A vaga e uma dúvida

Didier Deschamps deve ter saído do Mané Garrincha com dois sentimentos. Um, óbvio, é a satisfação por ver a sua França bater a Nigéria por 2 a 0 e chegar às quartas de final da Copa do Mundo. O outro, porém, é de dúvida: qual equipe escalar diante de Alemanha ou Argélia, na próxima partida? Porque seu time evoluiu muito com Giroud no lugar de Griezmann da estreia para a vitória sobre a Suíça, mas hoje melhorou justamente com a troca contrária.

A moda nesta Copa do Mundo é rasgar elogios aos times reativos, especialmente após suas vitórias. No caso de hoje, isso não cabe à França. A equipe de Deschamps gosta de jogar com a bola no pé e a partir daí envolver seu adversário. Não é um time que goste de ser atacado para dar o bote. No primeiro, viu-se obrigada a isso por conta da superioridade tática e numérica no meio-campo da Nigéria. Não é a característica de Benzema jogar pela ponta, quanto mais recompor o meio. Já Moses e Musa, ambos os pontas nigerianos, ajudavam dando opções a Obi Mikel e Odemwingie, os dois principais pensadores do meio africano.

A postura agressiva da Nigéria chegou a lhe dar um gol anulado por questão de centímetros, mas abria espaços atrás. A França tinha no contra-ataque sua única possibilidade de chegar ao gol nigeriano. Recuperações de bola no meio eram bem aproveitadas por Pogba e Matuidi, que levavam o time à frente com suas passadas largas. Ainda assim, a Nigéria se recompunha rápido. Foi um duelo tático interessante, o do primeiro tempo. Uma etapa que, por sinal, acabou bastante equilibrada.

O segundo tempo, ao contrário, começou totalmente nigeriano. Com Obi Mikel um pouco mais preso do que na etapa inicial, os buracos para o contragolpe francês foram tapados. Ao mesmo tempo, a equipe se adiantou e passou a jogar dentro do campo francês. Havia jogadas pelos lados e também pelo meio, com Odemwingie sendo mais uma vez o grande destaque. Faltava o bom centroavante Emenike ter mais atenção e sair do impedimento, problema que já havia cometido nos jogos contra Irã e Bósnia, e voltou a se repetir.

Era preciso mudar, ou a França deixaria o Brasil mais cedo do que o esperado. Deschamps fez o óbvio: retirou Giroud, em má jornada técnica, colocou Griezmann pela ponta esquerda e passou Benzema para o comando do ataque. Agora, os franceses voltavam a ter cinco homens no meio, jogadas pelos dois lados, e o principal: com pontas em ambos os flancos, a Nigéria teria de segurar mais o avanço dos laterais e meias, ou poderia sofrer o bote. A mexida coincidiu com o recuo africano. A hora de ganhar o jogo havia passado.

Benzema foi muito bem contra a Suíça pela esquerda, mas diante da Nigéria só rendeu jogando na sua, pelo centro. Aos 25, tendo com quem tabelar, recebeu de Griezmann e só não fez porque Moses tirou em cima da linha. A pressão foi ficando cada vez mais forte, geralmente em bolas alçadas para a área: numa, Cabayé acertou o travessão; em outra, Enyeama salvou testaço de Benzema; na seguinte, saída errada do bom goleiro nigeriano e gol de Pogba. E antes de participar do gol definitivo, Griezmann quase ampliou em lançamento de Matuidi. Em 60 minutos com Giroud em campo, os franceses tiveram duas chances de gol; em 30 sem ele, criaram seis oportunidades. É muita diferença de produtividade.

A questão é saber qual equipe jogará as quartas de final. Pensando em um confronto com a Alemanha, que é o mais provável, talvez o ideal seja Griezmann, e não Giroud. Afinal, é sabido que o problema do time de Joachim Löw é justamente a lentidão de sua linha defensiva, formada exclusivamente por zagueiros. Abrir pontas rápidos como Valbuena e Griezmann daria velocidade ao ataque francês e poderia causar sérios problemas à equipe germânica. O ponto positivo é que Deschamps tem opções. Basta não se confundir com elas.

É importante também salientar que a saída do volante Onazi, aos 13 minutos do segundo tempo, complicou demais a vida da Nigéria no jogo. Não que Ruben Gabriel tenha entrado mal, mas o fato é que o camisa 17 era o principal ladrão de bolas no meio, um verdadeiro paredão à frente da zaga que não deixava a França contragolpear. Sua saída se deu por lesão, e diminuiu demais o poder da equipe africana de roubar bolas próximas à área francesa. O resultado também se explica pelo time derrotado.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Oitavas de Final
30/junho/2014
FRANÇA 2 x NIGÉRIA 0
Local: Mané Garrincha, Brasília (BRA)
Árbitro: Mark Geiger (EUA)
Público: 67.882
Gols: Pogba 33 e Yobo (contra) 45 do 2º
Cartão amarelo: Matuidi
FRANÇA: Lloris (6,5), Debuchy (6), Varane (6,5), Koscielny (5,5) e Evra (6); Cabayé (7), Pogba (7,5) e Matuidi (7); Valbuena (7,5) (Sissoko, 48 do 2º - sem nota), Giroud (4,5) (Griezmann, 16 do 2º - 6,5) e Benzema (6). Técnico: Didier Deschamps
NIGÉRIA: Enyeama (5,5), Ambrose (6), Yobo (6), Omeruo (5,5) e Oshaniwa (5); Onazi (7) (Gabriel, 13 do 2º - 6), Obi Mikel (6,5) e Odemwingie (7); Musa (6,5), Emenike (5,5) e Moses (6) (Nwofor, 43 do 2º - sem nota). Técnico: Stephen Keshi

Comentários

Chico disse…
A França jogava mal até Griezmann entrar e mudar a partida. Merecida a vitória da seleção francesa.

Discretamente, os azuis estão chegando.
Vicente Fonseca disse…
E sempre que passaram da primeira fase chegaram no mínimo às semifinais. A Alemanha que se cuide. Com a velocidade de Valbuena e Griezmann pelos lados, os zagueiros-laterais alemães vão sofrer. É jogo para Lahm pelo lado, e não como o Guardiola inventou no Bayern.