A mais sábia e impopular decisão

Já disse na madrugada de quinta para sexta, ainda no calor triste da eliminação, e repito agora, passados quatro dias: a melhor alternativa para o Grêmio era mesmo a manutenção de Vanderlei Luxemburgo no comando do time. O trabalho de Luxa em 2013 é fraquíssimo, boa parte da culpa da eliminação em Bogotá é dele, e seu time, desde o bom ano passado, vem apresentado problemas nos mata-matas. Tudo isso é fato. Mas nada que deva ser forte o suficiente para jogar tudo o que foi construído para o alto e reiniciar o trabalho do zero, mais uma vez.

O Grêmio não precisa fazer terra-arrasada, e demitir Luxemburgo seria um duplo erro de planejamento. Seria a admissão de que o ano do Grêmio se resume à Libertadores, um erro que o clube vem repetindo desde que retornou da Série B, em 2006. É possível formar time para ganhar a Libertadores, mas é preciso considerar que trata-se de algo arriscado, difícil de planejar, pois é um torneio de mata-mata, onde um erro de arbitragem, por exemplo, pode fazer o projeto todo ir pelos ares. O Corinthians, eliminado assim pelo Boca, certamente não porá em xeque todo o seu trabalho de dois anos. Não dá para planejar o futebol de forma profissional apostando tudo numa só competição.

Mantendo Luxa, o Grêmio reafirma que sua temporada vai além do título continental, e traz seriedade ao trabalho: se há um plano bem traçado, não é qualquer comandante que ficará à frente do time, mas o comandante que participa deste processo desde o início. O Brasileiro, competição longa, onde o planejamento é ainda mais essencial, vale muito também. Sem falar na Copa do Brasil, um atalho para a volta das grandes conquistas tricolores.

Os exemplos de Tite no Corinthians (eliminação para o Tolima) e Cuca no Atlético Mineiro (levou 6 a 1 do Cruzeiro no Brasileiro) já se tornaram repetitivos. Se é para buscar um exemplo, busquemos no próprio Grêmio. Lá atrás, mas com o mesmo Fábio Koff: em 1983, foi ele quem bateu o pé e manteve Valdir Espinosa após uma vexatória eliminação em casa para a Ferroviária de Araraquara no Brasileirão. Dez anos depois, enfrentou a ira dos torcedores, que nunca digeriram a demissão de Cassiá, e manteve o "retranqueiro" (segundo os próprios gremistas da época) Luiz Felipe Scolari após ser eliminado do Brasileirão com três rodadas de antecedência após uma atuação (coincidência?) "covarde" na Vila Belmiro, contra o Santos. Nos dois casos, a continuidade deu no que deu. Se fosse guiado pelo clamor da torcida, talvez o Grêmio não tivesse tantos títulos grandes como tem.

Jogador joga, dirigente dirige, treinador treina e torcedor torce. Esta máxima do futebol até hoje é verdadeira, mas nem sempre aplicada. Dirigente não pode agir como torcedor, torcedor não pode dirigir nem treinar. Mas todos podem cobrar, e no caso é Luxemburgo que precisa ser cobrado, mostrar serviço, treinar e corrigir os defeitos do time, que é o que ele sabe fazer melhor, sem se meter em questões que competem à direção, como o contrato com a OAS. Ele precisa passar pelos momentos difíceis, até por ter pedido dois anos de contrato a Koff e Rui Costa, e não ser mandado embora e ir descansar no Rio de Janeiro com alguns milhões na conta, aguardando o próximo convite para um novo trabalho. Quanto aos jogadores, têm de mostrar serviço, jogar, dizerem igualmente a que vieram. Em relação à direção, que se prepare para dirigir o Grêmio segurando a pressão que recairá sobre a comissão técnica, pois ela será forte. O clube vencedor é aquele em que normalmente esse velho chavão do começo do parágrafo é cumprido. O Grêmio começa bem, pelo "dirigente dirige", que é muitas vezes o mais difícil deles. Agora faltam os três elos da cadeia.

Comentários

Chico disse…
VIVA! Os cúlorados já podem comemorar, pois o Tricolor já garantiu mais uma temporada de fiascos!

O Tricolor nunca gastou tanto para tantos fracassos.
Marcelo disse…
Vicente, infelizmente eu concordo.
Desde que o Luxemburgo renovou, sempre tive mais esperança no Brasileiro do que na Libertadores.
Se meu cérebro acha melhor que ele fique, meu fígado ainda não aceitou tudo isso.
Abraços!
Vicente Fonseca disse…
É isso aí, Marcelo. Basta não pensar com o fígado e pesar os prós e contras pra ver que é a melhor solução. Inclusive financeiramente. Luxa é caro, mas demiti-lo, pagar multa e trazer outro (que não seria tão mais barato, e provavelmente pior técnico) acarretaria gastos ainda maiores.
Franke disse…
Não existe chance de um racha (já existente?) no vestiário contra Luxemburgo?
Vicente Fonseca disse…
Nunca sabemos ao certo o que existe intramuros. Porém, acho que se houvesse algo do tipo o Luxemburgo seria demitido. Na Colômbia o clima entre todos na delegação parecia bom, e até o Barcos, que é quem teria mais motivos para brigar com o Luxa, veio a público defender ele numa coletiva segunda-feira. Acho que não existe esse tipo de coisa, mas só acho, pelos indícios que chegam até a gente.
Franke disse…
Bah, tomara que tu esteja certo. Poucas coisas decepcionam mais o torcedor que time brigado e jogando pra não ganhar.
Vicente Fonseca disse…
Meu entendimento é que a derrota na Colômbia ocorreu por pura covardia mesmo, o que é quase tão grave quanto. Mas clima ruim, mesmo, não vejo. Acho até que o Grêmio estava bem mobilizado para ganhar a Libertadores, unido - o fato de o Cris ter ido pro Chile sem poder jogar, só pra ficar junto na concentração, por exemplo, é uma prova disso. Mas faltou postura de time grande em Bogotá.
Lourenço disse…
Boa decisão da direção. É uma hora boa de acompanhar e guardar o posicionamento do torcedor e da mídia para mais tarde relembrar...