De pasión

"Un hombre no cambia solamente de una cosa en la vida: de pasión". A frase dita no filme argentino O Segredo dos Seus Olhos é tão marcante quanto verdadeira. Na minha vida, a paixão mais antiga sem dúvida é o futebol. É esta paixão que me faz acompanhar o esporte há 23 anos quase que ininterruptamente, indo da Copa do Mundo à Segundona Gaúcha, assistindo aos melhores e aos piores jogos, uma, duas ou dez vezes por semana, dependendo da época do ano. Foi esta paixão que motivou a existência do Carta na Manga, que me fez jornalista esportivo. E isso não vai passar com o decorrer das longas décadas que, tomara, me restam de vida. Porque é a minha pasión.

E esta pasión, no meu caso se deve muito ao Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Todo torcedor de fé é assim: acompanha o time do coração esteja ele lá em cima ou na rabeira da tabela, tendo Jardel ou Lins no ataque. É dispensável a gente partir para a discussão se jornalista esportivo deve ou não abrir o time do coração. Cada um faz como bem entender. Para mim, não fazia sentido escondê-lo, afinal, comecei nesta profissão aqui, no Carta na Manga, cuja base inicial de leitores eram amigos que sabiam de longa data minha preferência clubística. Mas respeito os colegas que não queiram abrir o time pelo qual torcem. A rivalidade há tempos deixou de ter espírito esportivo aqui no Rio Grande do Sul.

O que não admito é que digam que não têm time. Ora, me custa a crer que alguém apaixonado por futebol não tenha um time do coração. O time pelo qual torcemos na infância, adolescência ou a fase que seja da vida é o motor do amor que qualquer pessoa tem pelo futebol. Só faço jornalismo esportivo porque gosto muito de futebol, e gosto muito de futebol, principalmente, por causa do Grêmio. A conclusão é muito simples: aqueles que elogiam o meu trabalho, eu sempre agradeço, e acho justo lembrar: se o trabalho ficou bem feito, é porque foi feito com paixão. Se fiz meu trabalho com paixão, é porque gosto do que faço, porque gosto de futebol, porque gosto do Grêmio.

É claro que é preciso separar as coisas na hora de analisar um jogo, mas é aí que entra o profissionalismo, o respeito com os leitores que entram aqui ou me ouvem na Rádio Estação Web. É como diz Mauro Beting: "o jornalista esportivo evidentemente pode torcer para o seu time, mas não pode distorcer (uma análise) por ele". Perfeito. Aliás, no meu caso, nem faria sentido vir aqui distorcer pelo Grêmio. Se eu quisesse isso, faria um blog apenas sobre o Grêmio. Seria muito mais honesto de minha parte.

Tendo tudo isso em conta, eu jamais poderia deixar a data de hoje passar em branco. Os 30 anos do título da Libertadores de 1983 (para mim, o mais importante título da história do Grêmio) são um marco histórico do futebol gaúcho, por termos enfim rompido as fronteiras nacionais, assim como o título brasileiro do Internacional em 1975 rompeu para o Rio Grande as fronteiras regionais. Eu tinha apenas três meses de idade quando o Tricolor derrotou o timaço do Peñarol no Olímpico, o que não me impede de me emocionar ao assistir a partida hoje, mesmo sabendo seu resultado final. O tempo não diminui a importância de nada, ao contrário. E esta emoção é o combustível me dá vontade de seguir fazendo jornalismo esportivo.

A data de hoje não poderia passar em branco por aqui não pelo fato de ter sido histórica, mas porque certamente ajudou e muito à existência deste blog, do Carta na Mesa e da minha própria formação como jornalista esportivo. A vontade de vivenciar como jornalista momentos históricos como o ocorrido na noite de 28 de julho de 1983, seja do Grêmio ou de qualquer outro clube, também conta nessas horas. Vale sempre lembrar que trabalhamos bastante por aqui na cobertura do título mundial do Internacional em 2006, quando o Carta na Manga tinha apenas quatro meses de idade. E o orgulho por poder ter documentadas as minhas impressões sobre aquele fato absolutamente extraordinário na história do futebol gaúcho é incomensurável, emocionante, mesmo que seja uma glória do eterno rival gremista.

Por falar nesse velhote de quase 110 anos: muito obrigado. Grande parte da minha incipiente carreira se deve a ti. Aliás, não só da minha, mas de centenas de jornalistas esportivos pelo país afora, confessem eles ou não.

Contribuição ao Impedimento
Foi com muita honra que recebi o convite do amigo Daniel Cassol para escrever um texto para a série especial publicada pelo Impedimento sobre os 30 anos do titulo da Libertadores de 1983 pelo Grêmio. Minha contribuição foi ao ar sexta-feira pelo site: uma análise da decisão diante do Peñarol.

Festa in loco
A festa pelos 30 anos do título da Libertadores ocorrerá hoje à tarde, antes de Grêmio x Fluminense, na Arena. Há exatamente uma década, o Tricolor fez festa para receber Renato Portaluppi (então técnico do Flu) no Olímpico, e perdeu por 1 a 0. Talvez lembrando disso, Renato pediu que o torcedor festeje antes do jogo, mas grite bastante e apoie o time nos 90 minutos. A vitória contra o Fluminense é fundamental, pois é um time de elenco forte (e portanto um potencial concorrente gremista pelas posições de cima) que vem em mau momento. É o cavalo encilhado. Comentarei o jogo pela Rádio Estação Web, direto da Arena, a partir das 15:50.

Comentários

Igor Natusch disse…
Não confio em quem trabalha sem paixão. Que bom que tu admites ela com toda essa clareza, Vicente. É algo que depõe imensamente a teu favor (:

Quanto à data, a importância dela é imensa, tanto em simbologia quanto do ponto de vista prático. Concordo: é o mais importante título da história gremista. E assim seguirá, pelos anos que virão - porque mesmo que o Grêmio ganhe dez Libertadores e nove mundiais, ainda assim o primeiro título internacional será diferente e especial. Um brinde!