Quem precisa de gols?

Os aplausos da Arena ao fim de Grêmio e Newell's Old Boys foram principalmente para o bom segundo tempo do time de Enderson Moreira, mas podem ser, também, para o alto nível da partida. Nem todo 0 a 0 é chato, e o jogo de ontem à noite se encaixa exatamente nisso. Dois dos candidatos ao título sul-americano da temporada fizeram um jogo de pouco chutão, muitas alternativas táticas, duelos técnicos interessantíssimos. Só faltou, mesmo, o gol.

O primeiro tempo foi argentino, principalmente porque foi equilibrado. O duelo tático foi maravilhoso, com ambos os times tentando encurtar o campo através de uma marcação-pressão, tornando o jogo muito intenso, apesar das raras chances de gol. O Newell's cumpriu o que prometeu: tratou de encarar o Grêmio e valorizar a posse de bola, postura completamente diferente da que apresentou em Medellín contra o Atlético Nacional. A posse argentina não foi produtiva, mas serviu para impedir o Grêmio de jogar. O Tricolor não conseguiu impor sua pressão habitual na saída de bola na etapa inicial: quem fez isso foi a equipe de Rosário, que só não se aproveitou deste fato porque errou passes demais, tanto defensivamente quanto no ataque.

Grêmio e Newell's fizeram um duelo tático de alto nível na Arena
Raramente se viu qualquer um dos times tentar a ligação direta, mesmo com a saída de bola marcada, prova de que foi uma partida muito bem jogada. As raras tentativas neste modo vieram com Heinze, que errou algumas invertidas de forma comprometedora e surpreendente para quem tem tanta categoria e experiência. Maxi Rodríguez recuava de seu papel de atacante e tentava armar o jogo junto ao volante Villalba, este um dos melhores do time visitante. Na prática, o Newell's atuou num 4-1-4-1 que se fechava muito bem, fechando os espaços gremistas. Luan era sempre acossado por ao menos dois marcadores a cada tentativa. Ganhava algumas, devido à sua imensa qualidade, mas na maior parte das vezes era controlado.

O Grêmio precisava mudar de atitude no segundo tempo, se impor ao Newell's, jogá-lo contra seu campo de defesa. De fato o time de Enderson Moreira voltou mais aceso, mas foi a partir da entrada de Dudu que a pressão veio de vez. Dudu não apenas foi incisivo como sempre com a bola nos pés, mas também auxiliou com vigor a marcação adiantada, que prendeu os argentinos em seu próprio campo. Com Alán Ruiz no lugar de Zé Roberto, as chances se multiplicaram. Em poucos minutos, o Grêmio tornou o goleiro Guzmán o melhor jogador da partida. Barcos, como diante do Atlético Nacional, perdeu um gol imperdível após jogada maravilhosa de Ruiz. Contra os colombianos não fez falta, mas ontem sim.

O empate não foi o placar ideal porque o Grêmio terá agora seus dois compromissos mais complicados, visitando Newell's e Atlético Nacional em sequência, com uma vantagem razoável de 3 pontos sobre ambos. Porém, a vitória em Montevidéu dá ao Tricolor um trunfo que até hoje ninguém conseguiu obter neste grupo, que é ganhar fora de casa. Uma vitória encaminharia a classificação; o empate mantém o Tricolor em vantagem, mas não o faz disparar. Uma derrota em Rosário tira o Grêmio da liderança pelo saldo.

Na Argentina, a postura ideal para o Grêmio é a mesma de Montevidéu ou a que o Newell's aplicou no primeiro tempo de ontem: encarar o adversário de igual para igual, com naturalidade, sem se submeter a pressões. Será difícil, pois a equipe argentina costuma aplicar um estilo extremamente intenso em Rosário, mas o Tricolor tem condições. Afinal, é sim um dos candidatos ao título, bem como o Newell's. Só podia mesmo haver aplausos após o jogaço de ontem, apesar do frustrante 0 a 0.

Uma rodada argentina
O grande beneficiado da 3ª rodada no grupo da morte foi o Newell's. Provavelmente ninguém tirará pontos do Grêmio na Arena, e este trunfo a equipe de Alfredo Berti conquistou. O tropeço do Atlético Nacional em casa também foi fundamental. Ambos estão empatados com 4 pontos, mas os colombianos jogam só uma vez em casa, e o duelo direto será em Rosário.

Complicou?
Não. O Grêmio segue em situação relativamente confortável no Grupo 6. Supondo que perca seus dois jogos fora de casa, a única situação realmente complicada ocorrerá se, além de vencerem o time gaúcho, Newell's e Atlético Nacional consigam vencer o Nacional uruguaio em Montevidéu. Aí, ambos entrariam na última rodada com 10, contra 7 do Tricolor, e poderiam arranjar um empate amigo em Rosário para eliminar o time de Enderson Moreira. A situação ainda é boa para o time gaúcho. E torcer para o Nacional-URU é dever de casa gremista, ao menos na próxima rodada.

O único vitorioso
O único brasileiro que ganhou nesta semana foi o Atlético Paranaense, e foi um grande resultado. O 1 a 0 em Lima sobre o Universitário alça o Furacão à liderança compartilhada do Grupo 1, com dois jogos ainda por fazer dentro de casa. Neste momento, o Atlético Paranaense, o Grêmio e o Atlético Mineiro são os três times brasileiros mais próximos da classificação.

Comentários

Chico disse…
O time jogou bem, principalmente no 2º tempo. Faltou sorte pra fazer o golo da vitória.
Franke disse…
Que jogo. Hoje ouvi comentário do Pedro Ernesto de que o primeiro tempo foi chatíssimo. Não consigo entender essa visão. Apesar da falta de chance de gol, foi uma etapa eximiamente disputada, sobretudo em termos táticos. E no segundo conseguimos algo que, talvez mais que vitória, me deixa orgulhoso: reagir bem a uma situação difícil. Isso é muito mérito do treinador, e isso me parece que é o grande trunfo do jogo de ontem, e talvez de toda essa primeira fase: sabemos que temos um cara racional e inteligente no banco.
Franke disse…
De resto, fico sempre impressionado com o toque de bola dos argentinos. Que coisa espetacular. Esse time do Newells é muito, muito bom. Coisa que só qualifica a boa atuação (e reação) do Grêmio ontem. Deu gosto de ver.
Vicente Fonseca disse…
Jogaço mesmo, Franke. O primeiro tempo só foi chato pra quem acha que é futebol é só bola dentro da área e não tem profundidade de ver que taticamente foi um duelo espetacular.

Eu tinha a impressão de que o Atlético Nacional era o maior rival do Grêmio quando saiu o sorteio, reforcei minha opinião quando ganharam (bem) do Newell's, mas revi meus conceitos ontem. O Newell's segue sendo o mesmo timaço do ano passado. Ontem vimos dois candidatos ao título da Libertadores em campo.

O trabalho do Enderson Moreira é ótimo até agora. A capacidade de leitura dele é enorme, e ontem deu pra ver que pensa grande: jogo difícil, mas mesmo assim abriu o time em busca da vitória no segundo tempo, sem medo de ser feliz. Quase deu certo, e é assim mesmo que tem que ser time que quer ser campeão.