Aprovado (e crescendo)



O Brasil passou no teste. É verdade que a Itália veio sem De Rossi e Pirlo, mas ao contrário do jogo de Genebra, em março, há três meses, a Azzurra não dominou a partida em Salvador. Nem o Brasil, na verdade: foi um jogaço equilibrado, elétrico, emocionante, com erros de arbitragem, e cujo placar final, de 4 a 2, poderia ter sido 3 a 3 sem problema algum, até porque o time italiano era melhor quando Fred definiu a contagem.

Mas alguém haveria de dominar um duelo tão equilibrado quanto o das duas seleções mais vezes campeãs do mundo? Dificilmente. Portanto, é preciso elogiar o Brasil, já obtém sua quarta vitória em sequência, contra uma seleção gigantesca, e de forma merecida, pois foi melhor. A repetição que Luiz Felipe tem conseguido executar, embora Paulinho hoje não tenha podido atuar, afina o Brasil de modo muito claro. Mais uma vez, Neymar e Hulk voltaram e se uniram a Oscar, outra vez apagado, na armação de jogadas. Ao contrário dos primeiros jogos com Felipão, a seleção tem um meio-campo recheado e consistente.

A pressão inicial foi intensa, mas durou só dois minutos. Logo o time italiano equilibrou a partida, que foi de muita marcação e poucas situações de gol nos 45 minutos iniciais. Era um verdadeiro jogo de xadrez. Neymar e Marcelo se viam diante de um trio de marcadores formado por Abate, Candreva e Montolivo. Marchisio, Aquilani e Diamanti exibiam boa movimentação, mas Balotelli era bem isolado pelo sistema defensivo brasileiro, mesmo que Dante tenha entrado vacilante. Foi justamente o gol deste zagueiro, no apagar das luzes da primeira etapa, que fez o jogo ferver na Fonte Nova.

A Itália 2013, que é a Itália de um bom ataque e uma defesa frágil, voltou a ser a Itália dos velhos tempos no gol de Giaccherini. Um tiro de meta, um erro de posicionamento de Luiz Gustavo, um passe genial de Balotelli e chute potente do meia que, combinados, empataram o jogo. Um show de objetividade. Aí, Neymar novamente chamou a responsabilidade, batendo uma falta de forma perfeita, no canto de Buffon, o que surpreendeu o grande goleiro italiano. O jogo ficou lá e cá. É verdade que a Itália não tinha a inventividade de Pirlo para furar o bloqueio brasileiro, mas não dá para não reconhecer que a seleção se defendeu bem, com consistência. Segurou bem as tentativas da Azzurra e levava perigo com a bola no pé. Panorama que não mudou após o gol de Fred, típico de centroavantes rompedores.

O fato de Fred ter marcado dois gols é importante, pois centroavantes vivem disso, e claramente a falta de bola na rede já começava a pesar sobre o 9 do Fluminense. Outro destaque foi Thiago Silva, muito seguro na marcação a Balotelli, e assumindo o papel de líder da defesa como só os grandes zagueiros o fazem. Ainda assim, o grande destaque novamente foi Neymar. Além do golaço, em um momento difícil do jogo, participou demais da partida, cometendo tantas faltas que chegou a ter que ser substituído por Felipão por já estar amarelado. Sua tarde foi tão iluminada que compensou jornadas medíocres de Oscar e Hulk. E Bernard, que entrou em seu lugar, foi mais efetivo que Lucas vinha sendo. No entanto, sem Neymar, o Brasil perdeu o meio. Prova de que ele realmente recompõe o setor com grande valia tática para a equipe. O Brasil é talvez mais dependente de Neymar hoje em termos táticos que técnicos, algo surreal se fosse dito a um par de semanas atrás.

À Itália, pesaram demais os desfalques. Prandelli montou um time com boa movimentação no meio, e seus jogadores estiveram em uma jornada técnica de bom nível, mas nenhum é diferente como são Pirlo e De Rossi. A fragilidade defensiva do time é que assusta: são 8 gols sofridos em 3 jogos. Abate é fraco, Chiellini segue desprotegido, De Sciglio exibiu novamente dificuldades na marcação e Aquilani não conseguiu proteger a defesa como De Rossi. A saída do inseguro Barzagli em nada melhorou a retaguarda italiana. O cenário para pegar provavelmente a Espanha é assustador neste sentido.

Nada, porém, que diminua a vitória brasileira. Foi uma atuação convincente, uma vitória maiúscula, contra uma das melhores e mais tradicionais seleções do mundo. Problemas? Claro que existem. O meio ainda não é suficientemente compacto, as laterais ainda abrem espaços atrás, o time depende muito ainda de Neymar... Mas já há um certo padrão ofensivo e até defensivo muito claro. Há um ano ainda até a Copa do Mundo. Se o Brasil, em formação, já está conseguindo uma campanha bem sólida nesta Copa das Confederações, fazendo 4 a 2 em um time como a Itália, a tendência para o ano que vem é chegar como um dos favoritos ao título - o que até duas ou três semanas atrás soaria um absurdo. Nada como uma boa competição para ajeitar a casa. As Eliminatórias fizeram falta.

