Pragmática e semifinalista
A Argentina está de volta às semifinais da Copa do Mundo. Parece incrível, mas há 24 anos isso não ocorria. A equipe de Alejandro Sabella está tendo um desempenho longe de ser brilhante, mas vive um clima relativamente parecido com o Brasil de 1994: não importa tanto a qualidade das atuações, mas sim chegar às cabeças do Mundial. Ganhou todas as partidas por diferença mínima, mas ganhou. E está na semifinal com méritos, pois foi mais eficiente do que a decepcionante Bélgica, mesmo que Di María tenha sido ausência por 58 dos 90 minutos do jogo no Mané Garrincha.
Diante de uma seleção que usa muito as pontas e teve boa atuação diante dos Estados Unidos, Sabella não se constrangeu em posicionar a Argentina de uma forma diferente. Assim, Di María e Lavezzi atuaram como meias abertos, Messi ao centro e Higuaín mais à frente. Isso dificultava o avanço dos ótimos volantes Fellaini e Witsel, que fazem jogar os pontas Hazard e Mirallas. Um modo bem pensado de atuar, e que teve sua tarefa facilitada com o gol logo aos 7 minutos, de Higuaín. Em três dos cinco jogos que disputou, a Argentina abriu o placar antes dos 10 minutos. Nos outros dois, ganhou nos minutos finais.
A Argentina seguiu melhor em campo, com o controle do meio, mas faltava mais poder de fogo. A lesão de Di María, aos 32, não foi tão sentida quanto poderia, porque o time não precisava mais propor o jogo. Fosse na partida contra a Suíça, por exemplo, teria sido quase que trágica. Em seu lugar entrou Enzo Pérez, jogador com característica de marcação. A criação de jogadas, que já não era grande, ficava ainda mais prejudicada. Mas o meio ganhava um recheio importante. Um recheio importantíssimo.
No segundo tempo, a proposta platina era clara: segurar a provável pressão belga e especular nos contra-ataques. A primeira parte foi muito bem cumprida. Demichelis entrou bem na zaga e formou boa dupla com Garay; Basanta não passou trabalho nem como Mirallas, nem com Mertens; Mascherano obrigou De Bruyne a cair mais pelos lados, pois marcava-o bem demais pelo centro. A Bélgica ficou sem muitas saídas, e não se movimentou com tanta dinâmica como diante dos norte-americanos. O que faltou aos argentinos foi o contra-ataque. Higuaín puxou um de forma espetacular, deu janelinha no implacável Kompany, mas acertou o travessão. Sabella quase foi ao chão em desespero, sabendo que aquele tento faria falta na administração do jogo. Foi aí que Di María fez mais falta: tirar a Argentina um pouco mais de seu campo. O time de Sabella quase não valorizou a posse de bola sem seu camisa 7.
Porém, mesmo com pouca agressividade, sem o escape de Di María, os argentinos não sofreram tanta pressão assim, devido à pouca qualidade da atuação belga. O segundo tempo foi mais tenso que propriamente emocionante, e tecnicamente fraco. Venceu quem foi mais eficiente na hora de definir.
A Argentina mostrou, hoje, como é ofensivamente dependente de Di María, não só de Messi. Se o articulador tivesse se lesionado com o placar em branco, talvez o placar do jogo tivesse sido outro. Com o meia do Real Madrid em campo, há ligação, há saídas em velocidade. Sem ele, o time fica mais pesado e travado - muito porque Sabella optou por isso, colocando Enzo Pérez quando poderia ter optado por Alvarez ou Palacio, quem sabe. O treinador argentino foi pragmático: sem seu melhor meia, preferiu encorpar o meio e dificultar as ações da Bélgica para chegar às semifinais. O time cumpriu seu papel com competência. Não joga bem, mas já faz sua melhor Copa das últimas duas décadas, pelo menos.
Quanto à Bélgica, em cinco jogos, quatro ficaram abaixo do que se esperava em termos de desempenho. Hoje, Wilmots chegou a retirar peças criativas da equipe e apostou no zagueirão Van Buyten como centroavante, algo que obviamente não deu certo. Ainda assim, é preciso levar em conta que trata-se de uma equipe muito jovem, que chegará mais madura em 2018, e mesmo sem empolgar chegou entre as oito melhores do mundo, algo que há três décadas o país não conquistava. Pode dar bastante trabalho nos próximos anos.
