, eram os principais criadores de jogadas em velocidade. Atrás, sobrou competência à dupla de zaga e ao volante Ponzio para neutralizar as tentativas do Boca Juniors, e assim segurar o 1 a 0 final.
A festa ao final do jogo foi de título, uma atmosfera impressionante. De fato, eliminar o Boca era algo engasgado na garganta da torcida millonaria, especialmente após 2004, e não haveria chance melhor do que esta para deixar aquele confronto de uma década atrás definitivamente no passado. O River Plate tem um time melhor que o do rival, como há tempos não se via, e era uma semifinal sul-americana, como aquela, embora por outro torneio. O time argentino dá toda a pinta de campeão: em oito jogos na Sul-Americana, venceu sete e está invicto. Nas semifinais, eliminou seu rival histórico. É o atual campeão argentino e está focado em conquistar este título inédito.
Porém, é bom lembrar que a taça ainda não veio, pois falta um duríssimo último obstáculo. O Atlético Nacional é um time forte, de nível semelhante ao deste River, e tem uma credencial histórica: a de tê-lo eliminado na semifinal de outra Libertadores, a de 1995. Será a hora de Gallardo e seus comandados enterrarem mais uma desclassificação para o solo profundo do passado. Em nome de Francescoli, Crespo, Ortega, Ayala, Berti e dele, Gallardo, então um menino, mas que também participou daquele timaço.
Em tempo:
- O Carta na Mesa de ontem está disponível para download.
O futebol é lindo por isso, por suas reviravoltas, pela possibilidade não de se reescrever a história, mas de continuá-la inserindo o capítulo da volta por cima. Coube justamente a Gallardo comandar o River Plate em sua primeira vitória num mata-mata direto contra o maior rival, também em uma semifinal, desta vez válida pela melhor Copa Sul-Americana de todos os tempos. Uma partida que começou temperada como um chimichurri apimentado: eram 17 segundos quando Rojas derrubou Meli na área. Germán Delfino, sem medo, marcou o pênalti de forma correta. Gigliotti bateu forte, mas à meia altura, e não tão no canto. Cobrança ruim, mas que não tira os méritos de Barovero, que tirou o arremate de mão trocada, com rara felicidade.
A defesa de Barovero mudou a história do clássico para sempre. Com um gol de largada, o Boca Juniors abriria uma enorme vantagem, obrigando o rival a virar o placar para se classificar, após o 0 a 0 da Bombonera. A chance perdida, porém, não abateu o time xeneize, com Gigliotti perdendo mais uma chance aos 12, em dividida com o goleirão do River. Duas chances perdidas em um clássico desta magnitude é imperdoável. Pisculichi deu a lição: no primeiro ataque de real perigo do time da casa, aproveitou cruzamento de Vangioni e colocou de primeira, no cantinho, indefensável para Orión.
Apesar de extremamente disputado, o clássico foi mais bem jogado que o do confronto de ida. O Boca, agora necessitado do empate, veio para cima, deixando mais espaços para o contragolpe rival. E Gigliotti, definitivamente, não estava em sua noite: quando marcou, aos 31, teve impedimento incorretamente marcado. O artilheiro azul y oro perdeu mais uma oportunidade aos 43, sua terceira no jogo. Àquela altura a partida era lá-e-cá, empolgante, com Calleri e Téo Gutiérrez perdendo uma chance cada para cada lado.
No segundo tempo, parece ter faltado ao Boca o comando anímico de Fernando Gago, substituído pouco antes do intervalo, por lesão (mais uma). O time visitante tentou pressionar o River, mas foi a equipe de Gallardo quem levava mais perigo, sempre em contragolpes. Sánchez, pela direita, e Pisculichi, pelo meio, eram os principais criadores de jogadas em velocidade. Atrás, sobrou competência à dupla de zaga e ao volante Ponzio para neutralizar as tentativas do Boca Juniors, e assim segurar o 1 a 0 final.
A festa ao final do jogo foi de título, uma atmosfera impressionante. De fato, eliminar o Boca era algo engasgado na garganta da torcida millonaria, especialmente após 2004, e não haveria chance melhor do que esta para deixar aquele confronto de uma década atrás definitivamente no passado. O River Plate tem um time melhor que o do rival, como há tempos não se via, e era uma semifinal sul-americana, como aquela, embora por outro torneio. O time argentino dá toda a pinta de campeão: em oito jogos na Sul-Americana, venceu sete e está invicto. Nas semifinais, eliminou seu rival histórico. É o atual campeão argentino e está focado em conquistar este título inédito.
Porém, é bom lembrar que a taça ainda não veio, pois falta um duríssimo último obstáculo. O Atlético Nacional é um time forte, de nível semelhante ao deste River, e tem uma credencial histórica: a de tê-lo eliminado na semifinal de outra Libertadores, a de 1995. Será a hora de Gallardo e seus comandados enterrarem mais uma desclassificação para o solo profundo do passado. Em nome de Francescoli, Crespo, Ortega, Ayala, Berti e dele, Gallardo, então um menino, mas que também participou daquele timaço.
Em tempo:
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