Vem choradeira por aí

As edições emocionantes do Campeonato Brasileiro entre 2008 e 2010 só não foram perfeitas por conta da chatíssima - e nunca comprovada, seja de quem for - suspeita de "entrega-entrega" nas últimas rodadas. Eis que a CBF decidiu implantar a discutível ideia de colocar clássicos nas duas últimas datas do certame. Em princípio fui contra, mas deu tão certo, especialmente em 2011, que deu a impressão de que era apenas o toque que faltava para o Brasileirão de pontos corridos ficar praticamente perfeito. Agora, para 2013, a prática é arquivada.

Clubes de Rio e São Paulo indicam a falta de segurança em suas metrópoles e a incapacidade da polícia em trabalhar em dois clássicos simultâneos. É um motivo razoável: em 2011, São Paulo e Santos foram a Mogi Mirim para que Corinthians e Palmeiras pudessem definir a briga pelo título no Pacaembu. No mesmo ano, Fluminense e Botafogo jogaram em Volta Redonda para que Vasco e Flamengo jogassem no Engenhão. Seriam simplesmente quatro torcidas indo às ruas numa mesma cidade, ao mesmo tempo. De fato complicado.

A segurança dos cidadãos e torcedores devem estar acima de tudo, mas será que não vale à pena mandar um destes confrontos de cada cidade para o interior, como em 2011? Mesmo que não sejam os melhores estádios do país, ao menos evitariam um prejuízo técnico e moral para a competição. O interior paulista tem vários estádios de bom nível, como o Brinco de Ouro e o Prudentão. No caso dos times do Rio, é possível jogar em Juiz de Fora, em Minas, quase na fronteira com o Rio, onde há milhares de cariocas e um estádio para 30 mil pessoas. Não diminuiria o clássico em nada e ainda permitiria aos torcedores destas regiões acompanharem seus times de coração em um momento decisivo da temporada. Tem tudo para dar certo.

Fui contra a rodada dos clássicos quando a ideia surgiu, no final de 2010, mas no campeonato do ano seguinte ficou evidente o seu sucesso como medida para evitar a choradeira de quem perdeu e dar uma dose de emoção extra à última rodada do Brasileirão. Em 2012, com o campeonato decidido semanas antes, foi o que salvou um domingo que tinha tudo para ser melancólico e pouco atrativo - especialmente nos casos de Atlético Mineiro x Cruzeiro, Náutico x Sport e Grêmio x Internacional, todos valendo muito em termos de tabela.

O que precisa ser mudado, e não foi, são os critérios de classificação à Copa Sul-Americana. O atual sistema é confuso e mandará sempre os times em tese piores para a segunda competição continental. Atualmente, quem não chega às oitavas da Copa do Brasil é que a disputa, seguindo a ordem de classificação do Brasileirão anterior. Muito melhor faria a CBF em mandar do 5º ao 8º colocado do Campeonato Brasileiro. Aumentaria o nível de competitividade do principal certame do país e qualificaria a participação nacional na Sul-Americana.

O calendário é problema? Ora, a Copa do Brasil alongada até novembro, como ocorrerá em 2013, permite à CBF jogar melhor com as datas. Por que não usar alguns domingos para a Copa do Brasil, como ocorre na Inglaterra? Ah, por causa dos estaduais. Mais um ótimo motivo para reduzi-los.

Desabite-se
A não concessão do Habite-se por parte da prefeitura à Arena do Grêmio evidencia a precipitação de inaugurar o estádio em dezembro. O clube tem conduzido mal a questão. Desde janeiro, a cada jogo do Grêmio há uma discussão sobre qual será o estádio que o sediará - envolvendo personagens que não deveriam se meter na questão, como o técnico e os jogadores.

É de bom tom que o Tricolor e a OAS resolvam logo todas as questões pendentes (inclusive gramado e a colocação ou não de cadeiras no setor das gerais) para que o estádio só volte a ser utilizado quando estiver de fato 100% pronto - e de uma vez por todas, deixando o Olímpico para o passado. A Arena deve ser motivo de orgulho, e não um mico ou motivo de dor de cabeça para os gremistas. Mas a prefeitura, que com toda a razão pede cuidados ao clube para liberar a utilização do estádio, poderia fazer sua parte também qualificando o entorno. Isso não depende do Grêmio.

Reprise
A Copa Libertadores tem Jogaço (assim mesmo, com maiúscula) hoje à noite: Peñarol x Vélez, no Centenário, reprise da histórica semifinal de 2011. O time uruguaio lidera a chave, com 6 pontos e 100% de aproveitamento. Os argentinos se recuperaram na semana passada e foram a 3, mas trazer um ponto de Montevidéu seria importante. Começa às 19:30. Mais tarde, 21:45, o Atlético Mineiro vai a Sarandí pegar o Arsenal.

Comentários

Lourenço disse…
Sou totalmente a favor da medida, odiei rodada de clássicos, não vale nada ter um clássico decisivo e outros 6 mornos.
Aliás, gostaria que não existisse "rodada de clássicos", e sim que cada rodada tivesse no máximo 2 clássicos, para que se possa assistir a todos eles. Muito ruim perder São Paulo x Corinthians, Fla-Flu ou Cruzeiro e Atlético porque é na mesma hora do grenal.
Lourenço disse…
E quanto à Arena, não há como discutir com a questão técnica. Se não tem condições, paciência, ok.
Mas o Grêmio e os gremistas precisam parar com o apego ao Olímpico. A Arena está quase virando um anti-Olímpico na mentalidade dos torcedores. A casa do Grêmio é e vai ser a Arena. O Olímpico acabou.

Estou com opiniões fortes hoje, não sei o que houve.
Chico disse…
O GRÊMIO tem que jogar no Olímpico enquanto não resolverem todos os problemas da Arena.

Vicente Fonseca disse…
Declarações fortes!

Discordo de ti na questão da rodada de clássicos, Lourenço, embora eu também ache um saco perder outros jogões por serem na mesma hora do Gre-Nal. No mais, de acordo - inclusive em relação à questão envolvendo os estádios do Grêmio.
André Kruse disse…
Eu sou contra a rodada de classicos. Me parece que é uma medida que parte do pressuposto que a última rodada é mais importante. E não é. No campeonato de pontos corridos todos os jogos e todas as rodadas deveriam valer a mesma coisa
Vicente Fonseca disse…
Eu concordo com o teu raciocínio, André. Mas é na última (nas últimas, na verdade) rodada que sempre se levanta a suspeita de entrega-entrega. É uma medida que minimiza bastante esse problema.