Tudo o que faltou



Tudo o que sobrou ao Huachipato faltou ao Grêmio. Organização, toque de bola, entrosamento, calma, segurança, objetividade, postura de Libertadores. Nada disso foi visto no time de Vanderlei Luxemburgo, mas foi esbanjado pelo time visitante, que ainda não fizera sequer um gol em 2013, mas mostrou um futebol de time que pode incomodar, e muito, nesta fase de grupos da Libertadores.

Luxemburgo criticou o gramado da Arena após o jogo, citando-o como um dos fatores para a derrota gremista. Está duplamente equivocado em sua análise. Primeiro, porque a grama já se mostrou bem melhor que em partidas anteriores, embora, claro, ainda não esteja em perfeitas condições. Segundo, porque o piso não prejudicou em nada a ideia de trocar passes e propor o jogo. Afinal, a única equipe que tentou fazer isso durante os 90 minutos foi o Huachipato, e conseguiu sem problema algum. O Grêmio, ao contrário, abusou dos chutões em vez de tentar trocar passes e dos cruzamentos rasteiros em vez de erguer a bola na área. Na Arena, no Olímpico, no Chile, na África do Sul ou na Austrália, isto não teria mudado. Trocar de estádio é desrespeitar o torcedor que paga mensalidades mais caras com a Arena e serve somente de paliativo para a falta de criatividade da equipe em campo.

Se o Grêmio não dominou o jogo, não criou chances e não tocou a bola como se esperava, é, entre outras razões, porque o Huachipato não deixou. Foi uma aula de como atuar fora de casa. O time chileno foi compacto, seguro e sempre perigoso ao atacar. Seus jogadores ficaram perto um do outro, encurtaram o campo. Ganhavam todos os rebotes e envolveram o Grêmio, que teve seu entrosamento prejudicado por estrear tanta gente numa noite só.

Se André Santos e Barcos se impunham como soluções, Adriano foi uma aposta errada de Luxemburgo. Não é mau jogador, nem cabe crucificá-lo pelo resultado. Mas Fernando, além de ser tecnicamente superior, tinha condições de atuar. Manteria a estrutura do meio-campo, principal setor do time, além de ser o mais entrosado de todos. O Grêmio teve novidades demais e ainda abriu mão de sua espinha dorsal quando mais precisava delas, e para colocar um jogador tecnicamente inferior ao titular. Opção inexplicável de Luxa.

O que Luxemburgo viu bem após o jogo foi a falta de espírito de Libertadores de sua equipe. O Grêmio entrou mole em campo, parecia subestimar o time chileno, tamanha a facilidade com que o Huachipato tramava no ataque. O lance do gol foi quase que de treino. Houve excesso de confiança, motivado por uma semana de merecidos elogios às novas contratações e ao potencial do plantel que há na Arena. Agora, haverá fortes e ainda mais justas e necessárias cobranças. Marcelo Moreno lembrou que foi só o começo da Libertadores. É verdade, e o Grêmio vai certamente evoluir. Mas a fase de grupos é mais curta do que parece. A equipe já sai em desvantagem numa rodada em que tinha tudo para ser a líder da chave, e o próximo jogo é o mais duro de toda a fase de grupos.

O pior de tudo é que o Huachipato, apesar de ser desconhecido para a imensa maioria, de ter perdido jogadores importantes do ano passado para cá e de ter começado muito mal o Campeonato Chileno, mostrou uma boa equipe. Inferior tecnicamente ao Grêmio, deveria ter sido batida, mas sai na frente na classificação e pode complicar as pretensões gremistas de chegar às oitavas. Falcone e Rodríguez, os dois atacantes e autores dos gols, deram um calor imenso em Cris e Saimon, que insistiram em sair jogando perigosamente a noite toda - um retrato do excesso de confiança que acabou ajudando a derrotar o Grêmio pela primeira vez em sua nova casa.

Mandantes venceram
À exceção do Grêmio, todos os mandantes venceram. O Palmeiras superou suas limitações e fez 2 a 1 no Sporting Cristal, mesmo placar aplicado pelo Tolima sobre o Cerro Porteño e pelo The Strongest sobre o Arsenal de Sarandí. O Newell's fez mais: 3 a 1 no Olímpia, um ótimo começo. Ao menos no Gauchão o Tricolor deu sorte: a vitória do Esportivo sobre o Cruzeiro deixa a equipe perto das quartas de final da Taça Piratini.

