Pojeto interrompido
Vanderlei Luxemburgo começou a cair no Grêmio justamente em seu auge. Foi no dia 11 de novembro do ano passado, minutos após Marcelo Moreno fazer o gol que carimbou a classificação do Tricolor à Libertadores, em uma espetacular virada sobre o São Paulo no Olímpico lotado. Ao gritar "fica, Luxemburgo", a torcida gremista deu ao treinador um status de ídolo que dificultou qualquer possibilidade de Fábio Koff e Rui Costa não renovarem o seu contrato para a temporada 2013.
Mas é claro que a culpa de tudo isso não é da torcida, que está no seu papel de idolatrar um treinador que vai bem e vaiá-lo se ele for mal. O preocupante é quando dirigentes (e não falo só de Koff e Rui Costa, ótimos dirigentes, mas de 99,9% dos cartolas brasileiros) pregam o discurso do profissionalismo, da continuidade, mas seguem tomando decisões do modo mais prosaico que existe: pela pressão e vontade dos torcedores. Eles não podem ser ignorados, mas nunca devem balizar qualquer decisão administrativa, ou então não precisaríamos de profissionais comandando os clubes.
Ainda assim, a questão é bem mais profunda. Não imagino que Luxemburgo tenha caído só porque as arquibancadas não o queriam mais. Digo que sua queda começou no dia em que ele atingiu seu ápice em Porto Alegre porque, a partir dali, Luxa visivelmente mudou, "cresceu na cueca", para usar um termo técnico. Ele próprio se deu poderes para, além de treinar a equipe (coisa que faz muito bem), meter-se em questões administrativas, que estão fora de sua alçada. Entrevistas desastrosas sobre a Arena, por exemplo, ajudaram a causar um desgaste de sua imagem, e acabam sem dúvida tirando-lhe o foco do trabalho de campo, que é o que ele sabe fazer melhor. Talvez isso tenha colaborado para que ele perdesse o controle do vestiário, se é que realmente perdeu.
Em princípio, sempre acredito que a continuidade é o caminho mais curto para o sucesso no futebol, não faltam exemplos assim. Por isso, defendi a permanência de Luxemburgo após a eliminação na Libertadores, quando mais houve pressão por sua queda. Minha convicção que sua permanência era o melhor para o Grêmio naquele momento é maior do que agora, e o motivo é simples: a falta de convicção que ele próprio deixou transparecer nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro. O estranho revezamento de Elano e Zé Roberto, a estranha retirada de Guilherme Biteco do time quando ele foi bem e, principalmente, a horrenda volta ao esquema com três atacantes na partida diante do São Paulo. Foram três sinais claros de um treinador que parece estar perdido. Isso é até mais grave que cair nas oitavas da Libertadores, pois envolve problemas de longo prazo, e não apenas algo que se meça por resultados.
Seja como for, o certo é que a direção do Grêmio errou duas vezes. A primeira podemos escolher: ou errou ao renovar com Luxemburgo ou errou agora, demitindo-o no meio do caminho. Se não há convicção no treinador, não renove seu contrato. Se há, melhor haver o diálogo, as cobranças, e também a permanência. O segundo erro, claro, é o do momento da demissão. Por que demitir Luxemburgo agora, após uma semana de intertemporada? O Grêmio poderia tê-lo dispensado após o jogo com o São Paulo, no começo das férias de junho ou antes do começo da intertemporada. Uma semana de preparação é praticamente jogada fora. Nada trágico ou que não se possa reverter, mas seguramente também não era a hora ideal. O melhor momento para uma demissão já havia passado.
O substituto, também por isso, deve vir logo. Renato Portaluppi é o favorito, e acredito que seja o contratado. É uma figura que poderia ser usada de forma positiva no marketing, inclusive em relação à Arena, mas precisa estar muito bem integrado e controlado para que não vire a gandaia que foi em 2011, quando saiu para jogar futevôlei em meio à temporada. Passar da ideia de uma gestão profissional do futebol para isso seria um imenso retrocesso. O melhor técnico, na verdade, o Grêmio perdeu para o Flamengo em sua demora: Mano Menezes. Dentro da ideia de formar um time com aquela identidade raçuda que sempre marcou as conquistas gremistas, duvido de Dorival, Cristóvão ou Muricy. Efetivar Roger seria uma boa opção.
Outra questão que fica é que mais uma vez o ciclo se reinicia no Grêmio: o técnico da diretoria anterior vai bem, esta direção não se reelege, a diretoria eleita fica quase que "obrigada" a ficar com o técnico da direção antiga para demiti-lo meses depois e reiniciar tudo de novo. Roth caiu em abril de 2009. Já Renato caiu em 29 junho de 2011 enquanto Luxemburgo sai em 29 em junho de 2013. Dois anos exatos, e há bem mais que uma mera coincidência nisso tudo. Até quando vai este círculo vicioso, movido a rancor, que tanto faz mal ao Grêmio? Ou melhor: quando a gestão do futebol gremista vai se profissionalizar de verdade, para que isso não aconteça mais?
