San Lorenzo: apostando tudo na Libertadores

Por Marcos Bernaola*

O Grêmio está em Buenos Aires para o primeiro jogo das oitavas de final da Copa Libertadores. Os gaúchos têm razões para tomarem cuidado com o San Lorenzo, mas o time argentino também tem problemas para resolver.

O Tricolor Gaúcho chega para a partida mais importante do ano até agora golpeado por uma derrota no clássico e outra na estreia do Brasileirão. Mas o seu adversário também não está no seu melhor momento. O San Lorenzo conseguiu se classificar quase que por milagre, no final do jogo contra o Botafogo. A torcida explodiu de alegria, mas o rendimento não foi o mesmo do time campeão argentino do ano passado. Tentando emular o sábio dono deste blog, farei minha análise do Ciclón para o jogo de hoje à noite.

O CAMINHO
O San Lorenzo iniciou seu eterno sonho de ganhar a Libertadores com um jogo difícil no Rio. O Botafogo venceu por 2 a 0 e parece ter feito os torcedores cuervos despertarem para a realidade. Porém, o time se recuperou e conseguiu um triunfo em casa, frente aos equatorianos do Independiente del Valle. Com esperanças renovadas, a equipe voltou a decepcionar e não conseguiu vencer um jogo em que saiu à frente, diante dos chilenos da Unión Española. A situação era complexa.

A seguir, o Ciclón foi ao Chile e fez seu pior jogo na Copa. A partida acabou em derrota e expulsões para o time de Edgardo Bauza. Mais dramática ainda foi a visita ao Equador, onde ao menos o time empatou e seguiu vivo. Animado com a boa campanha no Campeonato Argentino, renasceu diante do Botafogo, aproveitando o mau momento dos cariocas e conseguindo o milagre de passar às oitavas de final.

DESTAQUES
Como os flashes das fotografias incidem sobre os artilheiros, o craque da equipe é Ignacio Piatti. Meia criativo, ele despontou no Chacarita, passou pelo futebol francês, retornou para jogar no Gimnasia e no Independiente e voltou à Europa para atuar no italiano Lecce. Retornou ao futebol argentino para defender o San Lorenzo em 2012, mas não conseguiu ainda recuperar o alto nível, devido a várias lesões. É um jogador rápido e habilidoso com a bola. Tem 18 gols e 6 assistências em 63 jogos pelo San Lorenzo.

PONTOS FORTES
Sem dúvida, muita gente falará do ataque veloz, com jogadores dribladores e rápidos. Mas quem acompanha o futebol argentino sabe que é o meio-campo do San Lorenzo que precisa ser respeitado. Juan Mercier (ex-Argentinos Juniors e futebol árabe) é um dos melhores ladrões de bola atualmente na Argentina. Para ele, não existe bola perdida. A seu lado está o paraguaio Néstor Ortigoza (ex-Argentinos, Nueva Chicago, Emirates Club e integrante do Paraguai na Copa de 2010), que é conhecido pela boa técnica na troca de passes, tanto curtos como de longa distância. Além deles, compõem o setor o ofensivo e rápido Hector Villalba, e o já mencionado Ignacio Piatti.

PONTOS FRACOS
Dizer que a sorte não ajuda é pouco sério, mas o alto número de jogadores machucados é um terrível adversário deste San Lorenzo. Nicolás Blandi, que veio para atuar no lugar do também lesionado uruguaio Martín Cauteruccio (machucou-se gravemente em setembro), está fora de combate diante do Grêmio. O comando do ataque será ocupado por Mauro Matos, artilheiro de pouca trajetória no pequeno All Boys, clube que subiu rapidamente da terceira para a primeira divisão argentina graças a ele, em boa medida. É um jogador lento, mas eficiente. Outro jogador sem velocidade no setor ofensivo é o experiente Leandro Romagnoli, de modo que o time fica dependente dos arranques do jovem craque Ángel Correa.

A HISTÓRIA
A pressão da torcida para que o San Lorenzo ganhe a Copa Libertadores não vem apenas por conta da falta deste título na galeria de troféus do clube, mas pelas piadas dos rivais, que dizem que a sigla CASLA (Club Atlético San Lorenzo de Almagro) significa, na verdade, Club Argentino Sin Libertadores de América. O Ciclón chegou às semifinais da Copa três vezes: na sua primeira participação, em 1960 (o San Lorenzo foi o primeiro clube argentino a disputar o torneio), quando perdeu para o campeão Peñarol, em 1973 e 1988. Ao todo foram 12 participações. O clube tem uma dívida em torneios continentais com sua torcida, que só comemorou até hoje a Copa Mercosul de 2001 e a Copa Sul-Americana de 2002.

O Grêmio conhece melhor este tipo de jogo e, se conseguir um bom resultado em Buenos Aires, tornará difíceis as chances para o San Lorenzo de reverter o placar fora da Argentina. O Ciclón deve entrar em campo hoje com Sebastián Torrico; Julio Buffarini, Carlos Valdés, Santiago Gentiletti e Emmanuel Más; Juan Mercier, Néstor Ortigoza, Hector Villalba e Ignacio Piatti; Ángel Correa e Mauro Matos. O técnico é Edgardo Bauza, o mesmo que comandou a LDU campeã de 2008, equipe que eliminou o San Lorenzo nas quartas de final daquela edição da Libertadores.

* Colunista especial, escreve semanalmente sobre futebol argentino para o Carta.

Comentários

Vicente Fonseca disse…
Sábio é bondade tua, rapaz.

Interessante que aqui a gente fala que o Grêmio anda cambaleante, e pressionado pela falta de títulos de expressão. Porém, no San Lorenzo o clima é parecido: o time vem trôpego em 2014 e o peso de nunca ter vencido a Libertadores é talvez maior que o do jejum de grandes taças do Grêmio.

É sempre bom olhar pro outro lado, também.