O Arsenal precisa renovar
Arsene Wenger poupou alguns de seus titulares, mas talvez não devesse. A Copa da Inglaterra é bem menos importante que a Liga dos Campeões, claro. Mas mesmo que haja confronto com o Bayern München na próxima terça, o inteligente francês sabe que, no fundo, a FA Cup era a última competição onde seu time tem chances reais de título. Agora, nem ela resta mais.
O Arsenal titular já não anda lá essas coisas: ficou atrás do Schalke 04 (outro time mediano) em seu grupo da Liga dos Campeões, é apenas o 5º colocado no Campeonato Inglês (21 pontos atrás do líder Manchester United) e já fora eliminado de forma vexatória da Copa da Liga Inglesa pelo Bradford, time da quarta divisão nacional. A temporada vem sendo ruim desde o princípio. Era preciso ser realista e depositar força máxima na Copa da Inglaterra, mesmo que o jogo fosse contra o Blackburn, time tradicional, mas que disputa atualmente a segunda divisão. Isso não significa deixar de lado a Liga dos Campeões, claro. E o time pode eliminar o Bayern, embora seja improvável.
Com suas principais contratações da temporada no banco de reservas, Wenger colocou em campo um time cheio de jogadores comuns e perdeu o jogo por 1 a 0, em pleno Emirates. Nem empatar para provocar jogo extra o time conseguiu. Com Walcott e Podolski nos minutos finais, ensaiou-se uma pressão, mas o time visitante soube suportar e sair com a merecida vaga. Os títulos, que vêm desde 2005, ficarão para 2014.
Wenger sempre foi um técnico admirado pela capacidade de renovação, mas é ele próprio que precisa se reinventar. Desde o título invicto espetacular de 2003/04, o Arsenal chegou uma vez à final da Liga dos Campeões e ganhou uma Copa da Liga, competição menos importante da temporada. É pouco. A Era Emirates ainda não conheceu um título de expressão. O supertime de nove temporadas atrás mesclava nomes experientes com outros jovens. Esta é a fórmula, mas que foi abandonada em nome de um idealismo.
Com as saídas (e aposentadorias) de Henry, Lehmann, Pires, Bergkamp e companhia, Wenger decidiu montar um time quase que exclusivamente jovem, visando a manter uma base por anos e conseguir, temporadas depois, um grande sucesso com nomes talentosos e entrosadíssimos. A ideia era boa, mas as apostas foram equivocadas. Nomes como os franceses Diaby e Sagna, que está há várias temporadas no clube, são fracos, no máximo médios. A insistência em conterrâneos insuficientes, aliás, é uma marca de Wenger, que só não é malhado publicamente por isso por ser um sujeito muito educado e inteligente, ao contrário de Louis van Gaal.
Falta também, além de boas apostas jovens, uma referência técnica à equipe. Walcott é um bom jogador, mas não está no nível de Rooney, como alguns apregoavam. Precisa de companhia qualificada e mais experiente para levar o Arsenal a títulos. Podolski foi um tentativa recente, mas também não é um jogador do nível que o clube precisa. Na seleção alemã, foi sempre um ótimo coadjuvante. Em clubes, quase sempre foi discreto.
Gastar rios de dinheiro não é exatamente o mais saudável, mas o Arsenal exagera em querer figurar como o clube de investimentos alternativos. Trata-se de uma bandeira do clube, uma filosofia institucional, algo muito válido, mas que não precisa ser deixado de lado para que a equipe volte a brigar por taças de renome. Basta sofrer uma adequação. O Arsenal não precisa gastar mais do que manda a racionalidade, mas precisa investir em ao menos um ou dois jogadores de grande porte se quiser voltar a pensar em títulos. Wenger está há 17 temporadas no clube, mas a paciência pelos oito anos sem taça alguma não é infinita. As vaias fortes ao time no Emirates, ao final do jogo com o Blackburn, demonstram que a torcida já está cansada de tanto esperar.
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