A força de quem chega



A classificação do Grêmio teve todos os ingredientes dramáticos das melhores conquistas. Tem o herói (Dida), o vilão (Alexandre Pato), o drama (dois erros nas primeiras cobranças de pênalti), o apoio de uma inflamada torcida mas, acima de tudo, uma enorme demonstração de força. Porque por pior que esteja o Corinthians, é o atual campeão do mundo, cheio de estrelas, de nomes acostumados a decisões e grandes títulos. Quem elimina um time desses ganha força para chegar. O Grêmio conseguiu, e está chegando, já entre os quatro melhores da Copa do Brasil.

O jogo teve a cara que todos esperávamos. Apostei no palpitazo do Carta na Mesa justamente no que ocorreu: 0 a 0 e vitória gremista nos pênaltis, já que Dida estaria nas cobranças, e Cássio não. Não estou querendo me vangloriar, afinal, não era algo difícil de prever. Com a chuva que assolou Porto Alegre, talvez o melhor fosse o adiamento do jogo - mais por questões de chegada de público, já que a cidade se transformou num caos, embora o gramado da Arena tenha apresentado ótimas condições, propícias para o jogo.
1º TEMPO: Corinthians fechado, no 4-3-2-1, espera o Grêmio no seu 4-3-3
Mesmo sem temporal, era jogo para 0 a 0. O Grêmio, como era de se supor, tomou a iniciativa. E criou um número até razoável de chances, mas somente porque teve muito volume de jogo, quase que o tempo todo. Postou-se no campo corintiano e foi acossado rarissimamente, apenas três vezes - chutes longos de Fábio Santos e Douglas no primeiro tempo e uma falta perigosa levantada por Emerson no segundo. Tite escolheu Edenílson em vez de Renato Augusto, dado o pouco ritmo de jogo deste. Priorizou a marcação, mas seu time penou em termos criativos.

No Grêmio, a dinâmica de sempre. Ramiro, Souza e Riveros desdobravam-se para ganhar as divididas, e na maioria das vezes conseguiam. Barcos esteve bem, com explosão, assim como Kleber, mas Vargas foi uma decepção: perdeu dois gols feitos e ainda foi expulso, prejudicando o time para a partida da semana que vem. O Tricolor teve dificuldades para criar, mas dentro da normalidade que é ter problemas para chegar ao gol do Corinthians. Poderia ter vencido o jogo, e até o fez por merecer, mas faltou competência para definir, embora tenha sobrado segurança lá atrás.

Tite tentou mudar o jogo no segundo tempo, mas Danilo não trouxe vantagem em relação ao que rendia Douglas. Emerson entrou bem, com o propósito de marcar forte a saída de bola gremista e fazer o Corinthians ficar próximo do gol nos 15 minutos finais. O time de Renato, no entanto, ocupou bem o meio, ganhou em qualidade com a entrada tardia de Elano e esteve mais próximo de marcar do que de sofrer o tento. Mas tudo se arrastou para o drama dos pênaltis.
2º TEMPO: Tite monta um 4-3-3 para tentar pressionar a saída do Grêmio
Parecia que, mais uma vez, não daria. Barcos e Alex Telles erraram as duas primeiras cobranças, mas Dida, aquele que era tão criticado por não pegar pênaltis, deixou para defender três batidas corintianas. A última, de Pato, foi antológica, dado seu simbolismo: a displicência de um rapaz mimado e pouco competitivo diante de um goleiro frio e sóbrio e de um estádio repleto de torcedores malucos para ver seu time do coração ganhar um título de expressão após tanto tempo. Só podia dar Grêmio.

O Grêmio não ganhou nada, mas a classificação lhe dá força. Dos cinco times que sobraram, o de Renato Portaluppi é certamente o que tem melhor material humano e está coletivamente melhor, especialmente pelo Brasileirão que faz. Aliando isso à tradição gremista na Copa do Brasil, é tentador apontar o Tricolor como o favorito ao título, mas isso se dissolve de cara: quarta que vem, não haverá nenhum atacante titular à disposição (Kleber, Barcos e Vargas estão suspensos), e o jogo é na Vila Capanema, contra o forte Atlético-PR de Vagner Mancini. Mas, como costuma dizer Renato, a hora não é de pensar nisso. A hora é de curtir a classificação, que foi sofrida. E, diante do Corinthians, não é nunca uma classificação qualquer.

Copa do Brasil 2013 - Quartas de final - Jogo de volta
23/outubro/2013
GRÊMIO 0 x CORINTHIANS 0
Nos pênaltis: Grêmio 3 x Corinthians 2
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Paulo Henrique Bezerra (SC)
Público: 35.684
Renda: R$ 1.820.728,00
Cartão amarelo: Kleber, Barcos, Pato, Ralf e Edenílson
Expulsão: Vargas e Emerson 42 do 2º
GRÊMIO: Dida (9), Pará (6), Rhodolfo (6), Bressan (6) e Alex Telles (4,5); Souza (6), Ramiro (6,5) e Riveros (6) (Elano, 43 do 2º - 6); Kleber (6,5), Barcos (6) e Vargas (4). Técnico: Renato Portaluppi (6,5)
Cobranças: Barcos (defendido), Alex Telles (trave), Pará (gol), Elano (gol) e Kleber (gol)
CORINTHIANS: Walter (7), Alessandro (6), Gil (6,5), Paulo André (6) e Fábio Santos (5,5) (Igor, 7 do 2º - 5); Ralf (6), Guilherme (5,5) (Emerson, 26 do 2º - 4), Edenílson (4,5), Douglas (5) (Danilo, 22 do 2º - 4,5) e Romarinho (4,5); Pato (3). Técnico: Tite (5,5)
Cobranças: Danilo (defendido), Romarinho (gol), Edenílson (defendido), Alessandro (gol) e Pato (defendido)

Comentários

Chico disse…
E o cúrinthians pagou o pato.

Dida monstro!

Portaluppi: eu já sabia
André Kruse disse…
Posso estar enganado, mas me parece que a dúvida do Tite era entre Edenilson e Renato Augusto. E ele optou pelo primeiro para fechar a saída do Alex Telles.

Eu não achei que aquela bola que o Vargas chutou para fora no 1º tempo era um "gol feito". Lance rapido, com o defensor em cima dele.
Vicente Fonseca disse…
É verdade, André, eu troquei as bolas ali no texto. Era sim o Edenílson.

O lance do Vargas eu acho indesculpável para um jogador que vem para decidir justamente neste tipo de jogo e de situação. Mas existe mesmo esse atenuante da zaga ali fungando no cangote dele.