Um bom parâmetro



Se a vitória contra o fraco Deportivo Quito não era exatamente um parâmetro para sabermos melhor a força do Botafogo, o jogo de ontem deixou claro que a equipe carioca pode ir longe nesta Libertadores. A vitória por 2 a 0 sobre o San Lorenzo, campeão argentino, mostrou um time com algumas deficiências defensivas, mas com boa criatividade, força ofensiva, velocidade e consistência tática.

O placar talvez não reflita bem o equilíbrio do jogo. Botafogo e San Lorenzo produziram parecido, mas o time carioca foi bem mais eficiente. Pelo fato de jogar fora de casa, esperava-se que os argentinos viessem num 4-5-1 com três volantes, mas desde o início se percebia que Piatti atuava um pouco mais recuado que Correa e Blandi, os dois atacantes. As tramas, porém, eram todas pelo lado esquerdo de ataque, onde marcava Edílson, um lateral mais consistente que Júlio César em relação ao cumprimento de tarefas defensivas. Se houvesse alternância pela direita, o time de Buenos Aires poderia ter criado mais perigo.

O Botafogo passou trabalho atrás. No primeiro tempo, Marcelo Mattos e Gabriel não protegiam tanto a zaga, que ficava exposta ao mano-a-mano. Dória teve atuação desastrosa, que só não foi mais comprometedora porque os atacantes adversários não foram felizes nas conclusões. Mas isso são os problemas, pois virtudes houve várias. Lodeiro, mais uma vez, abriu a defesa através de ótimas jogadas individuais. Embora às vezes peque pelo individualismo, faz um ótimo começo de temporada. Foi dele o passe que iniciou a jogada do primeiro gol, em chute longo de Jorge Wagner que Torrico não segurou e Ferreyra aproveitou.

Ferreyra, aliás, se recuperou perante a torcida. Antes mesmo de marcar o gol, já havia participado de uma ótima tabela com Lodeiro, que quase resultou em gol do uruguaio. Minutos depois, fez o mesmo com Gabriel. Como nos tempos de Olímpia, fez bem o pivô e foi importante na construção de jogadas do ataque. Além dele, Jorge Wagner é outro que foi bem, assumindo o papel de centralizador das ações do meio com sua vasta experiência em Libertadores.

O gol carioca acordou o San Lorenzo, e melhorou defensivamente o próprio Botafogo. Postado, o time de Eduardo Hungaro se defendeu melhor com a cobertura mais cuidadosa dos volantes. Ainda assim, erros individuais, especialmente de Dória, comprometiam o trabalho. O primeiro tempo acabou na hora certa, com pressão argentina, mas no segundo o panorama voltou o mesmo - porém, com o time da casa mais bem organizado. Tranquilidade, mesmo, só a partir do golaço de Wallyson, que vinha um tanto apagado, mas mais uma vez decidiu o jogo. A partida caiu de ritmo, e as mexidas erradas de Edgardo Bauza, tirando Blandi e Kalinski, que iam bem, facilitou a administração do resultado.

É claro que houve problemas, mas é preciso lembrar que o Botafogo enfrentou o campeão argentino, time forte, um dos candidatos ao título da Libertadores. Os erros cometidos foram muito mais individuais que coletivos, o que sugere que a boa organização da equipe prevaleceu na construção da vitória. Se é cedo para se empolgar, o torcedor botafoguense tem toda a razão de estar animado e feliz. Até porque, neste grupo complicado, era importantíssimo começar com vitória em casa justamente diante do adversário mais poderoso dos três.

Magros três pontos
Vitória é sempre vitória, ainda mais em Libertadores, ainda mais fora de casa. Mas o magro 1 a 0 do Atlético Mineiro sobre o Zamora, na Venezuela, sugerem uma equipe que ainda busca se recompor, que ainda lambe as feridas do fiasco no Marrocos. No auge, em 2013, o Galo provavelmente golearia seu adversário de ontem, como fez, por exemplo, naqueles históricos 5 a 2 sobre o Arsenal de Sarandí. Se o bi é o objetivo, ainda há muito o que evoluir. Por sorte, o grupo é fraco.

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