A chance de uma nova história

Nenhum dos 23 jogadores do atual elenco da Argélia era nascido quando Madjer, Zidane e Belloumi comandaram a equipe em sua marcante e histórica estreia em Copas do Mundo - aqueles 2 a 1 sobre a Alemanha Ocidental, em Gijón. Daquela partida, e da injusta eliminação na primeira fase daquele Mundial, todos apenas ouviram - e muito - falar. Pois quis o destino que a adversária argelina nas oitavas de final da Copa de 2014, a primeira em que a equipe do norte da África passa da etapa inicial, fosse justamente a Alemanha.

A Argélia terá no Beira-Rio a chance de fazer uma nova história diante dos alemães. Porém, a equipe de Vahid Halilhodzic já fez história hoje à tarde, conquistando a primeira classificação para a segunda fase em todos os tempos. E mostrou força: saiu atrás da Rússia logo no começo, mas não se abateu. Foi atrás do resultado com confiança, chegou ao empate na base da insistência e teve a raça de sempre para segurar o empate que lhe classificou e eliminou os russos.

Capello abriu mão de Dzagoev de novo, mas ao menos desta vez colocou Kerzhakov em campo. Kokorin, então, jogou um pouco recuado em relação ao que costuma, e teve boa atuação, exibindo visão de jogo e capacidade de surpreender, como no gol logo aos cinco minutos, feito após cruzamento perfeito de Kombarov. A Rússia, então, fez seu melhor tempo na Copa do Mundo, jogando fechada, mas ao mesmo tempo valorizando a posse de bola (teve 50% da posse no primeiro tempo). Marcava a Argélia com muito mais competência do que teve a Coreia do Sul, por exemplo. Os meias Shatov e Samedov fechavam pelo meio, complicando a movimentação dos três meias argelinos, o que dificultava, por sua vez, o abastecimento do matador Slimani.

A Rússia levava perigo nos contra-ataques, mas a Argélia manteve a postura corajosa, e não esmoreceu na busca pelo empate. Se por baixo era difícil vencer o bloqueio russo, a alternativa era a bola aérea - mesmo grandes, os russos tinham dificuldades em conter os forçudos Halliche, Belkalem e Slimani. Aos 14 minutos, Akinfeev cometeu sua segunda falha grave na Copa: depois do frango contra a Coreia do Sul, saiu mal e permitiu o cabeceio livre de Slimani, que empatou. Fabio Capello, então, tratou de utilizar Dzagoev na tentativa de abrir espaços na segura defesa argelina. Mas além da organização, a dedicação era impressionante.

O técnico russo, mais uma vez, pensou mal o jogo. Teve sorte de ver seu time marcar cedo e não precisar tanto de um armador, mas talvez com Dzagoev o time pudesse ter matado o jogo antes de sofrer o empate. Capello prescindiu de seus dois melhores jogadores em dois dos três jogos do Mundial, quando não podia. Paga a teimosia com uma eliminação precoce e uma campanha sem nenhuma vitória, dentro de um dos grupos mais fracos da Copa. Bom para a Argélia, que foi mesmo a segunda melhor seleção desta chave e chega às oitavas com todos os méritos. Porto Alegre já pareceu pequena domingo passado para tanta animação dos argelinos, e certamente verá cenário parecido nesta segunda.

Em tempo:
- Do elenco alemão, somente 1 dos 23 jogadores já era nascido na época daquele confronto com a Argélia: o centroavante Miroslav Klose, que tinha apenas quatro anos de idade.

Ficha técnica
Copa do Mundo 2014 - Grupo H - 3ª rodada
26/junho/2014
ARGÉLIA 1 x RÚSSIA 1
Local: Arena da Baixada, Curitiba (BRA)
Árbitro: Cuneit Çakir (TUR)
Público: 39.311
Gols: Kokorin 5 do 1º; Slimani 14 do 2º
Cartão amarelo: Mesbah, Ghilas, Cadamuro, Kozlov e Kombarov
ARGÉLIA: M'Bolhi (7), Mandi (5), Belkalem (5), Halliche (5,5) e Mesbah (5,5); Medjani (6), Bentaleb (5,5), Feghouli (6), Brahimi (6) (Yebda, 25 do 2º - 5,5) e Djabou (5,5) (Ghilas, 31 do 2º - 5,5); Slimani (7) (Soudani, 45 do 2º - sem nota). Técnico: Vahid Halilhodzic
RÚSSIA: Akinfeev (4), Kozlov (5,5), Berezutski (5,5), Ignashevich (5) e Kombarov (6,5); Glushakov (6) (Denisov, intervalo - 5,5), Faizulin (5,5), Samedov (5), Shatov (6) (Dazgoev, 21 do 2º - 5,5) e Kokorin (6,5); Kerzhakov (5,5) (Kanunnikov, 35 do 2º - sem nota). Técnico: Fabio Capello

Comentários

Chico disse…
Fracasso russo.

Capelo: muito dinheiro e pouco resultado.
Vicente Fonseca disse…
A Rússia só não decepcionou tanto porque sempre decepciona. Era de se prever que esse tipo de campanha poderia acontecer. Terão muito trabalho para não dar fazerem feio em casa, daqui a quatro anos.