Modernidade às avessas
Não sou contrário às novas arenas, ao menos em tese. Sou a favor, desde que sejam erguidas pela iniciativa privada. Não tenho compromisso com o atraso e sou a favor do progresso sempre. Porém, sou muito crítico de vários aspectos que ocorrem na gestão dos novos estádios: restrições ao modo de torcer, preços abusivos tanto no ingresso quanto nos serviços como estacionamento, comidas e bebidas, entre outras questões. Querendo ser mais europeu que a Europa, como diz meu amigo Igor Natusch, o futebol brasileiro impede, ou no mínimo atrasa precisamente o progresso, o motivo pelo qual sou favorável à construção de estádios mais modernos e funcionais. E o que era para ser em prol dos espectadores, distantes dos estádios brasileiros há décadas por serem tão maltratados em canchas antigas e desconfortáveis, gera exclusão e um distanciamento ainda maior deles com o futebol.
Alguns aspectos já têm melhorado: a média de público do Brasileirão atual tem subido constantemente, impulsionada precisamente pelo grande número de torcedores que os novos estádios têm recebido, mesmo que os ingressos ainda sejam muito caros na maioria dos jogos (imaginem se os preços fossem razoáveis). A Arena do Grêmio, por ser a primeira a ter sido inaugurada, provavelmente é a que está em estágio mais avançado neste sentido: as restrições mais absurdas, como a de impedir que os torcedores tirem a camisa durante o jogo, já recebem vistas grossas dos orientadores, que estão cada vez menos chatos e mais tolerantes. Mas sempre há algo que as autoridades, sejam elas quais forem, arranjam para implicar.
Agora, é a autoridade máxima do jogo em si que entra em cena. Antônio Pereira da Silva, o famoso Pereirão, árbitro figurinha carimbada nos anos 90 e hoje diretor da Comissão de Arbitragem da CBF, recomenda que o árbitro apresente o cartão amarelo ao jogador que comemorar gol subindo o pequeno lance de escadas, na maioria das vezes de quatro ou cinco degraus, que une o gramado ao primeiro lance de arquibancadas, comuns nas novas arenas. Recomendação já duramente criticada pelo volante Elias, do Flamengo, que fez um gol nos descontos contra o Botafogo, domingo, no Maracanã, e comemorou deste modo. Tudo em nome da "segurança".
Mas vem cá, segurança de quem? Nenhum jogador será maluco o suficiente para sair correndo em direção à torcida adversária e provocar os torcedores rivais tão de perto, mas sempre para a sua torcida, sentir o calor humano de quem torce por ele, algo fantástico para o jogador e para os próprios torcedores. O que há de temerário ou inseguro nisso? Esse tipo de cerceamento é típico da caretice que anda reinando no futebol brasileiro. Não pode isso, não pode aquilo, nem aquilo e nem aquilo. Não pode nada, em suma.
"Ah, como odeio o futebol moderno", gritarão alguns, com razão por um lado e não por outro. Afinal, esse novo futebol é realmente odioso, chato, sem graça, mas de moderno não tem nada. Na Europa, lugar de onde temos a mania de importar tudo, não há qualquer restrição a este tipo de atitude, e gols são comemorados assim mesmo, com jogadores correndo literalmente para a galera, sem que recebam qualquer tipo de punição. O modelo é europeu, mas a chatice é totalmente nossa, e arrisco dizer que está encrustada nas entranhas de nossas autoridades desde sempre. Ou alguém esqueceu que jogador que comemorava gol no orelhão do Maracanã, "ligando para a mamãe", também recebia cartão amarelo?
