O show pode - e deve - parar

A máxima de que o "show não pode parar" é um mantra da insensibilidade. Um dos exemplos mais clássicos no caso do esporte foi a continuação do Grande Prêmio de San Marino, em 1994, mesmo após o gravíssimo acidente que vitimou Ayrton Senna. Foi "apenas" uma morte, e não mais de duzentas, mas com a diferença de que a tragédia ocorreu dentro do próprio evento esportivo, o que torna o clima para haver uma competição absolutamente insustentável.

A Federação Gaúcha de Futebol agiu muito bem ao cancelar a rodada do Campeonato Gaúcho que ocorreria ontem à tarde. Não apenas o Rio Grande do Sul está em choque, mas todo o Brasil. Se rodadas de outros estaduais fossem igualmente canceladas não estaríamos diante de nenhum absurdo. O ar de todos é de pesar, consternação, tristeza, estupefação e tantos outros substantivos abstratos soturnos diante do que ocorreu em Santa Maria. Não havia qualquer clima para nada, muito menos acompanhar futebol, uma atividade normalmente associada à diversão. O país parou, com olhos fixos na TV, diante da tragédia. A repercussão foi mundial.

A FGF já definiu quando ocorrerão os jogos: na Quarta-Feira de Cinzas, dia 13 de fevereiro - o Grêmio jogará pela Libertadores, caso passe pela LDU, na quinta, dia 14, o que forçaria a utilização de um time B. Será a penúltima rodada, portanto.

Mas isso, claro, é o que menos importa num momento como esse. Discutir essa questão pouco mais de 24 horas após um incidente tão cruel é de uma insensibilidade tão grande quanto se mantivessem a rodada no dia em que esta tragédia ocorreu. E uma tremenda falta de respeito com o luto que vive Santa Maria, o Rio Grande do Sul e o Brasil inteiro. O Gauchão ficará comprometido por conta deste adiamento? Azar do Gauchão! O show pode - e deve - parar em casos como esse.

Olímpico
Com o adiamento de Grêmio x Santa Cruz, terá sido Grêmio 1 x 2 Canoas o último jogo da história do Olímpico? O velho estádio da Azenha merecia despedida melhor.

A África acordou
O fato mais notável do domingo de futebol foi a classificação da modesta e simpaticíssima seleção de Cabo Verde às quartas de final da Copa Africana de Nações, numa rodada de tirar o fôlego no Grupo A.

Marrocos saiu à frente da África do Sul logo aos 10 minutos, resultado que classificaria ambas as seleções. Ainda no primeiro tempo, Angola abriu o placar contra os cabo-verdianos. Aos 26 do segundo tempo, o empate sul-africano classificaria os aniftriões e Angola. A festa durou cinco minutos: Cabo Verde empatou o jogo, resultado que levaria para o número de cartões amarelos a classificação. No minuto seguinte, gol de Marrocos, classificadíssimo, pois só perderia a vaga levando um gol e se Cabo Verde fizesse outro. Aos 40, veio o gol da África do Sul. Aos 45, de pênalti, o gol que classificou Cabo Verde e eliminou Marrocos.

Hoje tem a definição do Grupo B. Gana, Máli, República do Congo e Níger, todos, têm chances. A Copa Africana, enfim, começa a proporcionar alguma emoção a quem a assiste.

Estaduais
Bolívar foi o herói botafoguense, fazendo o gol de empate contra o Fluminense no primeiro clássico carioca do ano: 1 a 1. No Paulista, mais um fiasco do Palmeiras: levou 3 a 2, em casa, para o modesto Penapolense, recém egresso da Série A-2. Vamos ver quando a diretoria alviverde se dará conta de que 2013 é ano de tentar subir, e não de tentar ganhar a Libertadores.

Comentários

Igor Natusch disse…
Não só achei justíssimo adiarem a rodada do Gauchão como cheguei a estranhar que outros estados não tenham feito o mesmo. Não chega a ser um pecado ou insensibilidade cruel, mas o fato dos jogos terem ocorrido em outros estados demonstra o quanto nosso sentimento nacional é imaturo e fragmentado. Um paulista ou um baiano não sentem-se suficientemente próximos dos gaúchos para tomarem um gesto de luto após uma tragédia que, mesmo local, teve alcance internacional. Pouquíssimas cidades decretaram luto oficial fora do RS - Manaus foi uma delas, se não me engano. E o contrário seria verdadeiro: se uma tragédia dessa magnitude (e Deus nos livre de outras) hipoteticamente acontecesse em um estado do Nordeste, tenho certeza absoluta que todos os times teriam fardado e jogado pelo Gauchão neste domingo. Longe de mim qualquer discurso de patético separatismo, apenas constato o quanto estamos distantes de nos sentirmos, de fato, irmanados no Brasil.
Vicente Fonseca disse…
Concordo integralmente, Igor.