Juvenil, cruel e promissor

Rhodolfo tem toda razão: o Grêmio comete erros bobos, juvenis, que custam caro. Desde o ano passado é assim, e mais recentemente a coisa se tornou pior. Hoje, no Mineirão, a bobeira geral: Zé Roberto foi desarmado por Dedé e se atirou, criando o único buraco às suas costas em todo o jogo, pois Fellipe Bastos também foi envolvido na jogada. O zagueiro do Cruzeiro avançou sem marcação e cruzou no lugar onde todo mundo se consagra contra o Tricolor: entre Pará e Werley. Dagoberto não foi o primeiro baixinho a fazer gol por ali em agosto - Aránguiz o fez há dez dias. Só aí já foram dois pontos a menos, que fazem a diferença no final de um campeonato, por mais longo que ele seja.

O resultado de hoje foi especialmente cruel com os gaúchos, e justifica o desabafo do zagueirão. Afinal (e aí vem o lado bom da noite, que talvez seja até mais importante do que o resultado em si), o Grêmio foi muito bem, e teve sua proposta se sobrepujando à do melhor time do país em quase toda a partida. Foi mais um jogo que comprovou o acerto de escalar este time com três volantes. Se contra o Criciúma a vitória veio ao natural, faltava o teste do grande jogo, do adversário forte. E Felipão tem razão na análise: em outros jogos, o Cruzeiro criou muito mais perigo do que conseguiu hoje à noite. O sistema de marcação, portanto, funcionou muito bem.

E mais: o Grêmio não atuou retrancado. Na prática, vimos em campo o time da Libertadores: muita marcação, saídas qualificadas dos volantes, pontas perigosos. Dudu especialmente: no primeiro tempo, teve duas ótimas chances, mas parou em Fábio. No segundo, foi Luan quem perdeu grande chance. Na verdade, mais um milagre de Fábio, após uma jogada onde o menino gremista levou três jogadores através de dribles desconcertantes. A dificuldade em marcar gols é que segue sendo preocupante. Como Lucas Coelho sentiu de última hora, a figura do centroavante fez muita falta. Ronan foi absolutamente nulo, errou tudo o que tentou. É apenas seu segundo jogo no profissional, mas está claro que, no mínimo, precisa evoluir muito tecnicamente falando.

O Cruzeiro teve mais conclusões e mais quantidade de situações de gol, mas apenas porque teve mais posse de bola, por opção do Grêmio. Na prática, as chances do time mineiro vieram em chutes de fora da área. Mesmo no segundo tempo, onde atuou mais no campo de ataque, a equipe de Marcelo Oliveira teve cinco chances: três chutes de média distância, um de Ricardo Goulart na área e o gol de Dagoberto. De resto, foi vencido pela marcação forte do time gaúcho, que, assim como no primeiro tempo, teve chances mais claras de gol, mas não fez. Além do lance do gol, cada oportunidade perdida foi determinante para a derrota.

Empate ou derrota dariam quase no mesmo em termos de tabela para o Grêmio. O empate, porém, marcaria a consistente atuação do time de Felipão em Belo Horizonte. A derrota deixa a sensação ruim, aumenta a obrigação de um bom resultado contra o Corinthians, causa decepção no ambiente. Mas há sinais positivos evidentes: Luiz Felipe conseguiu, já em seu terceiro jogo, fazer do Grêmio um time novamente competitivo e duro de ser batido. Não se trata de genialidade do treinador, nada disso: é apenas o feijão-com-arroz, o caminho que Enderson Moreira seguiu e abandonou por causa da atípica goleada sofrida na final do Gauchão. O caminho, está claro desde o ano passado, é esse. Resta segui-lo e aprimorá-lo.

Ficha técnica
Campeonato Brasileiro 2014 - 16ª rodada
21/agosto/2014
CRUZEIRO 1 x GRÊMIO 0
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Flávio Guerra (SP)
Público: 34.335
Renda: R$ 1.413.807,00
Cartão amarelo: Lucas Silva, Henrique, Nílton, Dedé, Edinho, Dudu e Zé Roberto
Gol: Dagoberto 40 do 2º
CRUZEIRO: Fábio (7,5), Mayke (5,5), Dedé (7), Léo (5,5) e Egídio (5); Lucas Silva (5,5) (Nílton, 12 do 2º - 5,5), Henrique (5,5), Éverton Ribeiro (6) e Júlio Baptista (5) (Dagoberto, 17 do 2º - 6,5); Willian (5) (Alisson, intervalo - 5,5) e Ricardo Goulart (5,5). Técnico: Marcelo Oliveira
GRÊMIO: Marcelo Grohe (5,5), Pará (4,5), Werley (5), Rhodolfo (6,5) e Zé Roberto (5); Ramiro (6,5), Fellipe Bastos (6,5) (Alán Ruiz, 43 do 2º - sem nota) e Riveros (5) (Edinho, intervalo - 5,5); Dudu (7), Ronan (3,5) (Fernandinho, 18 do 2º - 5) e Luan (6,5). Técnico: Luiz Felipe

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