O novo Grêmio dá as caras
Luxemburgo tem razão quando diz que o Grêmio ainda não está pronto e não é um time de futebol entrosado e consolidado. Mas ontem jogou se fosse tudo isso. E muito mais: a goleada de 3 a 0 para cima do Fluminense não foi ao acaso: foi construída com os méritos de um time que foi mais organizado, teve superioridade técnica e tática e mostrou credenciais de quem é desde já um dos grandes favoritos ao título da Libertadores - mesmo sem estar pronto ainda.
Foi uma vitória da simplicidade. Luxa não inventou nada desta vez: colocou em campo o time considerado ideal do Grêmio para a Libertadores, do 1 ao 11 (ou 28), pela primeira vez neste ano. A estreia foi de luxo. Ao contrário do que eu próprio imaginava, foi o Fluminense que tomou a iniciativa do jogo, fugindo da característica que lhe fez campeão brasileiro com sobras em 2012. Abel Braga partiu em busca da vitória com certa irresponsabilidade, lembrando seu velho estilo "para dentro deles": seu time teve três atacantes - Sobis e Wellington Nem pouco voltaram para participar da armação, ficando isolados em meio ao paredão defensivo gremista. A atuação apagada de Wagner, único meia da equipe carioca, só facilitou o trabalho do time gaúcho.
O Grêmio, no entanto, não foi um retrancão em momento algum: foi um time equilibrado, que jogou de forma extremamente inteligente. Esperou o Fluminense tomar a iniciativa para, aos poucos, ir se impondo no jogo. A primeira meia hora teve bem mais iniciativa dos cariocas, mas só o Grêmio havia chutado a gol até então, prova de que, taticamente, o time de Luxa ia melhor. O gol contra, dado de presente a Barcos, aos 32 minutos, serviu para pôr fogo em uma partida até então equilibrada e de poucos lances de área, muito estudada e de respeito de parte a parte.
Abel tinha o intervalo para tentar mudar o jeito de jogar do Flu, mas em vez de tirar um dos pontas e fazer a necessária reestruturação da equipe, manteve o esquema que não deu certo no primeiro tempo e só trocou uma peça: Wagner por Deco. Ligado no jogo e ainda mais confiante que na etapa inicial, o Grêmio sobrou. Foi um verdadeiro show, em todos os setores, especialmente a partir do 2 a 0. Na defesa, Cris e Werley marcaram de forma impecável o artilheiro Fred, e tinham o auxílio de André Santos e Pará para anular os ponteiros também. Um pouco mais à frente, Fernando e Souza ganharam todas as divididas. Roubavam bolas que permitiam a Elano e Zé Roberto distribuir o jogo com espaços que o Flu concedia por estar tentando atacar e perder a posse sem estar preparado para ser contra-atacado. Aí entra Vargas, infernal na segunda etapa, e Barcos, o nome do jogo: centroavante, ponteiro, meia, volante, o argentino fez de tudo.
A vitória espetacular, de goleada fora de casa sobre o campeão brasileiro, foi não só a de um time que desta vez jogou com o tal "espírito de Libertadores", mas também a de um time de alta qualidade técnica e com inteligência tática. Foi uma vitória do novo Grêmio, do time idealizado para ganhar a Libertadores, que funcionou maravilhosamente na primeira vez em que jogou junto e teve como autores dos gols três dos novos reforços trazidos por Rui Costa.
O resultado é histórico, mas ainda há muito chão pela frente. O Grêmio de 2013 mal saiu do papel, precisa evoluir bastante (foi só o primeiro jogo, lembremos mais uma vez), ainda está embolado em sua chave nesta fase de grupos, mas mostrou que tem tudo, sim, para disputar o título. O continente olhará para esta equipe certamente com outros olhos a partir de hoje. Cabe a Vanderlei Luxemburgo manter os pés no chão, como bem fez em sua coletiva pós-jogo, e, principalmente, manter a formação que atuou ontem. E nunca é demais lembrar: dificilmente este time jogará tão bem nesta própria Libertadores quanto ontem, mesmo evoluindo tudo o que tem para evoluir. Foi uma partida excepcional - tanto no sentido de "estupenda" como no de "exceção", mesmo.
Os últimos serão os primeiros
Grêmio e Caracas iniciaram a quarta-feira em posição de eliminação, mas a terminam como os classificados de momento no Grupo 8. A vitória dos venezuelanos sobre o Huachipato foi ótima para o Grêmio, iniciando sua noite perfeita, que culminaria com a goleada no Engenhão. Os 3 a 1 não deixaram o time chileno disparar e dão dois claros indícios: o de que o Grêmio foi realmente muito mal em sua estreia e de que o Caracas não é nem de longe uma "galinha morta". Talvez esteja na Venezuela a principal pedra no sapato de Grêmio e Fluminense nesta chave, que começa sob o signo do equilíbrio absoluto.
Pontinho precioso
Os times bolivianos são os mais fracos da América do Sul, mas obter pontos na altitude é sempre digno de certa comemoração. O Corinthians saiu na frente do San José, Emerson Sheik perdeu chance incrível de fazer o gol da vitória no segundo tempo, mas o 1 a 1 deve ser saudado como ponto ganho, não como dois perdidos. Só não saudado demais, porque a morte do torcedor boliviano por sinalizadores corintianos deixa todo o futebol sul-americano de luto nesta quinta-feira, e força repensarmos e reforçarmos como é importante a segurança dentro dos estádios. Mais cedo, o Vélez fez o dever de casa: meteu 3 a 0 no Deportes Iquique e já volta à zona de classificação de sua chave, que tem o Peñarol como líder.
Zebra, sim
Quando houve o sorteio das oitavas de final da Liga dos Campeões, não houve quem apostasse um tostão furado no Milan diante do Barcelona. O time ia mal das pernas no Campeonato Italiano, e pegaria simplesmente a melhor equipe do mundo no mata-mata. Mas o Milan só cresceu desde lá: saiu da parte baixa da tabela para o 4º lugar no campeonato nacional e comprovou seu crescimento metendo 2 a 0 nos catalães, resultado que obriga o Barça a golear no Camp Nou. O supertime de Tito Vilanova jamais imaginou correr risco de eliminação tão cedo na Champions. Bom para os adversários.
Comentários
Chamo a atenção para o trabalho dos volantes do Grêmio, que no combate já forçavam o erro do ataque do Fluminense, de modo que a bola sempre chegava mascada para os zagueiros fazerem a cobertura e afastarem. Cris e Werley foram seguros, mas, principalmente, protegidos.
Pode ter sido um jogo de exceção, mas que exceção! Jogo histórico pelo resultado fora de casa em cima do campeão brasileiro em uma Libertadores.
Foi histórico, e por isso mesmo de exceção. Uma baita exceção, sem dúvida alguma. De cabeça, não lembro de ninguém golear o campeão brasileiro fora de casa em uma Libertadores.
Quando o Luxemburgo nao inventa fica muito mais fácil.