Um Grêmio sem o direito de perder gols



Perder gols em jogos fora de casa no mata-mata é sempre algo ruim. Porém, neste esquema que Renato implantou no Grêmio para atuar como visitante, é mais que isso: é inaceitável. Porque é uma formação que privilegia a marcação, a ocupação de espaços para marcar e sobrevive de ataques esparsos. Num 3-5-2 com três volantes, o Grêmio jamais vai sufocar seu adversário, mas sim aproveitar os espaços que ele deixa para matar o jogo no erro dele. O Santos ofereceu tudo isso, mas o Tricolor não aproveitou. E por isso perdeu o jogo.

A partida foi muito ruim tecnicamente. O Grêmio, mesmo sem criatividade, teve uma leve superioridade no primeiro tempo. Mesmo com alguns bons jogadores na frente (Cícero, Montillo, Thiago Ribeiro), faltou conjunto ao Peixe, que nunca conseguiu se impor. Na etapa final, com um pouco mais de espaço, o time de Renato teve ao menos três chances claras. Duas delas quase idênticas, com Kleber e Barcos cabeceando sozinhos na pequena área. Contra Bahia e Vasco, o time fez esses gols. A diferença básica do jogo de ontem para estas duas vitórias fora é que, na Vila, essa bola não entrou.

Renato pensou certo ao tirar Riveros e colocar Guilherme Biteco. Era preciso mesmo dar mais chegada à frente na equipe. O problema é que, com a saída do paraguaio, Montillo se soltou, e com ele o Santos cresceu. O técnico gremista ainda deu o azar de tirar Kleber segundos antes de Montillo fazer a jogada para o gol de Gabriel, em falha de Bressan. Ficou sem opção de ataque e foi obrigado a repor o setor ofensivo com Lucas Coelho, que entrou obviamente fora de ritmo, ou ao menos sem a mesma sintonia de Kleber.

Mais que o Santos ter ganhado, foi o Grêmio quem perdeu a partida na Vila Belmiro. O time paulista mostrou fragilidades evidentes, e não terá Edu Dracena, seu capitão e rochedo defensivo, na Arena. Ainda assim, a classificação, se vier, não será fácil: a vantagem é do Peixe, o Grêmio não fez gols fora e o Santos tem Marcos Assunção, o que sempre pode lhe dar um gol do nada numa bola parada. O desempenho gremista não foi ruim, mas o que falei por esses dias no Carta na Mesa ficou claro: com este esquema, não dá para perder gols. Boas atuações, neste caso, não bastam.

Cruzeiro melhor, mas tudo aberto
O Cruzeiro foi bem superior no Mineirão, mas só conseguiu um 2 a 1, resultado magro em se tratando de Copa do Brasil. A equipe de Marcelo Oliveira manteve a dinâmica de sempre, mas com nomes melhores na frente, como Borges e Willian. Ou seja: a qualidade coletiva se manteve alta, e a individual aumentou. O resultado foi a dominação sobre o time de Mano Menezes, que se safou de sofrer uma goleada e saiu com um resultado muito melhor do que merecia.

Depois de Willian abrir o placar, Everton Ribeiro traduziu a superioridade mineira com um gol antológico, um dos mais bonitos não só do ano, mas dos últimos tempos no futebol brasileiro, completando um chapéu com um chute de sem-pulo, com categoria e violência na medida certa: 2 a 0, vantagem boa, goleada a caminho. Aí, a ducha fria: um erro de Dedé, algo tão raro, e o gol de Carlos Eduardo, que reabre o confronto. O time carioca melhorou após descontar, pois o Cruzeiro sentiu o gol.

O que era uma classificação encaminhada virou confronto aberto e imprevisível. Mas mesmo que precise só de 1 a 0 para passar de fase, o Flamengo ainda vê o Cruzeiro com o favoritismo. A vantagem, apesar de mínima, ainda existe. E o time mineiro mostrou ser superior em Belo Horizonte.

O campeão dará trabalho
Primeiro campeão de Copa do Brasil que terá a chance de defender seu título desde o Juventude de 2000, o Palmeiras pode dar trabalho. Está na Série B, mas muito bem nela, ou seja: vence o tempo todo, o que lhe dá confiança. O 1 a 0 contra o Atlético Paranaense, time que vem invicto há várias rodadas no Campeonato Brasileiro, foi o primeiro sinal de que a campanha pode ser boa. O Fluminense obteve um bom 1 a 0 sobre o Goiás, com Diego Cavalieri pegando pênalti de Walter.

E o Luverdense segue surpreendendo: bateu o campeão do mundo Corinthians por 1 a 0 e agora só perdendo por dois gols de diferença em São Paulo será eliminado. A Copa do Brasil é sempre surpreendente. E gol ilegal do time mato-grossense contra o Timão. A banca paga e recebe.

Paciência para espantar a zebra
A ansiedade demonstrada pelo Internacional na partida contra o Atlético Mineiro não pode se fazer presente hoje à noite. O Colorado precisa ter tranquilidade e consciência de que há um abismo técnico entre ele e o Salgueiro. Não é o caso de menosprezar o adversário, até porque times de Dunga nunca põem salto alto. É preciso saber da superioridade para saber impô-la, com tranquilidade e naturalidade, sem se desesperar com gol sofrido em casa, uma paranoia de todos que disputam mata-mata com saldo qualificado.

Dunga faz bem em mexer no time. Alex vem claramente fora de ritmo, e Fabrício deu sua contribuição jogando na meia-cancha. Ao mesmo tempo em que esta troca dá mais movimentação ao meio, melhora também a defesa, já que Kleber retorna à lateral esquerda - e, numa defesa frágil, ele é uma garantia de segurança por ao menos um dos lados. É noite também para vermos Forlán, que joga um pouco mais pressionado pelas boas atuações recentes de Scocco. Tudo para não sofrer do mesmo mal que abateu o Corinthians em Cuiabá.

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