Palmas ao Ceará
É claro que o resultado de ontem passa muito pela péssima partida que fez o Internacional - e não foi a primeira atuação ruim dentre as recentes, diga-se. Mas ele também passa pelo Ceará, e é justo que isso seja ressaltado. Dizíamos aqui, e no Carta na Mesa de segunda-feira, que a equipe cearense era superior ao Bahia, adversário que já havia jogado melhor do que o Inter no último sábado (embora não tenha jogado bem), e só não venceu porque era fraquíssimo. Ontem, não: vimos uma equipe mais forte, mais consistente, que exigiria do Colorado um desempenho melhor se a tarefa era uma vitória. O tal desempenho foi tão pífio quanto o da Fonte Nova, o que torna o resultado, de certa forma, lógico.
Quem esperava um Ceará fechadinho atrás aproveitando os contra-ataques errou feio. A equipe de Sérgio Soares jogou com personalidade no Beira-Rio. Jogou como time grande, de Série A, posição a qual deverá ocupar em 2015. Marcou a saída de bola de forma adiantada, ofensiva, agressiva, sem se importar com a camisa do Inter ou com os 22 mil torcedores que enfrentaram o horário tardio e foram ao Beira-Rio. O Ceará foi sempre mais organizado, sólido e consciente do que fazia, enquanto o Inter parecia atordoado com a postura surpreendente de seu adversário, perdido, completamente desorientado.
A superioridade cearense já poderia ter sido convertida em gol aos 14 minutos, mas Magno Alves bateu o pênalti fraco, e Dida defendeu. Nikão se infiltrou na área e foi derrubado por Willians, completamente atabalhoado na marcação. De resto, poucas chances efetivas para o time nordestino no primeiro tempo. E aí quem olha os melhores momentos vê o Inter com três chegadas perigosas, supondo um domínio que jamais aconteceu: duas cabeçadas, de Alex e Fabrício, e um chute do lateral esquerdo para fora, embaixo da trave. Tais lances ocorreram num intervalo de três minutos. Foi o único momento de pressão organizada do Colorado em toda a etapa inicial, dos 28 aos 31. Depois disso, tome controle do Ceará de novo, ainda que sem aquela volúpia de começo - era difícil exercê-la por tanto tempo.
No segundo tempo, nada de apostar no 0 a 0: a equipe visitante voltou novamente melhor, novamente mais agressiva que seu adversário, e fez o 1 a 0 com merecimento, em mais uma ótima jogada de Nikão, desta vez sobre Juan. Aí sim, não restava outra alternativa senão ir para cima. E o Inter o fez, mas de forma completamente desorganizada. Abel colocou Wellington Paulista no lugar de Gilberto (o qual era engolido pelo impetuoso Vicente), passando Cláudio Winck de volante a lateral direito, tentando dar mais agressividade ao time, mas o que se via era Paulão tentando cruzar para Juan, Rafael Moura cobrando escanteio em vez de ir para a área, D'Alessandro e Alan Patrick apagados e um conjunto que sente demais a falta de Aránguiz para ter um mínimo de efeito-surpresa sobre seus rivais. Alan Ruschel empatou em um golaço aos 46, tento que não fazia justiça ao futebol pobre do Inter, mas Ricardinho tratou de colocar o Ceará merecidamente e novamente à frente na saída de bola.
Os dois gols nos acréscimos foram péssimos para o Internacional. Ganhar em Fortaleza de 1 a 0 não seria exatamente uma tarefa fácil, mas seria bem possível. Qualquer vitória fora de casa classificaria o Inter, ou ao menos levaria a decisão para os pênaltis. Agora, nem a vantagem mínima serve: o Colorado precisará fazer no mínimo dois gols para se classificar, o que não é nada fácil diante de um rival que está na Série B, mas joga futebol de primeiro nível, melhor que muito time de primeira divisão. Mas nem tudo é motivo para desespero, afinal, uma eliminação precoce significaria tornar o Inter um dos candidatos ao título da Copa Sul-Americana. Desde que jogue mais do que vem jogando, claro.
15 anos e 26 jogos depois
A cobrança de Magno Alves defendida por Dida é um lance retrô: ocorreu em 2014, mas poderia ter facilmente acontecido em 1999. Foi precisamente neste ano, por sinal, que o Inter havia perdido seu último jogo em casa por uma Copa do Brasil: aqueles históricos 4 a 0 para o Juventude, nas semifinais. Há 15 anos, ou 26 jogos, o Colorado não perdia como mandante pelo torneio. A última derrota no Beira-Rio tinha sido para a Portuguesa, em novembro de 2012, pelo Brasileirão, último jogo do fechamento do estádio para as obras da Copa do Mundo.
