O melhor Neymar que a seleção já viu



O grande mérito de Luiz Felipe Scolari nestes seis meses à frente da seleção, até o momento, é a recuperação de Neymar. Finalmente, ele está fazendo a diferença com a camisa amarela de forma efetiva. E este melhor Neymar que a seleção já viu não é um Neymar parado, de braços cruzados num canto do campo, esperando que o time marque por ele e lhe dê a bola para resolver sozinho o jogo. É um Neymar participativo, que volta para marcar, recompor o meio, tabelar com que cai pelo seu lado, que busca a bola junto aos volantes, que, pasmem, dá carrinho e comete faltas. Ajudar na marcação não tira pedaço de ninguém. É um bom treino para o que ele viverá no Barcelona a partir de agosto.

Felipão tem mesmo o histórico de apostar e recuperar grandes jogadores. No caso de Neymar, nem chega a ser uma recuperação, mas sim uma "apresentação" à seleção brasileira. Luiz Felipe faz Neymar crescer trazendo-o para junto do time, e não como uma entidade isolada, para qual todos devem rezar que resolva tudo por conta própria, o que tira um enorme peso de suas costas. Isto inclui não só incumbir-lhe de tarefas defensivas, mas também aproximar outros jogadores para que ele possa realizar tabelamentos e não atue tão isolado, o que é um prato cheio para o individualismo. As ótimas tabelas com Marcelo são o maior exemplo disso. Algumas arrancadas de Paulinho e Oscar (hoje não vistas) também.

Há algumas coincidências evidentes entre o jogo de hoje e o de sábado, em Brasília: um gol no começo do jogo, de Neymar, outro no final de Jô; a boa volta do Brasil para ambos os tempos de jogo; e a vitória, sem sofrer gols, o que faz da seleção a única que ainda está com a baliza intacta na Copa das Confederações. Mas há outras grandes diferenças, que se não são preocupantes, obrigam todos a colocarem os pés no chão quando falamos a respeito do potencial e do crescimento que o Brasil tem apresentado nos últimos jogos.

O Brasil não teve a imposição que apresentou contra o Japão. É certa forma normal que a superioridade não fosse tão grande, afinal, o México é uma equipe mais forte. Mas houve problemas dentro do próprio Brasil. Oscar, por exemplo: inquieto no Mané Garrincha, deu dinamismo e foi peça fundamental na estreia, mas hoje não dá nem para dizermos que ele sumiu do jogo, pois sequer deu as caras no Castelão. Isso dificultou a criação de jogadas e forçou, muitas vezes, os zagueiros a darem chutões para levarem a bola até o ataque. A seleção tem um único meia, e por isso depende demais dele. E isso é um problema e tanto, ao menos enquanto Felipão não achar outro modo de amenizar a questão.

A seleção novamente começou bem o jogo, fez o gol cedo e recuou. O México é um bom time, mas que vive uma péssima fase. Chicharito Hernández e Giovani dos Santos se movimentavam muito, o lateral Mier subia bem pela direita, sempre às costas de Marcelo, mas desta vez a dupla de zaga brasileira esteve bem. No segundo tempo, os problemas aumentaram com a entrada de Barrera, que cansou de envolver a defesa brasileira em seu lado esquerdo defensivo, visivelmente o mais fraco da seleção. Mas aí veio o segundo gol, do iluminado (quem diria?) Jô, em jogada espetacular de Neymar. Gol que trouxe festa para a torcida, mas foi um exagero diante do equilíbrio do jogo.

Foi uma vitória importante, que praticamente classifica o Brasil. A seleção já conta três partidas sem sofrer gols, um dado positivo. Mas eu esperava um melhor funcionamento coletivo da equipe, uma evolução, e isso não foi visto em Fortaleza. Ao menos, viu-se Neymar em uma evolução para lá de consistente.

Em tempo:
- Emocionante os 51 mil torcedores e os 11 jogadores do Brasil seguindo com o hino nacional mesmo após o protocolo tê-lo desligado dos alto-falantes. Talvez os protestos, mesmo que em parte sejam contra a realização da Copa do Mundo, estejam despertando nos brasileiros um sentimento de orgulho que se reverte em apoio à seleção durante esta Copa das Confederações, ao menos dentro dos estádios. E às favas o Padrão FIFA de hinos curtos!

Copa das Confederações 2013 - Grupo A - 2ª rodada
19/junho/2013
BRASIL 2 x MÉXICO 0
Local: Castelão, Fortaleza (BRA)
Árbitro: Howard Webb (ING)
Público: 50.791
Gols: Neymar 8 do 1º; Jô 47 do 2º
Cartão amarelo: Daniel Alves, Thiago Silva, Rodríguez, Guardado e Herrera
BRASIL: Júlio César (5,5), Daniel Alves (6), David Luiz (6,5), Thiago Silva (6,5) e Marcelo (5,5); Luiz Gustavo (6), Paulinho (6,5) e Oscar (4) (Hernanes, 16 do 2º - 5,5); Hulk (5,5) (Lucas, 32 do 2º - sem nota), Fred (4,5) (Jô, 36 do 2º - 6,5) e Neymar (8). Técnico: Luiz Felipe (6,5)
MÉXICO: Corona (5,5), Mier (6), Rodríguez (5), Moreno (5,5) e Salcido (5); Torres (5) (Barrera, 24 do 2º - 6), Torrado (5,5) (Jiménez, 42 do 2º - sem nota), Flores (5) (Herrera, 12 do 2º - 5,5) e Guardado (5,5); Giovani dos Santos (5,5) e Hernández (6). Técnico: José Manuel de la Torre (4,5)

Comentários

franke disse…
Esse jogo teria melhor efeito se o Brasil tivesse levado um gol.
franke disse…
Mas o Felipão sabe que o Brasil não foi tão bem. Uma vez ele respondeu a um cara que tava perguntando se as críticas massivas dos palmeirenses perturbavam ele. "Não. Pois ninguém me cobra mais do que eu mesmo."

PS: esse VdP anda muito exigente.
Vicente Fonseca disse…
Também acho que o placar não pode mascarar os problemas do Brasil. 2 a 1 teria sido um resultado melhor. Até o 1 a 1 talvez fosse mais adequado ao que foi o jogo do que 2 a 0.

E cara, sei que essa VdP é um saco, mas bem pior é eu ter que de hora em hora ficar apagando spams nos comentários. Vamos com paciência e fé que dá!
Lourenço disse…
Não concordo, Neymar nunca foi o problema da seleção brasileira para ser recuperado. Até pouco tempo atrás, tinha 32 jogos e 20 gols, uma média ótima, provavelmente foi o artilheiro da Era Mano. Porém, repetindo um lugar comum, em um time bagunçado e que se alterna demais, é difícil o individual aparecer.
Estou defendendo Neymar, mas a minha conclusão pode parecer que não: é muito mais o Brasil que melhorou e, por isso, Neymar apareceu, do que o inverso.
Vicente Fonseca disse…
Lourenço, o Neymar nunca foi o problema da seleção, e eu não disse isso. Tampouco acho que ele está sendo recuperado (lê o começo do segundo parágrafo). Acho só que o futebol que ele tem jogado é o melhor disparado dele pela seleção nestes três anos. Passa muito pela organização melhor do time, sem dúvida, e esta organização tem nele voltando para auxiliar a defesa um dos pontos principais, na minha avaliação.
Vicente Fonseca disse…
E sim, ele é o artilheiro da seleção desde a Copa de 2010.