O que esperar do Santa Fé

Atual campeão nacional e líder do Torneio Apertura, o Santa Fé é o melhor time colombiano da atualidade, o que não é pouco. Dono da segunda melhor campanha da fase de grupos da Libertadores e único time invicto da competição, impõe respeito por todos esses predicados. Afinal de contas, ser a melhor equipe de um país não significa boa campanha em termos continentais, mas os comandados de Wilson Gutiérrez têm conseguido.

Há muito tempo fora do circuito efetivo de competições continentais, a equipe fez uma boa campanha na Copa Sul-Americana de 2011, ao golear o Botafogo por 4 a 1 no mesmo El Campín que o Grêmio visitará no próximo dia 16. Nesta Libertadores, o Santa Fé passou fácil por um grupo tranquilo, coisa que muita gente grande não conseguiu. Não houve goleadas, mas as atuações vêm num crescente - embora as últimas partidas pelo Campeonato Colombiano tenham mostrado certa irregularidade de desempenho.

Gutiérrez não hesita em alterar o esquema da equipe. Nos dois primeiros jogos (empates em 1 a 1 com Garcilaso, fora, e Tolima, em casa), o time foi escalado num 3-5-2. Apesar dos três zagueiros, a formação deixou a defesa excessivamente desguarnecida, especialmente pelo lado esquerdo, já que Arias, que atuava como ala, é na verdade um meia-atacante, deixando os zagueiros por aquele lado normalmente no mano a mano. Desde que passou a atuar com quatro jogadores na linha defensiva, a equipe mantém 100% de aproveitamento na Libertadores, e deu uma acertada no sistema defensivo, embora ele não seja totalmente seguro.

O curioso é que, apesar desta linha de quatro homens atrás, Gutiérrez seguiu mudando frequentemente a formação do meio para a frente. O Santa Fé é um time muito bem organizado, mas sem um esquema definido e definitivo. Na vitória por 2 a 1 sobre o Cerro Porteño, no Paraguai, o técnico optou pelo defensivo 4-3-2-1. Apesar da vitória, não foi uma grande atuação. O time sofreu demais atrás e conseguiu a vitória em dois gols de pênalti de Omar Pérez, cometidos bem mais pelo nervosismo dos paraguaios que por grandes méritos dos colombianos.

Contra o Cerro, em Bogotá (1 a 0), esquema novo: 4-2-2-2. A formação diminuiu o potencial ofensivo dos volantes, um dos trunfos da equipe, mas deu segurança atrás não vista ainda. Nos 2 a 1 sobre o Tolima fora de casa, uma mudança interessante: meio em losango, com Anchico e Arias fazendo uma dupla função de marcar e armar. Nos 2 a 0 sobre o Garcilaso, uma volta ao 3-5-2. O volante Pérez, com mais liberdade, voltou a ser um dos grandes destaques, mas a defesa fez algumas bobagens.

A formação que deve ser escalada diante do Grêmio ainda não foi testada na Libertadores: é um 4-3-1-2, com Torres, Bedoya e Anchico de volantes (todos com alguma liberdade para ser elemento-surpresa), Pérez isolado na criação e Medina e Cuero, muito velozes, na frente. Para sorte gremista, Arias está lesionado. Trata-se de um meia habilidoso e vertical, como veremos na análise do elenco.

ANÁLISE DO ELENCO
Os perigos e fraquezas que cada atleta da escalação do inicial do Santa Fé representa
Vargas (12): goleiro que vive ótimo momento, é ídolo da torcida. É rápido nas saídas de mano a mano e firme nas defesas.
Roa (17): lateral com características mais defensivas, sobe pouco.
Valdés (3): havia perdido a titularidade recentemente, mas está de volta. Atuava como líbero no esquema de três zagueiros. Tem boa saída de jogo, mas peca no jogo aéreo.
Meza (21): tem atuado melhor desde que ficou mais protegido, mas apresentou graves problemas no 3-5-2, quando ficou mais exposto. É lento e constantemente envolvido na velocidade.
Acosta (24): participou pouco da Libertadores, mas fez grande jogada no segundo gol sobre o Garcilaso. Mostrou força no apoio, com velocidade.
Torres (16): bom volante. Bem entrosado com Pérez, marca bem e sai para o ataque com qualidade, frequentemente se infiltrando e pegando a defesa adversária de surpresa. Realiza também bons lançamentos.
Bedoya (20): veteraníssimo, 37 anos, vem para dar experiência à meia-cancha. Apesar de lento, tem liderança e um bom chute de longe.
Anchico (5): versátil, atuou já como volante, ala e lateral nesta Libertadores. Dá segurança ao lado direito e às vezes arrisca subidas, mas só na boa. Não costuma sair tanto como Torres.
Pérez (10): cérebro do time. Jogador de grande qualidade técnica e visão de jogo. Dá bons lançamentos e assistências precisas, e é ótimo nas bolas paradas (escanteios, faltas diretas a gol colocadas ou faltas da intermediária levantadas de frente para a área rival). Contra o Cerro, fez dois gols de pênalti batendo do mesmo jeito: forte, baixo, no meio do gol.
Medina (11): atacante veloz, bom nos tabelamentos, pivôs e arrancados, mas perde gols demais.
Cuero (23): normalmente entra no segundo tempo, mas está cotado para começar o jogo na Arena. É rápido e habilidoso, costuma pôr fogo no jogo, mas péssimo concluidor. Seu único gol, contra o Cerro, foi totalmente sem querer, de peito.