Comentários

Rober disse…
Não sei, mas não gosto do Luxemburgo. O apadrinhamento é imenso pelos seus pretendidos. Acho que nem o Barcos deveria ter estreado assim já na primeira. E acho Marcelo Moreno muito mais atacante. Desvalorizar os pratas da casa em função da panelinha não é o caminho certo a seguir.
Nunca gostei e nunca vou gostar de André Santos, jogador chinelinho ao extremo. Prefiro até o Pico a ele.
É triste ver algo assim, o jogo foi piada pronta em todos os sentidos. Estádio novo com setor interditado e gramado ruim. Soberba em campo. Derrota para um time sem nome e técnico tirando o foco da culpa do time.
É uma pena. Quero ver se o Koff consegur contornar essa. Triste.
Marcelo disse…
Ontem ficou claro mais uma vez porque o Luxemburgo nunca ganhou e nunca vai ganhar uma libertadores.

A derrota passou muito por ele. A questão Dida/Grohe foi só o anuncio do que aconteceria. Todo mundo vai sair do time no nome e no apadrinhamento.

Sou um dos únicos que acha inadimissivel o que aconteceu com a lateral esquerda. O Pico foi um dos melhores laterais do campeonato brasileiro pra ser dispensado na pré temporada. Alex Telles jogou muito bem contra a LDU e contra o zequinha. Por melhor que seja o André Santos, não justifica o cara desembarcar no aeroporto, fardar e ir pro jogo (o mesmo vale pros outros estreantes).

Acho o Cris pior que o Bressan. TODOS gols sofridos pelo Grêmio nessa libertadores foram nas costas dele. Mas o fritado será o Saimon que é prata da casa (e ontem não esteve bem).

Pior que o Luxemburgo ter colocado o Adriano no lugar do Fernando, foi a tentativa de arrumar o estrago no intervalo. Como o treinador não foi homem o suficiente para assumir a cagada, fez outra maior. Ir para o tudo ou nada no intervalo, jogando em casa, não se justifica. 2 centroavantes na área e o meio campo perdido pros chilenos.

Chilenos que foram totalmente menosprezados. Os caras não são campeões nacionais a toa. Para refletir: as duas principais contratações do Grêmio neste ano (Vargas e Barcos) eram desconhecidos que surgiram para o mundo numa libertadores.

Oba-oba e salto alto nunca combinam com o Grêmio. Essa derrota pode ser pedagógica. Mas temo que o técnico não tenha a disposição para aprender.

PS: não tive como não reparar, "há 5 anos no Carta - Grêmio traz Celso Roth para o lugar de Vagner Mancini".

Vicente Fonseca disse…
Acho cedo para decretos. Diziam o mesmo do Abel em 2006. Mas o Luxemburgo (que tem seus apadrinhados como qualquer outro técnico) cometeu erros graves - especialmente ao escalar o Adriano no lugar do Fernando, algo que não se justifica por nenhum viés, e em sua entrevista culpando o gramado pela derrota. O Huachipato conseguiu tocar a bola na Arena, mesmo sem nunca ter treinado nela. Se o Grêmio não conseguiu, o problema é do Grêmio.

Em relação ao Cris, temos que lembrar que este foi seu segundo jogo no ano, e ele não atuava há mais de 20 dias. Recém voltava de lesão. Talvez a culpa de sua má atuação seja mais do Luxemburgo que dele próprio. Por que não escalá-lo no Gauchão, para ganhar ritmo, antes de entrar direto na Libertadores? Por menosprezo ao adversário?

Repito, acho muito cedo para qualquer decreto. Foi apenas o primeiro jogo de muita gente. O problema é que a fase de grupos é curta. Não há muito tempo para recuperação e novos tropeços.
Vicente Fonseca disse…
Ah, outra coisa: Luxemburgo foi o mais lamentável de todos ontem, mas alguns jogadores estiveram igualmente abaixo da crítica tecnicamente. Elano, por exemplo, fez péssima partida. Vargas inexistiu. Barcos, que não foi bem, acabou mesmo assim sendo um dos melhores. Mas enfim, quando nada funciona direito a culpa é mesmo do técnico. Bem mais que do gramado.
Rober disse…
O que mais me deixa triste nem foi a derrota, mas sim é que vendo as últimas atitudes do Grêmio, tenho a mesma sensação dos últimos anos, ou seja, contratações e contratações, promessa de um Grêmio candidato a título, mas que acaba sendo sempre figurante. A sensação é a mesma, que ficaremos mais um ano sem ganhar nada.
Vicente Fonseca disse…
Entendo perfeitamente o teu sentimento, Rober. Mas existe uma grande diferença em relação aos anos anteriores: desta vez, o Grêmio montou um elenco que de fato está entre os melhores do país, e não apenas um bom grupo, mas que fica um passo atrás de alguns concorrentes. A cobrança deve e precisa ser bem maior. O grupo atual é superior ao do ano passado, bem melhor que o de 2011 ou até temporadas onde o clube obteve bons resultados, como 2006, 2007 e 2008. Mas enfim, conhecendo a história do clube, o medo de um novo 2000, onde um time caríssimo não chegou a lugar algum, se justifica.