Mas é claro que a culpa de tudo isso não é da torcida, que está no seu papel de idolatrar um treinador que vai bem e vaiá-lo se ele for mal. O preocupante é quando dirigentes (e não falo só de Koff e Rui Costa, ótimos dirigentes, mas de 99,9% dos cartolas brasileiros) pregam o discurso do profissionalismo, da continuidade, mas seguem tomando decisões do modo mais prosaico que existe: pela pressão e vontade dos torcedores. Eles não podem ser ignorados, mas nunca devem balizar qualquer decisão administrativa, ou então não precisaríamos de profissionais comandando os clubes.
Ainda assim, a questão é bem mais profunda. Não imagino que Luxemburgo tenha caído só porque as arquibancadas não o queriam mais. Digo que sua queda começou no dia em que ele atingiu seu ápice em Porto Alegre porque, a partir dali, Luxa visivelmente mudou, "cresceu na cueca", para usar um termo técnico. Ele próprio se deu poderes para, além de treinar a equipe (coisa que faz muito bem), meter-se em questões administrativas, que estão fora de sua alçada. Entrevistas desastrosas sobre a Arena, por exemplo, ajudaram a causar um desgaste de sua imagem, e acabam sem dúvida tirando-lhe o foco do trabalho de campo, que é o que ele sabe fazer melhor. Talvez isso tenha colaborado para que ele perdesse o controle do vestiário, se é que realmente perdeu.
Em princípio, sempre acredito que a continuidade é o caminho mais curto para o sucesso no futebol, não faltam exemplos assim. Por isso, defendi a permanência de Luxemburgo após a eliminação na Libertadores, quando mais houve pressão por sua queda. Minha convicção que sua permanência era o melhor para o Grêmio naquele momento é maior do que agora, e o motivo é simples: a falta de convicção que ele próprio deixou transparecer nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro. O estranho revezamento de Elano e Zé Roberto, a estranha retirada de Guilherme Biteco do time quando ele foi bem e, principalmente, a horrenda volta ao esquema com três atacantes na partida diante do São Paulo. Foram três sinais claros de um treinador que parece estar perdido. Isso é até mais grave que cair nas oitavas da Libertadores, pois envolve problemas de longo prazo, e não apenas algo que se meça por resultados.
Seja como for, o certo é que a direção do Grêmio errou duas vezes. A primeira podemos escolher: ou errou ao renovar com Luxemburgo ou errou agora, demitindo-o no meio do caminho. Se não há convicção no treinador, não renove seu contrato. Se há, melhor haver o diálogo, as cobranças, e também a permanência. O segundo erro, claro, é o do momento da demissão. Por que demitir Luxemburgo agora, após uma semana de intertemporada? O Grêmio poderia tê-lo dispensado após o jogo com o São Paulo, no começo das férias de junho ou antes do começo da intertemporada. Uma semana de preparação é praticamente jogada fora. Nada trágico ou que não se possa reverter, mas seguramente também não era a hora ideal. O melhor momento para uma demissão já havia passado.
O substituto, também por isso, deve vir logo. Renato Portaluppi é o favorito, e acredito que seja o contratado. É uma figura que poderia ser usada de forma positiva no marketing, inclusive em relação à Arena, mas precisa estar muito bem integrado e controlado para que não vire a gandaia que foi em 2011, quando saiu para jogar futevôlei em meio à temporada. Passar da ideia de uma gestão profissional do futebol para isso seria um imenso retrocesso. O melhor técnico, na verdade, o Grêmio perdeu para o Flamengo em sua demora: Mano Menezes. Dentro da ideia de formar um time com aquela identidade raçuda que sempre marcou as conquistas gremistas, duvido de Dorival, Cristóvão ou Muricy. Efetivar Roger seria uma boa opção.
Outra questão que fica é que mais uma vez o ciclo se reinicia no Grêmio: o técnico da diretoria anterior vai bem, esta direção não se reelege, a diretoria eleita fica quase que "obrigada" a ficar com o técnico da direção antiga para demiti-lo meses depois e reiniciar tudo de novo. Roth caiu em abril de 2009. Já Renato caiu em 29 junho de 2011 enquanto Luxemburgo sai em 29 em junho de 2013. Dois anos exatos, e há bem mais que uma mera coincidência nisso tudo. Até quando vai este círculo vicioso, movido a rancor, que tanto faz mal ao Grêmio? Ou melhor: quando a gestão do futebol gremista vai se profissionalizar de verdade, para que isso não aconteça mais?
Comentários
Fui, digamos assim, ligeiramente simpático à ideia de Luxemburgo sair após o fracasso (e não podemos relativizar, foi fracasso mesmo) na Libertadores. No momento em que ocorre, porém, simplesmente não faz sentido. A não ser que haja um fato novo negativo - e é esse o meu palpite.
Não sei se isso se confirma, mas se for verdade, ou Luxemburgo é muito burro ou muito esperto. Burro eu digo no sentido de que não é a primeira vez que ele faz isso. Lembram como ele saiu do Palmeiras em 2009?
E esperto porque ele bem pode, tanto naquela vez quanto agora, ter forçado isso pra conseguir a multa rescisória do contrato. Mas não sei até onde isso é teoria conspiratória. Pensando profissionalmente, prefiro muito mais estar empregado do que tentar uma rescisão milionária.