Um claro aviso
Os problemas do Grêmio hoje foram muitos, mas vou basear as críticas na péssima atuação que causou a derrota para um Cruzeiro candidato ao rebaixamento em plena Arena no esquema faceiro e pouco inteligente de Vanderlei Luxemburgo, pois ele é a raiz de tudo. E mais grave que insistir nesta formação é o técnico, em sua coletiva, não enxergar ou não querer enxergar o fracasso deste mal-feito 4-3-3, colocando a culpa na apatia dos jogadores - que existiu, mas sozinha não explica o resultado.
Barcos enxergou o jogo melhor que Luxa. Disse estar travado no novo esquema, e é verdade. A ideia de Luxemburgo é aproveitar as recuadas do argentino ao meio de campo para que ele possa formar uma espécie de segundo meia, com Zé Roberto. Mas uma coisa é Barcos recuar de sua posição naturalmente, surpreendendo a zaga. Outra é ser obrigado a fazer isso quase sempre, sem poder entrar na área direito. Se o esquema diminui o potencial do Pirata, mata por completo Welliton, que é obrigado a jogar como uma ponta que nunca foi. Falta pouco para este jogador cair em desgraça com a torcida, e simplesmente por estar mal escalado.
Pode-se dizer que Vargas é diferente de Welliton, e ele é mesmo. Mas a entrada do chileno não resolverá outro problema causado por este esquema: a falta de composição no meio. Como Barcos não sabe ser meia, Zé Roberto fica sobrecarregado. Ele é craque, mas não é dois. Durante o jogo desta quinta, a cada bola perdida pelo Grêmio no ataque, normalmente por forçar uma jogada que não conseguia sair bem feita pelo chão, o Cruzeiro tinha o contra-ataque à feição. Pegava uma defesa desguarnecida, lenta e de calça curta. Faísca e Jô infernizaram os zagueiros e laterais gremistas. Imaginem então Fred e Wellington Nem, num Fluminense que foi campeão brasileiro jogando basicamente nos contragolpes, enfrentando um Grêmio vulnerável assim.
Além de tudo, o 4-3-3 que Luxemburgo tem usado para forçar a utilização de Kleber deixa o banco gremista pior. Quem pode mudar o jogo se as coisas vão mal? Marco Antônio? Luxa fechará o time para buscar um resultado adverso? Ora, Marco Antônio está longe de ser uma unanimidade, mas com ele o Grêmio ao menos tem meio de campo. E, se o time precisar avançar, aí sim, coloque-se Kleber e Welliton para pôr fogo no jogo no segundo tempo. Por que escalar todos de uma vez? Celso Roth perdeu um Brasileiro quase ganho assim, por causa de Souza, em 2008. Trocam os nomes, as posições, mas a situação é análoga. É preciso saber usar o elenco, manter o esquema que vem dando certo, e não escalar simplesmente os melhores, como se fosse um jogo de Elifoot.
Houve, claro, outros problemas além do esquema. A bola aérea defensiva segue sendo uma dor de cabeça. Hoje, foi Werley quem falhou constantemente, bem mais que Cris, o que é raro. O gol que abriu o placar na Arena foi inaceitável, uma verdadeira comédia pastelão. Houve, também, a soberba. O Grêmio enfrentava um dos piores times do Gauchão, e achou que ganharia ao natural. Jogou pouco, batia os tiros de meta com a lerdeza de quem não tinha pressa, mesmo empatando. Mereceu perder. Faltou postura, mais uma vez. E sobra irregularidade a um time que alterna grandes e decepcionantes jornadas, algo típico de quem ainda está em formação.
De todo modo, a derrota pode ter sido boa se servir de alerta. É melhor perder para o Cruzeiro em um jogo de pouco valor do Gauchão que perder para o Fluminense. Se a derrota desta noite teve alguma serventia, será a do arquivamento deste esquema ofensivista e suicida. Se não servir para isso, fica como uma prévia para o que pode ocorrer daqui a duas semanas, pela Libertadores, com consequências muito mais sérias.
Em tempo:
- Estive na Arena hoje. Incrível a facilidade para chegar e sair do estádio. Com muitas opções de saída, cheguei em casa em menos de meia hora, algo impensável para um jogo de futebol. Claro, era um público baixo, mas ainda assim o trânsito não apresentou nenhum problema. Excelente.
Campeonato Gaúcho 2013 - Taça Farroupilha - Primeira Fase - Grupo A - 4ª rodada
28/março/2013
GRÊMIO 1 x CRUZEIRO-RS 2
Local: Arena do Grêmio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Márcio Coruja (RS)
Público: 13.791
Renda: R$ 310.843,00
Gols: Jô 14, Welliton 22 e Reinaldo 28 do 2º
Cartão amarelo: André Santos, Pará, Reinaldo, Marcelo Santos, Alberto, Faísca, Jô e Cláudio
GRÊMIO: Dida (5,5) (Marcelo Grohe, intervalo - 3,5), Pará (4,5), Cris (5), Werley (3,5) e André Santos (4,5); Fernando (4,5), Souza (5,5) (Marco Antônio, 25 do 2º - 5) e Zé Roberto (5,5); Welliton (5), Barcos (5) (Willian José, 36 do 2º - sem nota) e Kleber (5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo (3,5)
CRUZEIRO-RS: Fábio (6), Reinaldo (7), Cláudio (7), Léo Carioca (6) (Rogério, 24 do 2º - 6) e Marcelo Santos (5,5); Alberto (6), Almir (5,5), Faísca (6,5) e Jean Paulo (6); Jô (7) e Jean (5,5) (Maxwall, 28 do 2º - 5,5). Técnico: Benhur Pereira (7)
Comentários
Infelizmente tem razão. O esquema não favorece em nada a parte ofensiva do time, além de deixar nossa defesa muito vulnerável. Bom, pelo menos foi num jogo sem grandes consequências, embora poderíamos abrir 2 pontos do Inter.
Quanto à Arena, não consigo entender tantas críticas. Fui a todos os jogos do tricolor, com toda facilidade de acesso, volto com tranquilidade, além de uma estrutura de bares e restaurantes no entorno que não existia no saudoso Olímpico.
Um abraço,
Marcus Staffen