O velho clássico de sempre

Brasileiros e uruguaios se enfrentam por competições oficiais desde 1916. São 97 anos de confrontos. Mais uma vez, o destino os coloca frente a frente em uma partida decisiva por um grande torneio. Já fazia quatro anos que ambos não enfrentavam desde aqueles 4 a 0 aplicados pelo Brasil em pleno Centenário, pelas Eliminatórias, em uma fase iluminada da Era Dunga.

Favoritismo é uma palavra que absolutamente não cabe neste confronto desde 1950, mas o Brasil chega, digamos, com condições um pouco melhores de seguir adiante. A seleção vem completa: Paulinho está recuperado, David Luiz também. O jogo é no Mineirão, outro fator potecialmente positivo. Digo potencialmente porque o Uruguai adora estragar festas, e recentemente tem as estragado, não só lá no começo do século XX. Mística à parte, a Celeste é muito experiente e no mínimo não sentirá qualquer peso de fator local em favor do Brasil.

O Brasil tem mais qualidade técnica individualmente falando, mas talvez isso não pese tanto por alguns motivos. Primeiro, porque o ataque uruguaio é fortíssimo. Fred não é superior nem a Cavani, nem a Forlán e menos ainda a Suárez, embora Neymar sim. Segundo, porque este maior nível geral brasileiro não é tão superior a ponto de podermos ignorar que o Uruguai é um time formado há muito mais tempo, que se conhece muito melhor, e portanto é bem mais entrosado e acostumado a jogos decisivos que este incipiente Brasil de Luiz Felipe Scolari. Até nisso há equilíbrio.

O que pode desequilibrar é o momento. O do Brasil é melhor. A seleção tem jogado bem há várias partidas, e visivelmente evoluiu em termos táticos. O Uruguai, por outro lado, embora tenha vencido quatro de seus últimos cinco jogos, está tentando estancar um momento que era de suprema decadência de uma geração que foi semifinalista da Copa de 2010, campeã da Copa América e liderava as Eliminatórias até começar a levar várias goleadas que ameaçam sua participação no Mundial de 2014. Tabarez ainda busca a melhor formação para retomar a regularidade em alto nível que seu time não apresenta há dois anos. Ela passa por Forlán, Suárez e Cavani juntos, claro, mas com dois ou três zagueiros? Rodríguez ou Lodeiro no meio? Arévalo ou Gargano? Forlán recuado ou aberto pela esquerda?

Por isso, com a sabedoria de seus 86 anos, Alcides Ghiggia, carrasco brasileiro no Maracanazo de 1950, afirma que hoje não dá para dizer que haverá Mineirazo. Não que o Uruguai não possa calar o Mineirão como fez com o Maracanã há seis décadas, mas porque não há uma diferença tão grande assim entre as equipes como, dizem, havia naquela época. Mas uma nova frustração em verde e amarelo pode sim ocorrer novamente. Sem a magnitude daquela, óbvio, mas pela experiência uruguaia e pelo fato de o Brasil ser um time ainda em construção, algo que as últimas vitórias não podem esconder para baixo do tapete. O certo é que a classificação hoje ajudará a afirmar o vencedor, seja o Brasil em sua construção de time, seja o Uruguai em sua tentativa de retomar os bons momentos não tão distantes assim no tempo.

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