Os perigos e fraquezas de alguns reservas ou que não jogarão na Arena
Valencia (14): perdeu espaço desde que o time passou a adotar quatro defensores. Volante de muita saúde, sem tanta qualidade para sair jogando e um chute potentíssimo de longe. É ótimo batedor de faltas na pancada.
Arias (7): sorte do Grêmio de ele estar lesionado. Jogador liso, habilidoso e de bom chute, causa frequentes problemas à defesa adversária pelo lado direita. Combina bem com Pérez e com os atacantes, se infiltra muito bem na área rival. É peça-chave da equipe.
Borja (19): o primo de Rentería dá força física ao ataque sem com que ele necessariamente perca a agilidade. É o melhor concluidor do setor ofensivo, embora não tenha tanta habilidade. Costuma entrar no segundo tempo, a exemplo de Cuero, e dar dor de cabeça.
Molina (8): atacante argentino, recebeu poucas chances e foi discreto, mas tem certo potencial.
Centurión (2): zagueiro paraguaio experiente (33 anos), mas lento. Fez uma bobagem no jogo contra o Garcilaso.

PONTOS FORTES
Entrosamento do meio: Pérez e Torres se entendem muito bem: tabelam, coordenam movimentos, subidas e descidas. Arias não jogará na Arena, mas a espinha dorsal do time passa por ele também. O meio-campo é o grande trunfo do Santa Fé.

Velocidade do ataque: Cuero, Medina e Borja são rápidos. Como Omar Pérez e Torres são ótimos lançadores, as chances de um deles ficar no mano a mano com a zaga adversária, caso esta esteja desprotegida, são grandes. Muitos gols do time surgem deste modo.

Bolas paradas: o time tem dois excelentes cobradores de falta: Valencia e Torres. O primeiro solta pancadas do meio da rua como poucos na América do Sul, com muita força e grande precisão. O segundo bate muito bem as colocadas, de perto ou nem tanto. Além disso, é ótimo em escanteios e bom batedor de faltas da intermediária que buscam o jogo aéreo, especialmente as de frente para o gol, que buscam a chegada de frente de um zagueiro.

PONTOS FRACOS
Lado esquerdo da defesa: muitos prezam que Luxemburgo deve escalar Vargas na esquerda, como faz Sampaoli no Chile, mas talvez ainda não seja a hora. A velocidade do chileno será fundamental para agredir o Santa Fé em seu lado esquerdo defensivo, que é fraco. Além de ser o calcanhar-de-aquiles da equipe colombiana, não terá Arias (que é uma preocupação para que Pará não subisse) nem García, lateral titular. Meza, mesmo mais protegido, é um zagueiro tecnicamente fraco, e joga por aquele setor. As combinações de Elano com Vargas, que enlouqueceram o Caracas na Arena, serão fundamentais.

Buraco entre a zaga e os volantes: problema parcialmente corrigido por Gutiérrez no novo esquema, mas que vez por hora aparece. Como os volantes do Santa Fé sobem bastante, às vezes cria-se um espaço entre eles e a zaga que desprotege os defensores centrais. Perfeito para Elano e Vargas combinarem tabelas ou para Barcos recuar procurando armar para a infiltração de algum meia.

Conclusões dos atacantes: o ataque é liso e perigoso por isso, mas conclui mal demais. Borja até não peca tanto neste fundamento, mas Medina e Cuero cansaram de perder gols cara a cara com os goleiros adversários nesta Libertadores. O Santa Fé cria muito, mas converte pouco. Num mata-mata, isso pode ser fatal.

Comentários