A mais cruel das maldições

A maldição das oitavas de final está mais viva do que nunca para os mexicanos. Em nenhuma das cinco últimas Copas do Mundo o selecionado asteca esteve tão perto de chegar às quartas de final como na de agora, em 2014. Diante de uma Holanda tão temida mundo afora, o time de Miguel Herrera foi melhor na maior parte do jogo, segurava a vitória com competência até os 42 do segundo tempo e mesmo assim foi eliminado. E no tempo normal.

Os dois times entraram em campo com sistemas táticos semelhantes, mas propostas diferentes. Com um meio mais leve, o México controlou o primeiro tempo. É verdade que Louis van Gaal gosta de ver seu time ser atacado, mas no caso de hoje não foi apenas uma escolha holandesa o que ocorreu na etapa inicial. Os mexicanos conseguiram criar chances de gol e praticamente não foram acossados. Com o zagueiro Salcido postado à frente dos três zagueiros, o México tinha quatro homens para enfrentar os três jogadores de frente da Laranja. O resto do time estava liberado para atacar. E atacou.

Com triangulações envolventes pelos dois lados, o México foi mais eficiente na marcação e mais perigoso na frente. Pela direita, Aguilar, Herrera e Giovani dos Santos; pela esquerda, Layún, Guardado e Peralta. A postura agressiva da equipe mexicana impedia que a Holanda saísse pelos lados, com Verhaegh e Kuyt, os alas do esquema inusitado (para não dizer inventado) de Van Gaal. A equipe europeia só teve duas oportunidades: uma num lançamento para Van Persie, que bateu torto; outra, num erro na saída de bola, que Rafa Márquez bobeou, perdeu para Robben, mas o desarmou na área. Jogadas criadas? Zero. Sneijder? Parecia não estar em campo.

O gol de Giovani dos Santos logo aos dois minutos do segundo tempo mudou tudo. Com a merecida vantagem, o México tratou de priorizar a parte defensiva. Foi cedo demais? Sim, mas é preciso considerar que seria difícil manter a intensidade da atuação do primeiro tempo no calor das duas da tarde de Fortaleza. Outra: o México cumpriu sua estratégia quase que com perfeição. É verdade que Ochoa fez ao menos dois milagres, mas fora isso a Holanda não teve mais tantas chances. Van Gaal apostou em Depay, Huntelaar, liberou Kuyt para atuar como ponta (e como ele cresceu jogando na sua) mas seu time não estava na iminência de marcar o gol. O México era mais competente na sua estratégia de segurar o resultado do que a Holanda na sua obrigação de empatar.

O problema é que ficar fechado e esperar o jogo acabar é arriscadíssimo, pois não permite erros. Ainda mais diante de um adversário do nível da Holanda. Na única vez que Sneijder teve liberdade para concluir, marcou um golaço, empatando o jogo aos 42. Uma ducha fria no México. E aos 47, novamente apostando nas individualidades superiores que possui, a Laranja virou o jogo, em um pênalti de Rafa Márquez em Robben. Em cinco minutos, tudo ruiu.

A Holanda ganha força com a classificação, mas precisa ter a consciência de que fez sua pior partida na Copa até agora. A equipe não se defendeu bem, teve problemas de criação e só chegou aos gols em cima da hora, na base da qualidade individual dos seus jogadores de frente. Contra equipes tecnicamente inferiores, como é o caso do México, isso pode até funcionar. Diante de equipes do mesmo nível, talvez não seja o suficiente. Uma pena para os mexicanos, que mereciam passar de fase, pela ótima atuação coletiva que tiveram no Castelão.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Oitavas de Final
29/junho/2014
HOLANDA 2 x MÉXICO 1
Local: Castelão, Fortaleza (BRA)
Árbitro: Pedro Proença (POR)
Público: 58.817
Gols: Giovani dos Santos 2, Sneijder 42 e Huntelaar (pênalti) 48 do 2º
Cartão amarelo: Márquez, Guardado e Aguilar
HOLANDA: Cillessen (6,5), De Vrij (6), Vlaar (6) e Blind (6,5); Verhaegh (5,5) (Depay, 10 do 2º - 6), De Jong (sem nota) (Martins Indi, 8 do 1º - 6), Wijnaldum (6), Sneijder (7) e Kuyt (6,5); Robben (7) e Van Persie (5,5) (Huntelaar, 30 do 2º - 6,5). Técnico: Louis van Gaal
MÉXICO: Ochoa (7,5), Rodríguez (6), Márquez (6) e Moreno (7) (Reyes, intervalo - 6,5); Aguilar (6), Salcido (6,5), Herrera (6), Guardado (6,5) e Layún (6,5); Giovani dos Santos (7,5) (Aquino, 15 do 2º - 6,5) e Peralta (6) (Hernández, 29 do 2º - 5,5). Técnico: Miguel Herrera

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