Um bom começo
A entrevista de Luiz Felipe Scolari foi a de um homem disposto a trabalhar, recuperar a imagem abalada com o fiasco na Copa do Mundo, motivado para atuar em seu clube do coração e que tem, ao que parece, um projeto de longo prazo e envolvido com as categorias de base do Grêmio. É exatamente deste Felipão que o Grêmio precisa, e somente este Felipão é que tornará a escolha de Fábio Koff acertada. Mais do que um Felipão ajeitador de time, um Felipão que banque um projeto de pelo menos 30 meses, que dê a continuidade que o Grêmio não tem há anos. Poderia ter sido mais humilde ao lembrar que tem 19 ou 20 títulos na carreira, e que não mudará em nada o que pensa de futebol por isso. Mas ele chega para trabalhar duro, e isso é ótimo para o Grêmio.
Na final
O San Lorenzo jamais correu qualquer risco de perder sua garantidíssima vaga na final da Libertadores. O Bolívar chegou a fazer seu gol no segundo tempo, após uma etapa inicial modorrenta, mas o 5 a 0 era vantagem demais. Contra o Nacional paraguaio, pela primeira vez o time do Papa decidirá em casa e iniciará o mata-mata fora. Os guaranis perdem uma grande vantagem: o saldo qualificado, que vinha lhe auxiliando, e muito. Em nenhum jogo como mandante no mata-mata o time de Gustavo Morínigo sofreu sequer um gol. É a surpreendente final da Libertadores 2014.
Noia gigante
Poucos imaginavam que, diante de tantos problemas ofensivos de escalação, o Novo Hamburgo fosse conseguir fazer 2 a 0 no ABC e se classificar sem a necessidade de pênaltis na Copa do Brasil. Nosso grande Zezinho Morais já apostara no Carta na Mesa que a equipe do Vale venceria por 1 a 0 e passaria nos pênaltis. Era o cenário que pintava, de fato, até o gol salvador de Juba, aos 46 do segundo tempo. O Noia chega às oitavas da Copa do Brasil. E até onde poderá ir? Que campanha memorável, a mais fantástica de um time do interior desde o 15 de Novembro, em 2004.
Quem esperava um Ceará fechadinho atrás aproveitando os contra-ataques errou feio. A equipe de Sérgio Soares jogou com personalidade no Beira-Rio. Jogou como time grande, de Série A, posição a qual deverá ocupar em 2015. Marcou a saída de bola de forma adiantada, ofensiva, agressiva, sem se importar com a camisa do Inter ou com os 22 mil torcedores que enfrentaram o horário tardio e foram ao Beira-Rio. O Ceará foi sempre mais organizado, sólido e consciente do que fazia, enquanto o Inter parecia atordoado com a postura surpreendente de seu adversário, perdido, completamente desorientado.
A superioridade cearense já poderia ter sido convertida em gol aos 14 minutos, mas Magno Alves bateu o pênalti fraco, e Dida defendeu. Nikão se infiltrou na área e foi derrubado por Willians, completamente atabalhoado na marcação. De resto, poucas chances efetivas para o time nordestino no primeiro tempo. E aí quem olha os melhores momentos vê o Inter com três chegadas perigosas, supondo um domínio que jamais aconteceu: duas cabeçadas, de Alex e Fabrício, e um chute do lateral esquerdo para fora, embaixo da trave. Tais lances ocorreram num intervalo de três minutos. Foi o único momento de pressão organizada do Colorado em toda a etapa inicial, dos 28 aos 31. Depois disso, tome controle do Ceará de novo, ainda que sem aquela volúpia de começo - era difícil exercê-la por tanto tempo.
No segundo tempo, nada de apostar no 0 a 0: a equipe visitante voltou novamente melhor, novamente mais agressiva que seu adversário, e fez o 1 a 0 com merecimento, em mais uma ótima jogada de Nikão, desta vez sobre Juan. Aí sim, não restava outra alternativa senão ir para cima. E o Inter o fez, mas de forma completamente desorganizada. Abel colocou Wellington Paulista no lugar de Gilberto (o qual era engolido pelo impetuoso Vicente), passando Cláudio Winck de volante a lateral direito, tentando dar mais agressividade ao time, mas o que se via era Paulão tentando cruzar para Juan, Rafael Moura cobrando escanteio em vez de ir para a área, D'Alessandro e Alan Patrick apagados e um conjunto que sente demais a falta de Aránguiz para ter um mínimo de efeito-surpresa sobre seus rivais. Alan Ruschel empatou em um golaço aos 46, tento que não fazia justiça ao futebol pobre do Inter, mas Ricardinho tratou de colocar o Ceará merecidamente e novamente à frente na saída de bola.