Em tempo:
- Fazer o Brasil usar calção branco diante da Itália é um crime que a chatice do Padrão FIFA impõe. Em tempos de TV em HD achar que o calção de um time vai confundir com a camisa do outro é de um preciosismo sem qualquer sentido.

Copa das Confederações 2013 - Grupo A - 3ª rodada
22/junho/2013
BRASIL 4 x ITÁLIA 2
Local: Fonte Nova, Salvador (BRA)
Árbitro: Ravshan Irmatov (UZB)
Público: 48.874
Gols: Dante 45 do 1º; Giaccherini 5, Neymar 9, Fred 20, Chiellini 25 e Fred 43 do 2º
Cartão amarelo: David Luiz, Luiz Gustavo, Neymar e Marchisio
BRASIL: Júlio César (5,5), Daniel Alves (5,5), David Luiz (5,5) (Dante, 33 do 1º - 6), Thiago Silva (7) e Marcelo (6); Luiz Gustavo (5,5), Hernanes (5,5) e Oscar (5); Hulk (5) (Fernando, 30 do 2º - sem nota), Fred (7,5) e Neymar (7) (Bernard, 23 do 2º - 6). Técnico: Luiz Felipe (7)
ITÁLIA: Buffon (4,5), Abate (5) (Maggio, 29 do 1º - 4,5), Bonucci (5,5), Chiellini (5,5) e De Sciglio (4,5); Montolivo (5,5) (Giaccherini, 25 do 1º - 6), Aquilani (5), Candreva (5,5), Marchisio (6) e Diamanti (6) (El Shaarawy, 26 do 2º - 5); Balotelli (5,5). Técnico: Cesare Prandelli (5,5)

Comentários

Samir disse…
O lado esquerdo de ataque do BRasil, com Neymar e MArcelo está bem demais. Agora, Felipão precisa melhorar a cobertura do Marcelo. O México soube explorar aquele lado no segundo tempo, é algo que precisa ser mais treinado.

O time hj tem um padrão de jogo, tem dinãmica, enfim, tem uma cara. Agora, precisamos ver as individualidades aparecendo mais. Como bem disseste, a meia cancha ainda precisa de um armador, pelo menos alguém para dividir a tarefa com o Oscar,

Sobre o lance do segundo gol italiano, erro grave do juiz. Tudo bem que ninguém tenha parado no lance, a bola entraria de qquer forma, mas ele claramente marcou o penalti, não dá pra voltar atrás nisso.

E sobre o calção, acho que mais do que por conta da TV, a diferença dos calções pode servir para ajudar o bandeirinha num lance de confusão na área.
Vicente Fonseca disse…
O Marcelo é fundamental para esse crescimento do Neymar. Agora, o guri tem com quem tabelar, não precisa partir para a jogada individual sempre, tem parceria. Hoje até acho que não combinaram tanto quanto em outros jogos, mas é uma dupla realmente muito boa.

Concordo que falta cobertura ao Marcelo. Acho que a entrada do Hernanes e saída do Hulk do time ajudaria nesse sentido.

Erro grave do juiz no segundo gol da Itália e do bandeira no primeiro gol do Brasil. Arbitragem mais fraca da Copa das Confederações.

Quanto aos calções, minha reclamação é porque sempre Brasil e Itália jogaram com seus uniformes tradicionalíssimos. Acho que é muita pouca vantagem pra descaracterizar assim o clássico. As camisas são muito diferentes para haver qualquer tipo de confusão.
Sancho disse…
Quando a Itálida deixou de jogar com calção branco?!
Vicente Fonseca disse…
Ela ainda joga, Sancho, mas desde que o adversário não tenha camiseta, calções ou meias brancos (uma das três peças brancas). Ou seja, quase nunca. Uma pena.

Camisetas da mesma cor ou calções da mesma cor tudo bem, mas impedir que uma peça coincida de cor com outra totalmente diferente é um exagero, que só serve para descaracterizar os times. Aí vemos um Brasil de amarelo contra uma França de branco em 2006, jogos como o de ontem, e por aí vai...
Sancho disse…
Mas o uniforme da Itália era camisa azul, calção branco e meias azuis. Fosse assim, o Brasil não precisaria trocar o dele. Quando virou todo azul?
Vicente Fonseca disse…
Aí é que tá. Como o Brasil tem calção azul, não pode usá-lo. A nova regra da FIFA proíbe que qualquer peça de roupa de uma seleção tenha cor igual a qualquer outra peça do adversário. Por isso o Brasil tem que usar o calção branco, já que a camisa e a meia da Itália são azuis. E o calção da Itália, por isso, fica azul também (a meia brasileira é branca).