Algumas surpresas, mas tudo dentro do esperado



O 0 a 0 era mesmo o resultado mais lógico. Corinthians e Grêmio são dois times robustos, sólidos, que mais marcam que propõem jogo. Em um primeiro jogo de mata-mata, duas equipes tão parelhas tecnicamente, que não vêm em boa fase e possuem tais características, tinham tudo para fazer um jogo truncado, amarrado, peleado. A decisão da vaga, como era mesmo previsível que ocorresse, foi transferida para a Arena, daqui a quatro semanas.

Renato Portaluppi vem surpreendendo taticamente em 2013. Sem Saimon, a aposta mais lógica para esta quarta-feira era apostar em Elano ou Zé Roberto, e de fato a figura de um articulador fez falta ao Grêmio no Pacaembu. Mas a opção por Vargas não foi incorreta: o chileno foi atacante, mas com movimentação de meia. Recuava para buscar de jogo, abria para os dois lados com a bola, função que sabe bem exercer. As vantagens de tê-lo em campo eram claras: mais mobilidade ao time na transição, velocidade de contragolpe e possibilidade de marcar mais adiantado, algo que com Elano ou Zé o time provavelmente não conseguiria. Foi um dos melhores em campo. Kleber, em contrapartida, jogou mais longe do gol e caiu de nível em relação aos últimos jogos.
1º TEMPO: Corinthians e Grêmio povoam bastante o meio e tornam o jogo truncado
Em um jogo como o que se anunciava, era mesmo Vargas o homem capaz de tentar algo para desequilibrar. Ainda que ele tenha ido bem, não chegou a este ponto. No primeiro tempo, quem mais esteve perto disso era Emerson. Jogador matreiro, que sabe jogar um mata-mata como poucos, era o único corintiano com iniciativa pessoal de qualidade. Tinha o drible e o arremate, e por ele saíram as poucas chegadas do Corinthians em todo o jogo. Danilo e Douglas estiveram muito apagados. Guerrero brigou bastante, participou do jogo, mas esteve muito bem marcado.

No segundo tempo, foi Tite o homem que facilitou a vida do Grêmio. Ao sacar Maldonado para colocar Ibson, a ideia era ter três meias para tentar se impor aos três volantes de Renato. Na prática, seu time ficou mais exposto defensivamente: Ibson não entrou com a intensidade que o time precisava, não marcou tanto quanto Maldonado, e tanto Douglas como Danilo seguiam apagados. Douglas passou a buscar menos jogo junto aos volantes, tarefa que agora Ibson passou a desempenhar, caindo de intensidade - que já não era das maiores antes, diga-se. O Grêmio, então, passou a gostar do jogo. Adonou-se do meio, passou a ganhar rebotes e levar perigo. O Timão teve mais a bola, mas no segundo tempo foi o Tricolor o time que esteve mais perto de conseguir um gol.
2º TEMPO: Ibson entra, Douglas passa a voltar menos para buscar jogo e o Grêmio passa a ganhar o meio
A grande vantagem que o Grêmio tira do jogo desta quarta não é a do empate fora de casa, mas a de que o time não depende do 3-5-2 para se defender bem. Se a equipe se robusteceu mesmo com o esquema de três zagueiros, fez talvez sua atuação mais segura defensivamente sob o comando de Renato no sistema com apenas dois defensores. Rhodolfo seguiu sendo um destaque, e Bressan foi bem, apesar de umas pixotadas, como não conseguia vir no 3-5-2. O segredo da segurança defensiva, é fácil perceber, não está na trinca de zagueiros, mas na de volantes. Ramiro e Riveros são muito combativos, e se falham ainda há o ótimo Souza atrás para limpar os trilhos. É uma barreira que, com laterais mais recuados, torna-se quase intransponível.

O resultado de 0 a 0, num mata-mata com saldo qualificado, é o mais neutro possível. Ao time visitante, qualquer empate com gols serve. Ao mandante, qualquer vitória. Nada se define, tudo foi transferido para a Arena. Mas é inegável que, hoje, a proposta do Grêmio foi a que se saiu melhor. Anulou o Corinthians e não perdeu no Pacaembu, resultado sempre difícil de ser obtido, por qualquer equipe que seja. Mas Tite sabe as armas que tem: mesmo jogando em casa, não se atirou para cima no final buscando a vitória. Ele sabe que o 0 a 0 não dá vantagem a ninguém. E num confronto tão equilibrado, qualquer vantagem vale muito.

Em tempo:
- Corinthians chega a sete jogos e apenas um gol feito - e contra, no jogo com o Goiás.

Copa do Brasil 2013 - Quartas de final - Jogo de ida
25/setembro/2013
CORINTHIANS 0 x GRÊMIO 0
Local: Pacaembu, São Paulo (SP)
Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (MG)
Público: 29.341
Renda: R$ 921.633,00
Cartão amarelo: Guerrero, Gil, Emerson, Souza, Barcos e Elano
CORINTHIANS: Cássio (6,5), Edenílson (5), Gil (5,5), Paulo André (6) e Igor (4,5); Ralf (5,5), Maldonado (5,5) (Ibson, intervalo - 4,5), Danilo (4,5), Douglas (5) (Romarinho, 31 do 2º - 5) e Emerson (6); Guerrero (5,5) (Pato, 15 do 2º - 4,5). Técnico: Tite (5)
GRÊMIO: Dida (6), Pará (5,5), Rhodolfo (7), Bressan (6) e Alex Telles (5,5); Souza (6,5), Ramiro (6) e Riveros (6); Kleber (5), Barcos (5) (Elano, 36 do 2º - sem nota) e Vargas (6,5) (Paulinho, 33 do 2º - sem nota). Técnico: Renato Portaluppi (6)

Comentários

André Kruse disse…
Esses esquemas do Renato acabam sendo bem curiosos. Tudo o que eu não vi ontem no Grêmio foi a transição rápida pro ataque. Em compensação o Grêmio marcou muito bem. Com esse 433/451 o time acabou sendo mais recuado/retrancado do que no 3-5-2 com 3 volantes.

O Bressan claramente joga melhor numa linha de 4. Jogando de stopper ele fica muito longe do gol, é obrigado a dar bote junto da lateral e se atrapalha.
Vicente Fonseca disse…
Exatamente, André. A impressão que passa é que às vezes ele pensa uma coisa e acontece outra, igualmente positiva. A gente não sabe muito o que esperar.

E concordo, para mim foi o melhor jogo defensivamente do Grêmio, curiosamente no mais aberto de todos os esquemas utilizados até aqui.
arbo disse…
Pela graça de dios o Renato não tinha um terceiro zagueiro pra colocar, 352 já estava me dando nos nervos. Os 3 volantes ainda aceito, mas em casa preferirei 2 meias, o Zé sendo um deles, pelamor.

dida
pará - rodholfo - bressan - a.telles
souza - riveros [ramiro] - zé e vargas [elano]
kléber e barcos [vargas]
Zezinho disse…
Estive viajando, não vi o jogo e o primeiro lugar em que busquei ler algo sobre a partida foi aqui. Baita análise, Professor
Vicente Fonseca disse…
Muito obrigado, caríssimo!