Ronaldo, é claro

Não peguntamos ontem aqui quem jogava mais, se Cristiano Ronaldo ou Ibrahimovic. Nem a diferença técnica entre o português e o sueco é tão grande a ponto de motivar uma manchete como a do Jornal da Tarde, de 1979, que primeiro havia perguntado "Falcão ou Mococa?", para no dia seguinte, com grande atuação do craque na vitória do Inter sobre o Palmeiras, fora de casa, por 3 a 2, responder "Falcão, é claro". Mas as coincidências são tão grandes que a brincadeira chega a ser óbvia: Portugal bateu a Suécia fora de casa, pelos mesmos 3 a 2, com grande atuação do seu craque. E por semanas se perguntou quem se daria melhor, Ronaldo ou Ibra.

Ronaldo, é claro. Ninguém no mundo jogou mais que ele em 2013. Neymar fez uma esplêndida Copa das Confederações, Ribery levou o Bayern ao título europeu, Ibrahimovic joga como nunca em Paris, mas o camisa 7 português é uma máquina de fazer gols e decidir jogos. Contrariando uma lógica de craques precoces que vivenciamos nos últimos anos, que reduziu a idade do auge do jogador de alto nível para 23 ou 24 anos, aos 28 ele parece jogar como nunca. A atuação nesta fase decisiva das eliminatórias foi a cereja do bolo.

Em Lisboa, já havia sido dele o gol da vitória por 1 a 0, que encaminhou a vaga. Ontem, a atuação de gala, especialmente no eletrizante segundo tempo em Estocolmo. Fez o gol que praticamente colocava Portugal na Copa, até que Ibrahimovic começou a dar as caras. Em quatro minutos, o craque sueco fez dois gols, um de cabeça e outro de falta, deixando a Suécia a um golzinho da Copa. No momento mais difícil, Ronaldo devolveu e fez outros dois, mostrando potência, força física, um poder de se desmarcar inigualável, velocidade, qualidade técnica e precisão cirúrgica nos arremates. Um jogador completo, o melhor do planeta na atualidade.

Entre dois times médios e parelhos, a diferença foi mesmo a dos craques. Foram deles os seis gols dos dois jogos do confronto. Cristiano Ronaldo decidiu mais que Ibrahimovic, e por isso Portugal está na Copa do Mundo. Ibra talvez tenha perdido sua última chance de disputar uma Copa. Jogador deslumbrante, mas só disputou um Mundial, em 2006, na Alemanha. Aos 32 anos, dificilmente chegará a 2018 em condições de liderar a Suécia para jogar na Copa da Rússia. A não ser que tenha ajuda de companheiros mais qualificados que os de agora.

E deu França
A França, desta vez, ao contrário de 2010, obteve uma classificação sanguínea e merecida diante da Ucrânia. Devolveu a derrota de 2 a 0 com um 3 a 0 num Saint-Dennis lindo, cheio de bandeiras, que não jogava tão junto da equipe desde a Copa de 1998. E nada de ajuda da arbitragem: se Benzema fez um gol em impedimento, teve outro anulado quando estava em condição legal.

É uma pena para o futebol ucraniano, seria um feito e tanto. Mas faz bem para a Copa do Mundo reunir todos os seus oito campeões mundiais. É uma pena só que, a exemplo de outras seleções como a Alemanha, o uniforme todo em azul descaracterize completamente a seleção francesa. Não é nada bonito e ainda afronta uma tradição secular. Já pensou o Brasil todo de amarelo ou o Uruguai todo de celeste?

Grécia, Croácia, México, Argélia, Gana. E hoje, o Uruguai
Nada de zebras nos demais jogos. Na África, Gana e Argélia superaram Egito e Burkina Faso e voltam à Copa. A Grécia jogou melhor que a Romênia e está na Copa ao segurar o 1 a 1 em Bucareste. O sonho islandês esbarrou no melhor time croata: 2 a 0, e mais um Mundial para a seleção dos balcãs. E o México, enfim, parece ter se encontrado: depois de fazer 5 a 1 na Nova Zelândia em casa, aplicou 4 a 2 fora. Nove gols em uma das melhores defesas da última Copa. Hoje, é a vez de o Uruguai, como em 2002 e 2010, ser a última seleção a carimbar definitivamente sua vaga no Mundial. O jogo no Centenário é protocolar, após os 5 a 0 sobre a Jordânia em Amã.

Um velho conhecido de volta
Talvez Robinho esteja para a seleção de 2014 como estavam Edílson e Denílson para a de 2002, na cabeça de Felipão: o jogador que está entre os 23 mais para animar o grupo que pela bola que vem jogando em si. No Milan, ele vive anos discretos. Mas ontem possivelmente carimbou sua vaga na Copa ao fazer o gol da difícil vitória do Brasil sobre a ótima seleção do Chile. Seja quem for convocado, a seleção brasileira está muito bem. Termina 2013 como uma das melhores, senão melhor, seleções do mundo. Cenário bem mais animador que nos tempos de Mano Menezes.

Final rubro-negra
Quem também vive melhor momento sem Mano é o Flamengo, que decide a Copa do Brasil contra um Atlético Paranaense melhor formado como equipe, com campanha bem superior ao longo da temporada, mas sem tanta tradição no torneio. Segurando a pressão hoje na Vila Capanema, os cariocas podem encaminhar o título. Mas atenção: no jogo que derrubou Mano, o Furacão varreu o Maracanã com impiedosos 4 a 2. Pela característica dos times, espero uma final até mais aberta do que de costume. A ver.

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- Vamos brincar de sorteio da Copa?