Sobrou coração, faltou bola

Abel Braga tem razão num aspecto: o Fluminense demonstrou força demais. É um time que jogou boa parte da Libertadores sem algumas figuras importantes - Deco, Thiago Neves, Wellington Nem e Fred, por exemplo, desfalcaram a equipe por um ou mais jogos. Com tantos problemas, cair diante do forte Olímpia por pouco no Paraguai, nas quartas de final, fica até de bom tamanho.

Ao falar em injustiça é que o técnico do Flu se perde. O que o Olímpia fez não se resume ao antijogo, como gostam de dizer os brasileiros que perdem Libertadores e envaretam por isso. Os paraguaios simplesmente souberam, com a inteligência de Ever Almeyda e de um elenco experiente, explorar as deficiências do Flu como poucos. No Rio, soube se fechar e quase não deu chances para o Tricolor Carioca adentrar sua área com real perigo. Em São Januário, ficou exposta de forma escandalosa a dificuldade do time de Abelão em furar bloqueios bem montados. Sem ninguém para criar (Wagner, insisto, ainda não é sombra do bom meia dos tempos de Cruzeiro), o time ficou na dependência de bolas alçadas para a área.

Em Assunção, a equipe da casa foi obrigada a ir além. Sofrer um gol no começo do jogo, em uma falha grotesca de um zagueiro tão experiente quanto Manzur, é de desmanchar qualquer time. Mas o Olímpia teve personalidade. Sem medo de arriscar, Almeyda corrigiu um erro de escalação e pôs Ferreyra junto de Bareiro e Salgueiro. Com três atacantes, seu time deixou de ser dominado e passou a pressionar o Flu, que vazou com uma facilidade surpreendente para quem foi campeão brasileiro principalmente por se defender bem. A virada veio em falhas de Diego Cavalieri e Digão, mas foi fruto especialmente da ousadia do técnico uruguaio que comanda o rei de copas do Paraguai. Uma mudança que alterou completamente o panorama da partida.

A etapa final foi o que de melhor fez o Flu fez nos 180 minutos. Ajudado pelo excesso de faltas cometidas pelo Olímpia, ergueu dezenas de cruzamentos para a área, quase sempre afastados ou defendidos por Martín Silva. Sobrou coração ao Fluminense, mas faltou bola: Rhayner, autor do gol, foi um leão, brigando por cada bola como se fosse a última. Fred, apesar de isolado pela má conjuntura ofensiva do time, nunca se omitiu. Assumiu o papel de capitão, incomodou o árbitro, apitou o jogo muitas vezes e ainda brigou com os paraguaios quando foi necessário. Mas faltou a criação de jogadores, faltou a imaginação que Wagner e Thiago Neves deveriam ter, faltou a inspiração que Wellington Nem ainda não teve em 2013. O Fluminense fez um de seus melhores jogos na Libertadores justamente porque teve coração. Mas repetiu seus problemas de sempre que, frisamos desde fevereiro, iriam lhe custar a vaga contra o primeiro rival realmente complicado que pegasse pela frente. Para tirar o Olímpia, é pouco.

No duelo particular contra Abelão, Almeyda levou novamente a melhor, como na semifinal de 1989, quando jogava pelo Olímpia e Abel treinava o Inter. Hoje, o técnico mostrou ousadia também ao só retirar um dos três atacantes no fim do jogo, para suportar a pressão. Tricampeão da América, o Olímpia tem boas chances de disputar mais uma final e brigar pelo tetra. Tem um time mais encorpado que o Santa Fé, seu adversário na semifinal, em julho. Como os colombianos, eliminou um brasileiro do torneio, o que é uma credencial e tanto para seguir adiante.

26 pênaltis depois
A classificação do Newell's Old Boys às semifinais veio com muito mais drama do que todos supunham. A repetição do 0 a 0 ocorrido na Bombonera na semana passada levou o Coloso del Parque a uma interminável decisão por pênaltis, onde 26 cobranças foram efetuadas e 19 delas convertidas. Até Riquelme errou. No fim das contas, 10 a 9 para o time de Rosário, que é tecnicamente superior ao Boca Juniors. Má notícia para o Atlético Mineiro, que se passar pelo Tijuana terá que enfrentar o time de Tata Martino na semifinal. Um jogo com cara de final antecipada, pela bola que ambos vêm jogando.

A dura realidade
A goleada sofrida por 5 a 1 para o São Paulo no Morumbi joga o Vasco de cabeça em sua dura realidade neste Brasileiro, que será mesmo a de tentar evitar o rebaixamento. Outro time que está entre os favoritos para voltar à Série B é o Náutico, que levou 3 a 0 do Vitória em casa e já perdeu a segunda. O Bahia, outro tido como rebaixável, ficou no 0 a 0 em casa com o Coritiba. Mau resultado, mas não levar gol, a essa altura, é lucro para o Tricolor da Boa Terra.

Comentários

Chico disse…
Mais uma vez abel braga é enxotado da Copa pelo Olímpia.

Discordo, Vicente. O Santa Fé é mais time que o Olímpia.

Clemente Rodríguez, o grande herói da la fiesta leprosa.
Vicente Fonseca disse…
Tu acha mesmo, Chico? Entre os dois, acho o Olímpia um time mais encorpado defensivamente, e não tão dependente de um único jogador como o Santa Fé é em relação ao Omar Pérez. Mas vai ser equilibradíssimo, com certeza.
Diogo Terra disse…
Sim, no papel o Newell's é mais time que o Boca.

Mas deve agradecer à má pontaria do Blandi e à mão de jacaré do goleiro boquense nos pênaltis.

Do contrário, estaríamos todos palpitando mais um confronto do Bianchi com brasileiros.

Se o Galo souber tratar a Síndrome de Cuca-Bielsa (montar timaços de encher os olhos mas que dão ré no quibe na hora H), não deve ter problemas com os leprosos.