A tal da maioridade
A vitória sobre o Cruzeiro não tornou o Grêmio um timaço de uma hora para outra. É preciso ter os pés no chão e avaliar criteriosamente esta subida da equipe de Renato na tabela. O Tricolor apresentou velhos problemas ontem, foi dominado no primeiro tempo, ainda tem muito o que evoluir e precisa melhorar para se tornar um candidato ao título de fato. No entanto, foi um resultado construído também com méritos, alternativas, diante de uma equipe forte, organizada e que ponteia a competição. E sem Elano, Riveros, Vargas e Zé Roberto, sinal de que os substitutos têm dado conta do recado, com sobras.
A vitória gremista foi também a do 4-4-2 com dois volantes e dois meias, formação mais clássica dos últimos 20 anos do futebol brasileiro. Porque no 3-5-2 o Grêmio acabou dominado no primeiro tempo. É falaciosa a ideia de que o Cruzeiro não tem elenco: esta equipe que lidera o campeonato não vem tendo os lesionados Dagoberto, Borges, Henrique e o recém-contratado Júlio Baptista, por exemplo. Sem todos estes potenciais titulares, a Raposa não só é a primeira colocada como possui o melhor ataque e uma das melhores defesas da competição. É time que brigará até o fim na ponta de cima.
Marcelo Oliveira faz um grande trabalho, e o jogo de ontem foi a prova, especialmente, claro, o primeiro tempo. Seu time se compacta como nenhum outro no país no momento. A aproximação facilita triangulações, que puxam a marcação adversária para um lado. Aí, como o entrosamento é afinadíssimo, alguém (normalmente Everton Ribeiro) vira o jogo e acha um companheiro livre do outro lado, pegando toda a zaga rival de calça curta. Assim surgiu o pênalti defendido por Dida. E Dida andava devendo esta defesa de pênalti. Não poderia ter vindo em melhor hora.
Vinícius Araújo e Ricardo Goulart, um em cada ponta, minavam o 3-5-2 gremista, pois obrigavam Pará e Alex Telles a adotarem posicionamento defensivo, transformando o esquema num 5-3-2. Por isso, o Grêmio foi tão modesto no primeiro tempo. Sem ajuda das alas, Maxi Rodríguez ficava sobrecarregado na armação, o que era compensado em parte pela grande entrega da dupla de ataque. Mas a expulsão infantil de Souza facilitou as coisas: saiu Vinícius Araújo, Ricardo Goulart foi obrigado a recuar para recompor o meio, e os alas poderiam agora apoiar. Mas será que ainda valia à pena manter o 3-5-2?
Não, embora Renato tenha insistido. A substituição que todo o estádio cantou no intervalo, a saída do amarelado Bressan para a entrada de Guilherme Biteco, só ocorreu aos 9 minutos do segundo tempo. Não fazia mais sentido ter três zagueiros para marcar Luan. Era a hora de soltar o time, dar auxílio a Maxi na criação e amassar o Cruzeiro. Foi o que o Grêmio fez: voltou mais disposto, pressionou, criou jogadas de perigo e chegou aos 3 a 1 ao natural. Barcos, não apenas pelo golaço, mas pelo grande segundo tempo que fez, foi o grande destaque desta construção de resultado. Biteco, o homem que entrou para colocar fogo no jogo, também.
O Grêmio ainda não tem time, não tem padrão de jogo, não tem esquema, mas tem grupo. Maxi Rodríguez teve altos e baixos, mas Guilherme Biteco novamente entrou bem. Com os dois criando, nem deu para sentir falta de Elano e Zé Roberto. Ramiro é outra afirmação. Alex Telles e Bressan chega a ser redundância elogiar. A reposição tem sido à altura, algo fundamental num campeonato longo, e que pesou para a vitória de ontem. Para completar, Kleber e Barcos formam a primeira verdadeira dupla de ataque gremista em 2013, no sentido de que se procuram, tabelam, servem um ao outro. Há tempos dois atacantes não marcavam gols pelo Grêmio em um mesmo jogo. Ambos evoluem juntos, e devem permanecer no time mesmo que Vargas retorne de lesão.
Ainda muito o que acertar, Renato tem razão em diminuir o coro da empolgação, mas o Grêmio, se não começa a evoluir em termos de qualidade de jogo, começa mesmo assim a embalar. Sem um time confiável, já está no G-4. Vitórias ajudam a acertar o time, e time acertado costuma crescer. E crescendo mais um pouquinho neste campeonato tão equilibrado e maluco, onde um time sobe oito posições em quatro dias e sai merecidissimamente vaiado numa semana para dar "olé" no líder na outra, pode sim brigar por algo grande.
A rodada ajudou
O empate em 0 a 0 entre Fluminense e Corinthians foi ótimo para o Grêmio, que ultrapassa o Timão. Melhor ainda foi o empate do Coritiba em casa, 1 a 1 com a fraca Portuguesa, que começa a reagir. Hoje é noite para secar Atlético Paranaense e Internacional. Se nenhum deles vencer, a equipe encerra a rodada no G-4.
Outro gaúcho contra o outro líder
O Grêmio derrotou o Cruzeiro, e hoje é a vez do outro gaúcho no Brasileiro, o Internacional, encarar o outro líder, o Botafogo. Jogo difícil, mas espero uma boa atuação colorada. É o tipo do jogo que o time de Dunga tem ido bem. E o retrospecto rubro contra o Fogão no Rio é historicamente positivo. A volta de Ygor qualifica a marcação e a proteção à zaga, que provavelmente terá atuação mais segura hoje. O problema é a zica da lateral direita: os três alas destros do elenco estão lesionados, o que leva Dunga a improvisar Jorge Henrique, algo que não deu certo no Gre-Nal de 11 dias atrás.
Comentários
se o grêmio conseguir chegar a algum lugar nesse campeonato, será muito contando com o velho nélson.
Lique, Dida me lembrou RODOLFO RODRIGUEZ naquelas defesas ali. Ontem ele foi decisivo. Era o que estava faltando: ele mantinha uma boa regularidade, mas ainda não havia sido decisivo de fato.
Ainda falta organização ao time.