Invasão e nervosismo
A invasão que a torcida do Corinthians promoveu no Estádio de Toyota e o lindo cruzamento de Douglas para Paolo Guerrero foram as duas melhores coisas produzidas pelo Timão nesta semifinal do Mundial Interclubes. A vaga na final, diante do bom time do Al-Ahly, foi conquistada com uma dose de sofrimento talvez inesperada por muitos, mas que possui a cara das grandes conquistas corintianas.
O time egípcio demonstrou algumas qualidades, foi a equipe africana que melhor enfrentou uma sul-americana até hoje (Mazembe incluído), mas pecou pelo medo no primeiro tempo. Era certo que o Corinthians partiria para cima, como partiu. Mas Hossam El Badry pagou caro ao tomar a decisão de deixar o cerebral Aboutrika no banco de reservas. Afinal, se o Al-Ahly tinha a intenção de explorar os contra-golpes no primeiro tempo, era preciso um meia habilidoso para enfiar a bola para os atacantes - em especial Gedo, tão veloz quanto oportunista. Somente o igualmente qualificado Soliman realizou este trabalho, mas, isolado, não conseguiu ser tão efetivo.
O primeiro tempo corintiano foi muito bom. Passados os dez minutos normais de ansiedade, a equipe se adiantou e ocupou o campo adversário. Pelo lado esquerdo, Fábio Santos combinava bem com Douglas. Na direita, Alessandro não subia tanto, mas Danilo, Emerson e Paulinho transitavam por ali. A presença sempre marcante do ótimo Guerrero impedia a linha defensiva do time egípcio de esboçar um adiantamento que empurrasse o Corinthians para fora de sua área. E apesar de a equipe de Tite tocar demais a bola, como mandava o figurino, foi após uma bola parada que saiu o gol da vitória, em passe genial de Douglas que encontrou a cabeça do peruano.
O 1 a 0 saía barato para a equipe africana ao final do primeiro tempo. Mas na etapa final o que se viu foi um jogo completamente diferente. Com Aboutrika em campo, a equipe egípcia passou a ficar mais com a bola. Saiu do sufoco, adiantou suas linhas e começou a pressionar. Soliman, mais liberado, dava muito trabalho a Alessandro pela esquerda. Pela direita, Fathy e Rabia combinavam bem e envolviam Fábio Santos. Os 45 minutos finais foram de pressão do Al-Ahly e muitas chances perdidas. Mas a vitória foi sustentada.
O maior erro do Corinthians no segundo tempo, que causou este sufoco todo, foi esperar por um contra-ataque que não vinha nunca. Até porque Emerson e Guerrero não são jogadores rápidos a ponto de puxarem um contragolpe mortal. Jorge Henrique e Romarinho entraram posteriormente, têm mais este perfil, mas naquele momento o Timão mais buscou sustentar o placar mínimo que tentar ampliá-lo. Fica claro que, diante do Chelsea, fechar-se atrás não é exatamente a melhor estratégia. Buscar um confronto equilibrado, sem retranca, é a melhor alternativa.
O futebol não é uma ciência exata. O fato de o Corinthians ter tido grandes dificuldades hoje não quer dizer absolutamente que não possa vencer o Chelsea, que é um time longe de ser imbatível. A diferença técnica entre ingleses e brasileiros não é tão grande como outros confrontos recentes entre europeus e sul-americanos, e as próprias circunstâncias serão totalmente diferentes das de hoje, quando o favoritismo atribuído ao Corinthians era inequívoco. Será outro jogo, definitivamente. Embora algumas lições de hoje possam ser tiradas para evitar o vice-campeonato no próximo domingo. Largar de mão o coitadismo e o medo de ir para cima são as mais importantes.
Isso, claro, se for mesmo o Chelsea o finalista.
Mundial Interclubes 2012 - Semifinal
12/dezembro/2012
CORINTHIANS 1 x AL-AHLY 0
Local: Estádio de Toyota, Toyota (JAP)
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Público: 31.417
Gol: Guerrero 29 do 1º
CORINTHIANS: Cássio (6), Alessandro (6), Chicão (6,5), Paulo André (6) e Fábio Santos (5,5); Ralf (6), Paulinho (6,5), Danilo (5,5) e Douglas (7) (Jorge Henrique, 34 do 2º - sem nota); Emerson (5) (Romarinho, 29 do 2º - 6) e Guerrero (7,5) (Guilherme Andrade, 46 do 2º - sem nota). Técnico: Tite (6)
AL-AHLY: Ekramy (5,5) (El Saoud, 19 do 2º - 5,5), Fathy (6), Naguib (6), Gomaa (5) e Shedid (5,5); Ashour (5), Hisham (5,5), El Said (4,5) (Aboutrika, 9 do 2º - 6,5) e Soliman (7); Gedo (5,5) (Moteab, 34 do 2º - sem nota) e Hamdy (4,5). Técnico: Hossam El Badry (6)
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