Sem técnica, com superação



O choro convulsivo de Souza após marcar seu gol é o retrato do que foi a noite do Grêmio. Um time que superou mais uma vez seus problemas de escalação, e desta vez superou também uma atuação tecnicamente pobre, para conquistar, na base da união, do esforço coletivo, uma classificação que sem dúvida lhe dá ainda mais força para o prosseguimento da temporada.

A grande questão que se colocava antes do jogo era se o Grêmio teria ou não a agressividade necessária para fazer 2 a 0 no Santos com três zagueiros e três volantes no time. Pois o time de Renato novamente surpreendeu: atacar, no primeiro tempo, não foi problema. Havia jogadas pelos dois lados do campo, especialmente pela direita, onde Pará ganhava todas de Mena. A equipe criou boas chances nos primeiros 20 minutos, que eram importantes para que o gol saísse logo já que, com ele, a tendência é que o Santos erraria mais. Mas o gol não veio.

E o Grêmio não surpreendeu só pelo lado bom, também o fez pelo ruim. Com tantos jogadores defensivos em campo, nunca o time de Renato sofreu tanto para se defender. Com a inteligência de Montillo comandando as ações, o Santos aos poucos foi se soltando e puxando contragolpes perigosos, já que eram puxados exclusivamente por bons jogadores (Cícero, Thiago Ribeiro e Gabriel). A lesão do argentino, aos 24, tendia a facilitar as coisas. De fato, o Peixe parou de atacar. Mas também se organizou defensivamente melhor, e bloqueou os avanços gremistas. O jogo ficava igual, e caía de ritmo.

O panorama no intervalo era pouco auspicioso na Arena. Renato, como sempre, não quis mexer no intervalo. Poderia ter colocado um meia e retirado um zagueiro (um tanto arriscado, já que o Peixe tinha o contragolpe) ou um volante. Os primeiros minutos foram especialmente ruins: o time estava cada vez mais afobado e o Santos levava perigo (Bressan quase entregou a vaga para Gabriel, que passou por Dida e perdeu a chance). Até que o Tricolor achou um gol numa jogada de Souza, para Barcos, para Souza, para a rede. Agora, viriam os erros do Santos. E com o time estava escalado da forma como vinha atuando nos últimos jogos, pronto para dar o bote nas incorreções dos adversários. Jogo à feição.

Mas nada disso ocorreu. Com receio de sofrer um gol que lhe eliminaria, o Grêmio não se atirou para cima. Errava muito também, e a entrada de Maxi Rodríguez não fez bem ao time, já que o uruguaio errou quase tudo o que tentou. Sorte de Renato que seu colega Claudinei Oliveira também mexeu mal no Peixe, retirando o liso Gabriel para a entrada de Everton Costa, que bem conhecemos por estes pagos. Ainda assim, o jogo tinha toda a cara de que iria para pênaltis, até que saiu o golaço de Werley, em tabela esplêndida de Pará com Maxi Rodríguez (o uruguaio errou quase tudo, mas não tudo). Classificação garantida.

Classificação à parte, fica muito claro que o Grêmio precisa de uma formação mais solta para jogar na Arena. Contra um Santos que veio basicamente para se defender e jogar nos contra-ataques, o esquema absolutamente não funcionou. Foram 20 minutos de algum domínio e 70 de pouquíssima imaginação. Se fora a formação tem sido muito efetiva, em casa o time se defendeu pior e atacou com menos agressividade. A Ponte Preta, sábado, deve vir de modo parecido com o do Peixe hoje. Mas talvez aí já haja Zé Roberto. E certamente já há esta classificação, que é importante e fortalece ainda mais este grupo que Renato tem conseguido tornar cada vez mais unido - e a união, vimos hoje, às vezes supera uma atuação ruim.

O próximo rival
A próxima fase da Copa do Brasil é só em outubro, e até lá muita coisa vai acontecer no Brasileirão. Enfrentar o Corinthians nunca é uma boa notícia. O time de Tite passou raspando pelo desconhecido Luverdense, mas ainda é a equipe mais sólida do futebol brasileiro. Renato terá de encontrar um modo de fazer seu time jogar na Arena o que vem jogando fora de casa para poder encarar de frente o campeão do mundo.

Mineiro, não: carioca
Atlético Mineiro e Cruzeiro caíram juntos na Copa do Brasil. Sem Vitinho, o Botafogo resistiu ao Horto e saiu com um 2 a 2 suficiente para lhe levar às quartas. Enfrentará, quem diria, o Flamengo, que escapou de levar uma goleada no Mineirão semana passada para sair com um 2 a 1 bem melhor do que a encomenda. No Maracanã, de forma copeira, garantiu o 1 a 0, com Elias, que lhe leva adiante. A exemplo do Grêmio, o time de Mano Menezes ganha força com esta vaga, ainda mais por ter sido obtida diante do líder do Campeonato Brasileiro. Quem se deu mal, no Rio, foi o Fluminense: os 2 a 0 sofridos para o Goiás são mais uma eliminação no mata-mata para Luxemburgo e um novo motivo para aumentar a crise nas Laranjeiras. Que ano tenebroso do atual campeão brasileiro.

Até onde vai o Furacão?
A goleada por 3 a 0 sobre o Palmeiras deixa claro: este Atlético Paranaense é um time que precisa ser visto com muito cuidado pelos concorrentes, tanto no Brasileirão quanto na Copa do Brasil. A equipe dominou o atual campeão do torneio e se impôs com muita força, em outra jornada notável de Ederson e mais um gol de Paulo Baier. O Inter que se cuide nas quartas.

Para cumprir tabela
O Inter não levou sete ou oito titulares a Salgueiro, o que não tem nada de mais. A viagem é realmente longa demais, há jogo difícil no final de semana (Coritiba, fora) e a vantagem de 3 a 0 aplicada em Novo Hamburgo é imensa. É noite para o Colorado jogar com tranquilidade e voltar com a vaga na bagagem, sem grandes sobressaltos.

Um Barça sudaca
Bastou Tata Martino assumir o Barcelona que já conquistou um título no saldo qualificado: 1 a 1 com o Atlético Madrid no Vicente Calderón, 0 a 0 no Camp Nou e taça da Supercopa Espanhola no armário. É o Barça pronto para se tornar o Paraguai da Catalunha. Mui digno.

Comentários

Enio Augusto disse…
Ainda bem que no Brasileiro só precisa ganhar de 1 a 0.
Complicado fazer mais gol na Arena.
Contra a Ponte vai ser mais difícil, acredito.
E o Pará com confiança é quase um craque.
Franke disse…
Esse é o Grêmio de Heisenberg:

Você não pode querer determinar, ao mesmo tempo, um time que jogue bem E vença seus jogos.

É o Paradoxo da Incerteza de Renato, que faz com que ninguém entenda o que está acontecendo.
Franke disse…
Os jogadores não são partículas, são ondas: zagueiros ou volantes ou não, estão atuando em todos lugares ao mesmo tempo de modo caótico e desordenado. De tanto bater, uma hora sai um que outro gol, um que outro elétron é promovido para um nível superior.
Vicente Fonseca disse…
Puxando para as humanas, seria um time pós-moderno, meu caro? hahaha
Franke disse…
Futebol quântico.
Chico disse…
2010 vingado!

É peixe na brasa!

Igor Natusch disse…
Nada a dizer depois do sensacional resumo do Amigo Franke.