Perdido



Os maus resultados já fizeram Dunga perder a linha de raciocínio sobre a ideia de time que tem na cabeça para montar o Internacional. Antes era possível percebê-la: D'Alessandro, Leandro Damião e Forlán eram titulares, existia uma espinha dorsal formada, a equipe jogava com dois atacantes, Gabriel e Fabrício eram laterais que apoiavam. Tudo, exceto D'Ale, foi revogado em virtude das derrotas recentes - algumas coisas até com justiça. Contra o Cruzeiro, vimos em campo um time sem referência, que nunca jogou junto, atendendo ao apelo de muitos de formar um time cheio de guris, já que eles entravam bem no decorrer dos confrontos. Não funcionou de novo. E mais uma derrota.

Leandro Damião vem fazendo por merecer a reserva há algum tempo, e aquela lambreta fora de hora dentro da área, quando o negócio era simplificar e chutar para o gol, deixa isso muito claro. Normalmente o time melhora quando ele sai, e neste domingo piorou após sua entrada. Mas ontem, com a lesão de Scocco, era jogo para ele começar. Quem garante que ele não poderia crescer de rendimento tendo em Caio e Otávio parceiros para auxiliá-lo lá na frente? Poderia funcionar melhor que formar uma chegada de trás com Alan Patrick, que se mostrou completamente apagado. Colocar Caio isolado no ataque, de costas para a zaga, foi outro erro crasso. O Inter foi um time leve, ao contrário do que vinha sendo com Forlán, Damião ou Scocco. Mas ficou leve demais, além da conta. Não poderia funcionar.
1º TEMPO: Inter num 4-2-3-1 sem referência, Cruzeiro em seu tradicional 4-3-3 que reverte para o 4-5-1
Ao menos, a equipe mostrou certa compactação no meio, no primeiro tempo. Embora o Cruzeiro tenha ido melhor, por ser um time mais organizado, experiente e consciente, viu-se um meio-campo vestindo vermelho ontem, que saía de trás e avançava de forma coordenada. Faltou, mesmo, foi poder de fogo. Exceto uma ou duas chegadas mais perigosas, às vezes por erros do inseguro Dedé, o que mais o Colorado teve de chances foram chutes de fora da área, especialmente de Josimar. De resto, poucas chegadas claras. O time mineiro não fez muita força para chegar ao 2 a 1, e poderia ter ampliado no segundo tempo - aí já com Damião em campo.

A superioridade do Cruzeiro na etapa final se deu também porque Dunga abriu seu time. Retirou Josimar e colocou Damião em seu lugar, despovoando seu meio de campo. Jorge Henrique, que vinha bem atuando na sua, como meia-atacante, foi obrigado a recuar demais para ajudar Willians na contenção - algo bem parecido com o jogo da última quinta, contra o Atlético-PR. Marcelo Oliveira, ao contrário, retirou Dagoberto e colocou Alisson, jogador que recompõe a linha do meio bem mais que o ex-colorado, transformando seu time num 4-4-2. Pela direita, Alisson e Mayke fizeram boas tramas e ainda barraram os avanços de Fabrício.
2º TEMPO: Dunga abre o time, Marcelo Oliveira povoa o meio e Cruzeiro controla o jogo
Quanto ao Cruzeiro, nem há muito o que comentar, todos sabemos de suas qualidades. Ontem, com Everton Ribeiro jogando abaixo do que costuma, Dagoberto foi peça fundamental antes da construção do resultado. Ele e Willian fazem com perfeição a função dos pontas no 4-5-1 moderno, atacando com a bola e voltando sem ela. Não jogam de costas para a zaga e abastecem Borges o tempo todo - fora as chegadas de Nílton e Henrique. O time ainda melhorou com Mayke na lateral, sempre um apoio qualificado, e dominou o segundo tempo. Abre a maior vantagem da história dos pontos corridos, 11 pontos. Só uma catástrofe o tirará este tão categórico e superior título brasileiro de 2013.

Para o Inter, um jogo com cara de fim de ciclo. Fim de um ciclo mal sucedido em Novo Hamburgo, cujo aproveitamento colorado no Brasileirão foi de 29,2%, uma vitória em oito jogos; fim de um ciclo de tentativa de chegar na Libertadores; e fim de ciclo para Dunga, que até permanece por mais alguns dias, pelo menos, mas que não consegue dar sequência ao trabalho e parece cada vez mais longe de uma continuidade no Beira-Rio. Talvez o negócio de agora em diante seja usar o Brasileirão como laboratório para achar, nas próximas semanas, uma formação capaz de encarar o Atlético-PR em Curitiba. Porque G-4, sinceramente, ficou inviável - a menos que o time passe a fazer tudo o que não conseguiu até agora: se defender com consistência, jogar compactado, contar com atacantes efetivos e jogar bem dentro e fora de casa.

Em tempo:
- Em sua sequência mais dura no returno, o Cruzeiro conquistou 13 pontos em 15 disputados contra Goiás, Atlético-PR, Botafogo, Corinthians e Internacional, com três destes cinco jogos fora de casa. Nos últimos dez jogos, foram nove vitórias e um empate, 28 de 30 pontos ganhos, 93,3% de aproveitamento. Nunca se viu tamanha superioridade, talvez, na história do Brasileirão. O time não é individualmente brilhante, mas seu técnico Marcelo Oliveira faz um trabalho histórico.

Campeonato Brasileiro 2013 - 24ª rodada
29/setembro/2013
INTERNACIONAL 1 x CRUZEIRO 2
Local: Estádio do Vale, Novo Hamburgo (RS)
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (GO)
Público: 6.219
Renda: R$ 161.600,00
Gols: Nílton 4 e Otávio 5 do 1º; Willian 8 do 2º
Cartão amarelo: Josimar, Caio, Egídio, Dagoberto e Alisson
INTERNACIONAL: Muriel (5), Gabriel (4,5), Ronaldo Alves (4,5), Juan (6) e Kleber (6) (Fabrício, intervalo - 4,5); Willians (5,5), Josimar (5,5) (Leandro Damião, 17 do 2º - 4,5), Alan Patrick (4,5) (Alex, 28 do 2º - 4,5), Otávio (6,5) e Jorge Henrique (5,5); Caio (5,5). Técnico: Dunga (4,5)
CRUZEIRO: Fábio (6), Ceará (5,5), Dedé (5), Bruno Rodrigo (6) e Egídio (5,5) (Mayke, intervalo - 6,5); Nílton (7), Henrique (6) e Everton Ribeiro (5,5) (Tinga, 40 do 2º - sem nota); Dagoberto (6,5) (Alisson, 23 do 2º - 5,5), Borges (6) e Willian (7). Técnico: Marcelo Oliveira (6,5)

Comentários

Sancho disse…
No momento, a briga pelo título resume-se num único clube. A única chance do campeonato esquentar é o Cruzeiro cair na realidade numa velocidade astronômica.

A cada dia que passa, isso parece mais improvável.