O Brasil está importando um futebol moderno às avessas. No futebol moderno europeu, que é o modelo tão utilizado, os ingressos não são abusivos, os estádios estão sempre lotados e o principal: o público tem o direito de se manifestar como bem entender (exceto se for preconceituoso), tirando camisa, gritando, xingando, participando e, inclusive, abraçando o jogador na hora do gol, se em sua direção ele correr. A experiência de campo para os torcedores é intensa, e não mais chata do que ficar na sala de casa, como tem sido por aqui. O conceito de estádios do tipo arena por lá é aumentar para o torcedor a emoção de estar dentro do jogo, e não diminuí-la. Padrão FIFA? Lembrem o que tinha de torcedor abraçando o Felipão na hora de receber as medalhas pelo título da Copa das Confederações no Maracanã. É padrão CBF de chatice mesmo.
Alguns aspectos já têm melhorado: a média de público do Brasileirão atual tem subido constantemente, impulsionada precisamente pelo grande número de torcedores que os novos estádios têm recebido, mesmo que os ingressos ainda sejam muito caros na maioria dos jogos (imaginem se os preços fossem razoáveis). A Arena do Grêmio, por ser a primeira a ter sido inaugurada, provavelmente é a que está em estágio mais avançado neste sentido: as restrições mais absurdas, como a de impedir que os torcedores tirem a camisa durante o jogo, já recebem vistas grossas dos orientadores, que estão cada vez menos chatos e mais tolerantes. Mas sempre há algo que as autoridades, sejam elas quais forem, arranjam para implicar.
Agora, é a autoridade máxima do jogo em si que entra em cena. Antônio Pereira da Silva, o famoso Pereirão, árbitro figurinha carimbada nos anos 90 e hoje diretor da Comissão de Arbitragem da CBF, recomenda que o árbitro apresente o cartão amarelo ao jogador que comemorar gol subindo o pequeno lance de escadas, na maioria das vezes de quatro ou cinco degraus, que une o gramado ao primeiro lance de arquibancadas, comuns nas novas arenas. Recomendação já duramente criticada pelo volante Elias, do Flamengo, que fez um gol nos descontos contra o Botafogo, domingo, no Maracanã, e comemorou deste modo. Tudo em nome da "segurança".
Mas vem cá, segurança de quem? Nenhum jogador será maluco o suficiente para sair correndo em direção à torcida adversária e provocar os torcedores rivais tão de perto, mas sempre para a sua torcida, sentir o calor humano de quem torce por ele, algo fantástico para o jogador e para os próprios torcedores. O que há de temerário ou inseguro nisso? Esse tipo de cerceamento é típico da caretice que anda reinando no futebol brasileiro. Não pode isso, não pode aquilo, nem aquilo e nem aquilo. Não pode nada, em suma.
"Ah, como odeio o futebol moderno", gritarão alguns, com razão por um lado e não por outro. Afinal, esse novo futebol é realmente odioso, chato, sem graça, mas de moderno não tem nada. Na Europa, lugar de onde temos a mania de importar tudo, não há qualquer restrição a este tipo de atitude, e gols são comemorados assim mesmo, com jogadores correndo literalmente para a galera, sem que recebam qualquer tipo de punição. O modelo é europeu, mas a chatice é totalmente nossa, e arrisco dizer que está encrustada nas entranhas de nossas autoridades desde sempre. Ou alguém esqueceu que jogador que comemorava gol no orelhão do Maracanã, "ligando para a mamãe", também recebia cartão amarelo?
O Brasil está importando um futebol moderno às avessas. No futebol moderno europeu, que é o modelo tão utilizado, os ingressos não são abusivos, os estádios estão sempre lotados e o principal: o público tem o direito de se manifestar como bem entender (exceto se for preconceituoso), tirando camisa, gritando, xingando, participando e, inclusive, abraçando o jogador na hora do gol, se em sua direção ele correr. A experiência de campo para os torcedores é intensa, e não mais chata do que ficar na sala de casa, como tem sido por aqui. O conceito de estádios do tipo arena por lá é aumentar para o torcedor a emoção de estar dentro do jogo, e não diminuí-la. Padrão FIFA? Lembrem o que tinha de torcedor abraçando o Felipão na hora de receber as medalhas pelo título da Copa das Confederações no Maracanã. É padrão CBF de chatice mesmo.
Comentários
Valeu, Chicão, abraço!