Há que se trabalhar para que este elenco vire um time de verdade. Os resultados é que precisam vir rapidamente, senão a Libertadores vai por água abaixo. E é aí é que entra o pior erro de escalação do Luxemburgo ontem, que a meu ver foi a retirada do Fernando do time. O meio-campo era a garantia de que o time manteria a boa base do ano passado e acrescentaria peças que poderiam qualificá-lo. Tirando ele para colocar mais um estreante, Luxemburgo mexeu em todos os setores do time. Aí o que era continuidade ganha de cara de reinício de trabalho. Não dá para iniciar um trabalho em plena Libertadores.
Sancho disse…
Ao contrário de alguns anos de pensamentos mágicos e farras-do-boi, as contratações desta temporada fazem sentido. O elenco está caro, mas a gente vê E ENTENDE onde está o dinheiro.

Eu não gosto do Luxemburgo, acho que ele pisou FEIO ontem, acredito que ele colocou a culpa no gramado porque não tinha outra desculpa (jamais admitiria que errou), mas não acho que seja hora de desespero. Não, não está tudo uma m...

Complicou a classificação? Sim, mas ainda faltam 5 jogos, e a situação é absolutamente reversível.
Vicente Fonseca disse…
Concordo plenamente, Sancho.
Lourenço disse…
Fazendo um comentário mais tático, me chama a atenção a falta de compactação do Grêmio. Entre a primeira e a última linha há uma distância enorme. Muitas vezes, o time fica dividido em duas linhas bem distantes e o Souza no meio. Ou seja, quase nenhum rebote é nosso, raramente Zé Roberto ou Elano voltam para armar o jogo de trás.

Concordo com as críticas ao bruxismo de Luxa, que está bem mais forte este ano (ou, pelo menos, se consolidou este ano). Só ressalvo o Dida, que é muito afudê.

Claro que dá tempo, até porque podemos inclusive ganhar do Flu quarta que vem. Mas uma vitória do Flu e do Huachipato na próxima rodada torna a classificação muito difícil.


Vicente Fonseca disse…
Exatamente, Lourenço. E isso se agravou no segundo tempo, com a entrada de mais um atacante e saída de um meio-campista. Talvez se o Vargas for mais participativo, buscando um pouco mais a bola com os meias, isso se atenue. Mas enfim, compactação é algo que se ganha com tempo. Foi a maior virtude do Huachipato ontem, inclusive.
Sancho disse…
Quando o Zé Roberto e o Elano estão marcados, alguém tem que fazer a função, sejam os volantes (principalmente o Souza), os laterais ou o segundo atacante. No nosso caso, se o Vargas e o André Santos não se impõem, fica difícil.
Zezinho disse…
O Lourenço matou a charada e eu espraio um pouco mais a questão.

No Linha de Passe da semana retrasada, o Paulo Calçade comentou sobre a pouca participação do Ganso no jogo em si e a principal diferença tática do futebol brasileiro pro europeu.

Aqui, um atacante pega a bola pelo lado de campo e seus companheiros ficam de braços cruzados, esperança ele se livrar de dois, três marcadores. É um tal de 'toma a bola aí e te vira' absurdo.

Meu pai reclama disso no Grêmio há muitos anos. Tirando os times de Tite (2001/02), Mano (2005/07) e Celso Roth (2008), triangulações, ultrapassagens, compactação, rebote ofensivo e defensivo, deslocamento, dar a opção pro passe, movimentos de equipe em geral tem sido esporádico (tipo 3 meses do Renato em 2010 ou com o próprio Luxa).

De três jogos na Libertadores, o Grêmio jogou dois mal, e em casa. Sendo um time que pouco mudou em relação a 2012, mas que já tinha essa dificuldade de construir o jogo.

É um time previsível, descompactado, que abusa dos chutões, extremamente dependente do Zé Roberto ou de um algum iluminado.

Tô vendo muito pouco de benéfico do Pofexô
Vicente Fonseca disse…
Isso é verdade. Eu considero o Grêmio de 2012 o melhor desde 2001, mas esse defeito o time sempre teve. É um time cadenciado, talvez pela própria característica dos jogadores, mas cadenciado demais. Essa previsibilidade que tu falou se mostra clara sempre que é preciso enfrentar um time fechado. E talvez por isso o Grêmio jogue melhor fora de casa desde o ano passado.

Acho que o Vargas é um cara que pode mudar isso pela característica que tem, mas o Luxemburgo de fato precisa botar a mão para resolver este problema. Ter dificuldade de marcar gols em casa é um problema e tanto na Libertadores.