Em tempo:
- Biglia marcou mais que Gago e não comprometeu na saída de jogo. Provável titular para as semifinais.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
5/julho/2014
ARGENTINA 1 x BÉLGICA 0
Local: Mané Garrincha, Brasília (BRA)
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Público: 68.551
Gol: Higuaín 7 do 1º
Cartão amarelo: Biglia, Alderweireld e Hazard
ARGENTINA: Romero (5,5), Zabaleta (6), Demichelis (6), Garay (7,5) e Basanta (6); Mascherano (6,5), Biglia (6), Di María (6) (Pérez, 32 do 1º - 6), Messi (6,5) e Lavezzi (6) (Palacio, 25 do 2º - 5,5); Higuaín (7,5) (Gago, 35 do 2º - sem nota). Técnico: Alejandro Sabella
BÉLGICA: Courtois (7), Alderweireld (5), Van Buyten (5,5), Kompany (6,5) e Vertonghen (6); Witsel (5,5), Fellaini (6,5) e De Bruyne (6); Mirallas (5) (Mertens, 14 do 2º - 5), Origi (5) (Lukaku, 13 do 2º - 5) e Hazard (5,5) (Chadli, 29 do 2º - 5,5). Técnico: Marc Wilmots
Diante de uma seleção que usa muito as pontas e teve boa atuação diante dos Estados Unidos, Sabella não se constrangeu em posicionar a Argentina de uma forma diferente. Assim, Di María e Lavezzi atuaram como meias abertos, Messi ao centro e Higuaín mais à frente. Isso dificultava o avanço dos ótimos volantes Fellaini e Witsel, que fazem jogar os pontas Hazard e Mirallas. Um modo bem pensado de atuar, e que teve sua tarefa facilitada com o gol logo aos 7 minutos, de Higuaín. Em três dos cinco jogos que disputou, a Argentina abriu o placar antes dos 10 minutos. Nos outros dois, ganhou nos minutos finais.
A Argentina seguiu melhor em campo, com o controle do meio, mas faltava mais poder de fogo. A lesão de Di María, aos 32, não foi tão sentida quanto poderia, porque o time não precisava mais propor o jogo. Fosse na partida contra a Suíça, por exemplo, teria sido quase que trágica. Em seu lugar entrou Enzo Pérez, jogador com característica de marcação. A criação de jogadas, que já não era grande, ficava ainda mais prejudicada. Mas o meio ganhava um recheio importante. Um recheio importantíssimo.
No segundo tempo, a proposta platina era clara: segurar a provável pressão belga e especular nos contra-ataques. A primeira parte foi muito bem cumprida. Demichelis entrou bem na zaga e formou boa dupla com Garay; Basanta não passou trabalho nem como Mirallas, nem com Mertens; Mascherano obrigou De Bruyne a cair mais pelos lados, pois marcava-o bem demais pelo centro. A Bélgica ficou sem muitas saídas, e não se movimentou com tanta dinâmica como diante dos norte-americanos. O que faltou aos argentinos foi o contra-ataque. Higuaín puxou um de forma espetacular, deu janelinha no implacável Kompany, mas acertou o travessão. Sabella quase foi ao chão em desespero, sabendo que aquele tento faria falta na administração do jogo. Foi aí que Di María fez mais falta: tirar a Argentina um pouco mais de seu campo. O time de Sabella quase não valorizou a posse de bola sem seu camisa 7.
Porém, mesmo com pouca agressividade, sem o escape de Di María, os argentinos não sofreram tanta pressão assim, devido à pouca qualidade da atuação belga. O segundo tempo foi mais tenso que propriamente emocionante, e tecnicamente fraco. Venceu quem foi mais eficiente na hora de definir.
A Argentina mostrou, hoje, como é ofensivamente dependente de Di María, não só de Messi. Se o articulador tivesse se lesionado com o placar em branco, talvez o placar do jogo tivesse sido outro. Com o meia do Real Madrid em campo, há ligação, há saídas em velocidade. Sem ele, o time fica mais pesado e travado - muito porque Sabella optou por isso, colocando Enzo Pérez quando poderia ter optado por Alvarez ou Palacio, quem sabe. O treinador argentino foi pragmático: sem seu melhor meia, preferiu encorpar o meio e dificultar as ações da Bélgica para chegar às semifinais. O time cumpriu seu papel com competência. Não joga bem, mas já faz sua melhor Copa das últimas duas décadas, pelo menos.
Quanto à Bélgica, em cinco jogos, quatro ficaram abaixo do que se esperava em termos de desempenho. Hoje, Wilmots chegou a retirar peças criativas da equipe e apostou no zagueirão Van Buyten como centroavante, algo que obviamente não deu certo. Ainda assim, é preciso levar em conta que trata-se de uma equipe muito jovem, que chegará mais madura em 2018, e mesmo sem empolgar chegou entre as oito melhores do mundo, algo que há três décadas o país não conquistava. Pode dar bastante trabalho nos próximos anos.
Em tempo:
- Biglia marcou mais que Gago e não comprometeu na saída de jogo. Provável titular para as semifinais.
Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Quartas de Final
5/julho/2014
ARGENTINA 1 x BÉLGICA 0
Local: Mané Garrincha, Brasília (BRA)
Árbitro: Nicola Rizzoli (ITA)
Público: 68.551
Gol: Higuaín 7 do 1º
Cartão amarelo: Biglia, Alderweireld e Hazard
ARGENTINA: Romero (5,5), Zabaleta (6), Demichelis (6), Garay (7,5) e Basanta (6); Mascherano (6,5), Biglia (6), Di María (6) (Pérez, 32 do 1º - 6), Messi (6,5) e Lavezzi (6) (Palacio, 25 do 2º - 5,5); Higuaín (7,5) (Gago, 35 do 2º - sem nota). Técnico: Alejandro Sabella
BÉLGICA: Courtois (7), Alderweireld (5), Van Buyten (5,5), Kompany (6,5) e Vertonghen (6); Witsel (5,5), Fellaini (6,5) e De Bruyne (6); Mirallas (5) (Mertens, 14 do 2º - 5), Origi (5) (Lukaku, 13 do 2º - 5) e Hazard (5,5) (Chadli, 29 do 2º - 5,5). Técnico: Marc Wilmots
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