Os dois gols nos acréscimos foram péssimos para o Internacional. Ganhar em Fortaleza de 1 a 0 não seria exatamente uma tarefa fácil, mas seria bem possível. Qualquer vitória fora de casa classificaria o Inter, ou ao menos levaria a decisão para os pênaltis. Agora, nem a vantagem mínima serve: o Colorado precisará fazer no mínimo dois gols para se classificar, o que não é nada fácil diante de um rival que está na Série B, mas joga futebol de primeiro nível, melhor que muito time de primeira divisão. Mas nem tudo é motivo para desespero, afinal, uma eliminação precoce significaria tornar o Inter um dos candidatos ao título da Copa Sul-Americana. Desde que jogue mais do que vem jogando, claro.
15 anos e 26 jogos depois
A cobrança de Magno Alves defendida por Dida é um lance retrô: ocorreu em 2014, mas poderia ter facilmente acontecido em 1999. Foi precisamente neste ano, por sinal, que o Inter havia perdido seu último jogo em casa por uma Copa do Brasil: aqueles históricos 4 a 0 para o Juventude, nas semifinais. Há 15 anos, ou 26 jogos, o Colorado não perdia como mandante pelo torneio. A última derrota no Beira-Rio tinha sido para a Portuguesa, em novembro de 2012, pelo Brasileirão, último jogo do fechamento do estádio para as obras da Copa do Mundo.
Um bom começo
A entrevista de Luiz Felipe Scolari foi a de um homem disposto a trabalhar, recuperar a imagem abalada com o fiasco na Copa do Mundo, motivado para atuar em seu clube do coração e que tem, ao que parece, um projeto de longo prazo e envolvido com as categorias de base do Grêmio. É exatamente deste Felipão que o Grêmio precisa, e somente este Felipão é que tornará a escolha de Fábio Koff acertada. Mais do que um Felipão ajeitador de time, um Felipão que banque um projeto de pelo menos 30 meses, que dê a continuidade que o Grêmio não tem há anos. Poderia ter sido mais humilde ao lembrar que tem 19 ou 20 títulos na carreira, e que não mudará em nada o que pensa de futebol por isso. Mas ele chega para trabalhar duro, e isso é ótimo para o Grêmio.
Na final
O San Lorenzo jamais correu qualquer risco de perder sua garantidíssima vaga na final da Libertadores. O Bolívar chegou a fazer seu gol no segundo tempo, após uma etapa inicial modorrenta, mas o 5 a 0 era vantagem demais. Contra o Nacional paraguaio, pela primeira vez o time do Papa decidirá em casa e iniciará o mata-mata fora. Os guaranis perdem uma grande vantagem: o saldo qualificado, que vinha lhe auxiliando, e muito. Em nenhum jogo como mandante no mata-mata o time de Gustavo Morínigo sofreu sequer um gol. É a surpreendente final da Libertadores 2014.
Noia gigante
Poucos imaginavam que, diante de tantos problemas ofensivos de escalação, o Novo Hamburgo fosse conseguir fazer 2 a 0 no ABC e se classificar sem a necessidade de pênaltis na Copa do Brasil. Nosso grande Zezinho Morais já apostara no Carta na Mesa que a equipe do Vale venceria por 1 a 0 e passaria nos pênaltis. Era o cenário que pintava, de fato, até o gol salvador de Juba, aos 46 do segundo tempo. O Noia chega às oitavas da Copa do Brasil. E até onde poderá ir? Que campanha memorável, a mais fantástica de um time do interior desde o 15 de Novembro, em 2004.
Comentários
Até quando os técnicos do Inter vão insistir em esquema com apenas um atacante? 4-4-2 já! É tão difícil? Além disso, tem jogadores que há tempo mostram que não merecem a titularidade como Willians, Juan e Fabrício. Alan Ruschel merece uma seqüência, um segundo atacante pra ajudar Rafael Moura também é essencial, Cláudio Winck tem de ser o titular da lateral-direita, Ygor precisa voltar a titularidade como primeiro volante e a zaga, pra variar, está muito mal. Precisa contratar zagueiro, renovar a defesa, mas preferem renovar com os velhos Índio e Juan, que não jogam a mesma coisa de antes.
O Inter tem plenas condições de sair vitorioso no jogo de volta em Fortaleza, mas não com esse futebolzinho pós-Copa. Se cair, pode jogar Sul-Americana, mas também vai ter de jogar melhor do que o que vem sendo apresentado ao torcedor colorado. Sem contar que, jogando assim, vai ficar só cumprindo tabela no Brasileirão e os "Wianey Carlet" da vida vão ficar alertando à possibilidade de rebaixamento.