Dez anos depois
Neste sábado, um jogo histórico para o futebol gaúcho completará 10 anos. Trata-se da virada obtida pelo Internacional sobre o Grêmio, em pleno Olímpico, por 2 a 1. O resultado parece normal visto agora, por alguém menos informado. Mas, se não foi exatamente a causa, foi o marco de uma virada histórica na gangorra do futebol dos Pampas.
Naquele 9 de fevereiro de 2003 o Inter deixou para trás duas décadas e meia de incertezas, desconfianças e fracassos. A começar pela relação com o próprio rival. O gol marcado por Daniel Carvalho, aos 41 minutos do segundo tempo, encerrou a maior série invicta do Grêmio em Gre-Nais, que já durava 13 jogos. A última vitória colorada até então ocorrera quase quatro anos antes, em junho de 1999: vitória por 1 a 0 na primeira partida da decisão do Gauchão, gol do zagueiro Gonçalves. No Olímpico, o time rubro não ganhava desde os 5 a 2 de 1997 - cinco anos e meio de jejum.
Além de histórico, o placar daquela partida, válida pela 2ª rodada do Campeonato Gaúcho, foi absolutamente inesperado. Porque o Grêmio, no papel, tinha muito mais time. Iniciava o ano de seu centenário com a perspectiva de disputar uma Libertadores. Mantivera a boa equipe do Brasileirão anterior, acrescendo apenas uma peça que faltava, que era um centroavante. No caso Christian, então ídolo colorado. Sua contratação foi festejada pelos gremistas e um golpe no coração colorado, já ferido por tantas temporadas ruins.
Já o Inter vivia um período difícil, de reconstrução. Dois meses antes daquela partida, o Colorado se manteve na primeira divisão graças a uma improvável combinação de resultados na última rodada do Campeonato Brasileiro. Quase tudo era preciso mudar no Beira-Rio. Seu técnico era Muricy Ramalho, então um treinador pouco conhecido, mas em ascendência na carreira. Muitos acreditavam que Fernando Carvalho havia contratado ele apenas por conta da goleada imposta pelo seu Figueirense sobre o Inter, no Brasileirão anterior, em pleno Beira-Rio. Sim, o Inter sofria derrotas como um 4 a 2 para o Figueira em casa, ao natural. Jamais poderia ganhar daquele Grêmio.
Mas ganhou. Por pouco não perdeu, é verdade. No primeiro tempo, o Grêmio massacrou. Poderia ter goleado, mas perdeu gols demais. No segundo tempo, a entrada de Cleiton Xavier mudou o jogo. O Inter veio para cima, com uma confiança que há muitos anos não exibia em clássicos. Empatou e conseguiu a virada nos minutos finais. A vitória encerrou a série de Gre-Nais fracassados do lado vermelho e iniciou um período de reerguimento do clube. Seguiu-se uma boa campanha no Brasileirão e um período sólido de resultados, que culminaria no vice-campeonato nacional de 2005 e nos inúmeros títulos internacionais que vieram de 2006 a 2011, período mais rico da história do clube. Nada por causa daquele Gre-Nal em si. Mas tudo começou naquele Gre-Nal. Gre-Nais arrumam a casa, certo?
E o Grêmio? Ali, iniciava-se o período mais difícil da história do clube. A instabilidade tomou conta do ambiente. O time deu fiasco no Gauchão, caiu nas quartas da Libertadores e o bom elenco se desfez. Jovens entravam no time com a responsabilidade de substituir jogadores consagrados sem a preparação adequada. O time fez um Brasileirão péssimo, não caindo por milagre. No ano seguinte, todos os bons jogadores que restavam saíram. Veio o vergonhoso rebaixamento e o dificílimo 2005, que terminou na epopeia dos Aflitos. De 2006 em diante, bons times foram montados. Mas grandes títulos ainda não vieram. Nada por causa daquele Gre-Nal, mas tudo começou naquele Gre-Nal. Gre-Nais desarrumam a casa, certo?
Elencos
A partir daquele Gre-Nal (mas não por causa dele, lembremos mais uma vez), entre 2003 a 2012, com breves hiatos, o Internacional sempre teve melhor plantel que o Grêmio. Em 2003, o Tricolor ainda tinha melhores jogadores, especialmente no primeiro semestre, mas o Inter já terminava o ano com mais opções de reposição. Em 2004 a diferença aumentou, chegando ao auge no começo de 2005, quando o Colorado formava plantel para disputar o título brasileiro e o Grêmio penava para conseguir contratar qualquer jogador de terceiro escalão do futebol nacional.
A diferença de nível se manteve grande até a metade de 2006. Com a perda de jogadores após a Libertadores, o Inter perdeu um pouco do banquete que dispunha, mas ainda era tão forte que conseguiu ganhar do Barcelona mesmo sem Sobis, Tinga, Bolívar e Jorge Wagner. O Grêmio melhorava, e ameaçava equilibrar, o que ocorreu de fato em 2007, especialmente após a saída de Pato do Beira-Rio. O Inter, mesmo assim, entrou 2008 mais pronto e teve mais qualidade que o rival (que já formava bons times e tinha boas campanhas) até o final de 2009. Em 2010 o Grêmio formou uma equipe forte, reequilibrando a disputa, mas ainda um passo atrás. Sem Jonas, perdeu terreno para o Colorado em 2011, situação que durou até a metade do ano passado, antes das chegadas de Elano e Zé Roberto e da saída de Oscar.
Somente agora, em 2013, é possível dizer com uma boa dose de certeza que o Grêmio tem melhor plantel que seu histórico rival. O Inter ainda exibe laterais melhores tecnicamente, mas ninguém sabe a contribuição que Kleber e Gabriel podem dar. O Tricolor tem dois goleiros afirmados, contra um do Inter; tem mais zagueiros confiáveis, embora a distância neste setor não seja tanta assim; com Adriano, ganha mais uma opção de volante, setor em que Fernando e Souza já são melhores que os rivais; e, se o Colorado tem dois meias de seleção argentina, o Grêmio tem dois de seleção brasileira. Falta um reserva de nível, coisa que o Inter tem - Fred, sem falar em Caio. A articulação é o melhor setor do elenco do Inter, embora o momento de seus bons jogadores não seja tão bom quanto a fase que vivem os do Grêmio.
No ataque, porém, é que a superioridade azul fica mais evidente. Todos os quatro atacantes titulares da Dupla Gre-Nal são jogadores de seleção nacional, mas as opções de reposição do Grêmio são muito melhores: há Kleber, Welliton, Willian José, Bertoglio. Tanta gente que a saída de André Lima parece mesmo uma opção natural e o empréstimo de Leandro ainda não foi cogitado por um descuido. Se Vargas e Moreno não atuam, há jogadores suficientes (até demais) para manter o nível. O Inter, por sua vez, sem os excelentes Forlán e Leandro Damião, cai muito de rendimento. Para repor, há Gilberto, Cassiano, Maurides e um Rafael Moura que mais se lesiona que joga. Isso tudo sem falar que o Grêmio vive um estágio de montagem do time bem mais adiantado que o rival, após manter a base do ano passado.
Se isso é o início de uma nova virada da gangorra, só Deus sabe. Mas notem que só agora, dez anos depois, é que uma temporada começa com perspectivas realmente melhores para o lado azul. O Gre-Nal arruma (e desarruma) mesmo a casa.
Comentários
Pode-se dizer, portanto, que nem atacantes o inter tem...
Algumas horas depois, me perdoem, posso dizer oficialmente: fudeu.
Abraços
P.S. Anônimo Gremista: não viaja.