As armas do Galo
Tradição em torneios continentais à parte, o Atlético Mineiro provou ontem ser um time mais pronto para ser campeão da Libertadores que o São Paulo. O resultado de 2 a 1 não traduz tão bem a superioridade do time mineiro durante grande parte do jogo. E o empate, que quase aconteceu no final através de uma sobra apanhada por Ganso, seria um verdadeiro crime.
O primeiro ponto a favor do Galo, e que costuma pesar em Libertadores, é o fator local. O Atlético tem uma torcida que anda carente por grandes títulos, e por isso é cada vez mais fanática. No Independência, desde que o estádio foi reinaugurado, a equipe ainda não perdeu: de 2012 para cá, foram 17 vitórias e sete empates em 24 jogos. Ontem, a arena pulsou em favor do time de Cuca. O Atlético parece já sair com meio gol de vantagem cada vez que joga no Independência.
O segundo quesito em que o Atlético foi aprovado é o coletivo. Isso o time já demonstrara no ano passado, mas comprovou que segue afiado. O Galo exerceu forte pressão no São Paulo no primeiro tempo. Jogou muito porque marcou muito, e marcou bem, ofensivamente, pressionando a saída de bola paulista. O São Paulo não chutou nenhuma vez no primeiro tempo, mal passou do meio de campo com bola dominada. É claro que isso cobrou um preço na etapa complementar: estamos em fevereiro, e o Galo ainda não está a plenos pulmões em termos físicos. Houve uma queda de ritmo, e um consequente crescimento são-paulino.
Aí veio o terceiro ponto desta boa vitória inicial: as individualidades. Quando o São Paulo ensaiou uma pressão, Victor salvou o Galo com dois milagres, um deles cara a cara com Luís Fabiano. E Ronaldinho, do outro lado, também desequilibrou. Posicionou-se inteligentemente em posição de impedimento no lance do primeiro gol, sabendo que a regra desaparece se ele receber o passe em cobrança de lateral. Assim, ficou livre e serviu Jô. No segundo, passou por dois marcadores e cruzou na medida para o cabeceio de Réver. Sem marcar gols, o camisa 10 conseguiu ser o jogador mais decisivo da estreia atleticana nesta Libertadores.
O São Paulo tem um bom time, pode evoluir, mas precisa se aprimorar. Ney Franco cometeu um grave erro ao tirar Jadson para a entrada de Ganso, na metade do segundo tempo. Excluiu da partida seu jogador mais lúcido, que mais e melhor vinha criando oportunidades, para a entrada do ex-santista, que segue sendo uma caricatura de seus bons dias. Coincidência ou não, a mexida coincidiu com a piora do São Paulo no segundo tempo e antecedeu em poucos minutos o gol que definiu a vitória do Atlético. Por outro lado, Aloísio entrou muito bem. Fez um gol usando o contato físico e criou a jogada que quase ocasionou o empate, já nos descontos, no chute para fora de Ganso.
Festa dos visitantes
Dos mandantes, só o Galo ganhou na Libertadores. No Chile, o Peñarol fez 2 a 1 no Deportes Iquique, uma bela vitória. Na Bombonera, o Toluca surpreendeu o Boca, vencendo por 2 a 1 de virada. E em Caracas o Fluminense superou as dificuldades com o gramado e derrotou o time local por 1 a 0. Bom ou ruim para o Grêmio? Depende do ponto de vista. O Flu começa bem, mas vitória do Caracas significaria talvez um adversário a mais na luta pela classificação. A vitória do The Strongest sobre o Santos, no ano passado, por pouco não eliminou o Inter ainda na fase de grupos.
Vaga encaminhada
O time reserva do Grêmio teve ótima atuação ontem no Olímpico. O primeiro tempo viu apenas um gol sobre o Santa Cruz, mas a pressão indicava que o placar poderia já ser maior, como de fato foi no segundo tempo. Bertoglio é o destaque óbvio: participou de quatro dos cinco gols, marcou dois deles. Vai voar no estadual enquanto não estiver inscrito na Libertadores. Guilherme Biteco foi uma ótima surpresa, e Willian José, enfim, desencantou. A vaga está encaminhada: vencendo o fraco Veranópolis, domingo, o Grêmio se garante nas quartas da Taça Piratini. O tropeço do Cerâmica ajudou.
Superação
Futebol pouco se viu em Caxias do Sul, mas não havia jeito: o calendário do Gauchão é apertado, e a rodada de ontem já deveria ter ocorrido em janeiro, pela tabela normal. Não há mais espaço para adiamentos. Com acúmulo de água em diversos pontos, o campo do Centenário não se mostrou propício para a prática de futebol. Mas o Inter superou tudo isso, e também o Caxias: o 2 a 0 foi um ótimo resultado, que classifica o time de Dunga por antecipação. Se o Capitão do Tetra sempre bate nesta tecla da superação, seu time deu uma boa mostra de que está disposto a cumpri-la em 2013.
Vantagem inglesa
No jogão do Santiago Bernabéu, o empate em 1 a 1 favorece mais ao Manchester United que ao Real Madrid, por conta do saldo qualificado. Mas, apesar da vantagem inglesa, o confronto segue indefinido. O United faz campanha bem melhor que a do rival nesta temporada, mas as individualidades do time de José Mourinho não podem ser desprezadas. Falando nisso, Casillas fez falta: Diego Lopez foi indeciso no lance do gol de Welbeck e demonstrou alguma insegurança em outros lances da partida. O gol de Cristiano Ronaldo foi uma pintura, especialmente por sua impulsão.
Comentários
Cristiano Ronaldo joga demais. Mais de um gol por jogo no Real Madrid, em 180 partidas disputadas. O que ele subiu naquele lance? Impulsão absurda.