A pressão por resultados no futebol argentino

Por Marcos Bernaola*

Torneios curtos, o uso de médias de pontos para definir quem é rebaixado, participações internacionais com equipes limitadas e calendário apertado. São os riscos que os clubes assumem na Argentina. Fica difícil apostar em projetos a longo prazo, afinal, são necessários resultados imediatos para evitar o pior.

Colón de Santa Fé. Um time regular, com objetivos sempre altos, de brigar por um campeonato que não tem conseguido. O clube não gasta demais, administra bem seus recursos e consegue disputar, por vezes, uma competição internacional. Um exemplo de instituição.

Porém, de repente, a equipe perde o rumo e a crise se instala. Chegam incontáveis dívidas com treinadores e jogadores. Da disputa na Copa Sul-Americana e briga pelo título nacional, o time passa a ser o último colocado no Campeonato Argentino. Com tantas derrotas, a situação chega ao limite, e o rebaixamento passa a ser uma possibilidade real. Então, com a água no pescoço, um grupo muda tudo. O time renasce e, com a obrigação quase que de ser campeão para não cair devido ao baixo promedio, o Colón vira um dos protagonistas do Torneo Final. Tudo pela pressão do rebaixamento e de sua torcida.

A situação atinge outros clubes médios. Quilmes, Argentinos, Godoy Cruz... Todos estão envolvidos na luta para seguir na primeira divisão. O terror do rebaixamento não é só dos torcedores e das brincadeiras que vão sofrer dos rivais: é pela dificuldade de retornar à elite e, mais, pelo dinheiro que o clube perderá dos direitos de TV, patrocínio, entre outros tantos. Os dois primeiros, desesperados por seu mau desempenho, tentam um milagre. O Godoy Cruz, após algumas participações na Libertadores, está agora pagando pelo sucesso recente, e é outro que precisa lutar pela liderança se quiser sobreviver.

Mas e os grandes, como lidam com essa pressão? O River Plate, recém egresso da segunda divisão, gasta muito dinheiro para conquistar um título que apague este passado recente tão ruim. A situação, porém, não é fácil: jogadores caros, como Cavenaghi e o paraguaio Jonathan Fabbro, não garantem um time competitivo na prática. Mas o campeonato o curto, o dinheiro foi gasto e a galera quer vitórias. O Boca Juniors não está muito diferente. Tem no comando o treinador mais bem sucedido de sua história, Carlos Bianchi, e ainda aposta em Riquelme como referência. É um time com bons jogadores, mas também com limitações em todos os setores. Além disso, os dois principais clubes de Buenos Aires (e, sim, do país também) há tempo não levantam o título argentino nem jogam competições internacionais, uma dívida seguidamente cobrada por suas torcidas. Isso sem falar no Independiente, que sofre além da conta na Série B.

Os resultados é que mandam. Se não vencer, o clube não apenas deixa de ser campeão, mas também passa a correr riscos embaixo da tabela. Os promedios tentam ajudar, mas às vezes só ajudam a tornar o final mais agônico. Os projetos não duram, os treinadores menos ainda. Há exceções, mas ainda assim elas recebem críticas. É o caso do Vélez, que mantém sua base e seu estilo de jogo, e consegue títulos nacionais, mas os fracassos continentais irritam um pouco. O Belgrano há anos mantém sua base para tentar brigar na ponta de cima, mas não consegue. Manter estruturas não é difícil apenas por causa dos vaivéns econômicos do país, mas também pelo desespero dos torcedores e da imprensa, ambos ávidos por vitórias. Até o Newell's, que saiu do buraco quando a situação era muito difícil, cresceu através da pressão recebeu, mas agora sofre a pressão novamente por não se manter brigando por títulos.

Os resultados e o desespero seguem decidindo os destinos dos times argentinos. Necessidades imediatas fazem com que ninguém invista ou aposte em jovens jogadores ou treinadores sem trajetória. Dessa forma, é difícil o futebol melhorar e as equipes manterem uma base. Uma mudança nas pretensões e nas estruturas dramáticas dos campeonatos são possibilidades para diminuir a pressão dos clubes de ganhar ou ganhar quase sempre.

* Colunista especial, escreve semanalmente sobre futebol argentino para o Carta.

Comentários

Diogo Terra disse…
Pior é que sequer há sinal de mudança na fórmula - inventada, aliás, para aplacar a choradeira dos times pequenos, que os grandes ganhavam tudo, que a arbitragem sempre ajudava (e AJUDA)...