O domingo que confirmou os erros
Há quatro anos um clube grande do eixo Rio-São Paulo-Minas-RS não caía para a segunda divisão. Ontem, pouco antes das 21h30, o Palmeiras tornou-se o terceiro time desta turma, a tropa de elite do futebol brasileiro, a ser rebaixado mais de uma vez. Como em 2002, ano de sua primeira queda, diante de um rubro-negro, fora de casa. E a confirmação matemática veio de forma melancólica, sem o time estar em campo, num erro da CBF, que marcou jogos de uma mesma briga, numa rodada decisiva, em horários diferentes. Imaginaram como seria o drama de cair aos 43 do segundo tempo, em um gol "sem querer" de Vagner Love?
Não fosse tão decisivo, o Flamengo x Palmeiras de ontem à tarde teria caído no esquecimento. Foi uma partida simplesmente horrorosa: o Fla, sem ter o que fazer, não moveu uma palha para fazer o Verdão cair. Com uma preguiça irritante, só não foi dominado pela equipe paulista porque o Palmeiras vive, de fato, um momento tenebroso. Maikon Leite, que é tecnicamente um bom jogador, perdeu gol incrível, cara a cara com o goleiro. Era a bola do jogo. Os palmeirenses, que fizeram do estádio de Volta Redonda uma espécie de mini-Palestra Itália, sabiam disso e se desesperaram. Ficava claro que os gols só poderiam sair de falhas ou em lances ocasionais. O palmeirense, ocorrido um pouco antes do erro de Maikon, foi advindo de um erro do goleiro Paulo Victor, enquanto o flamenguista só aconteceu porque a bola desviou na zaga antes de entrar no gol de Bruno.
Mas o Palmeiras não foi rebaixado porque Maikon Leite perdeu o gol, porque Bruno deu azar no chute de Vagner Love, porque o árbitro ignorou um pênalti após cabeçada de Barcos ou porque Ponte Preta e Grêmio não ganharam de Bahia e Portuguesa ontem. O Verdão está desde o início do Brasileirão entre os quatro últimos, mas eu sinceramente não esperava a queda. Não pelo título da Copa do Brasil, que veio muito mais na astúcia de Felipão no mata-mata que numa suposta qualidade técnica da equipe. Mas porque eu imaginava que a diretoria e a comissão técnica fariam uma análise minimamente adequada de que a equipe precisava de reforços, pois era deficiente em muitos pontos.
O Palmeiras achava que o que havia em casa era suficiente para evitar o rebaixamento naturalmente e ainda servir de base para o ano que vem. Nem para beliscar uma saída da zona o time se mostrou capaz. É fácil perceber que a culpa pela queda é muito mais de Tirone, Felipão (sim, ele mesmo) e companhia que de Gílson Kleina, que faz um aproveitamento em torno de 40%, ainda ruim, mas suficiente para fazer campanha melhor que a que rebaixou o time com duas rodadas de antecedência.
Em 2013, há muito mais perigos do que se imagina. Montar um time para tentar disputar o título da Libertadores é loucura. Seria um erro tão grande quanto o deste ano, de achar que o time campeão da Copa do Brasil era suficientemente bom para formar uma base sólida. O Palmeiras está anos-luz atrás de todos os outros brasileiros em relação à montagem do time para o ano que vem, isso sem falar em alguns argentinos, chilenos, colombianos, uruguaios e paraguaios. Mesmo que seja a maior competição do clube em 2013, a Libertadores deve ser disputada com afinco até não atrapalhar a Série B. O Palmeiras precisa ter os pés no chão e admitir que seu foco é subir, e não ser campeão da América, que é uma tarefa quase impossível de ser alcançada sem um time no mínimo muito bom. Até porque grandes jogadores, mesmo com Libertadores no horizonte, não gostam de jogar a Série B. Muitos deixarão o clube (Barcos deve ser o primeiro), outros tantos não vão querer vir, ainda mais com as reações violentas da torcida.
A sobrevivência é muito mais importante que a glória. Se não, 2014 pode ser ano sem Libertadores, nem Série A.
A força do banco
De novo, o Grêmio cala os que dizem que não há elenco na Azenha. A equipe ia mal, levando 2 a 0 da Portuguesa, até que Marquinhos e André Lima (além de Leandro) entraram no time e participaram dos dois gols no empate em 2 a 2, que manteve o time na vice-liderança, aproveitando tropeço do Atlético Mineiro, em casa, com o Atlético Goianiense. Poderíamos dizer que seria uma exceção, mas o fato é que os reservas decidiram a sorte gremista neste Brasileiro em diversas oportunidades: 12 de 36 partidas, um terço do torneio até agora. Senão vejamos:
Grêmio 1 x 0 Palmeiras: André Lima entra e faz de cabeça o gol da vitória
Grêmio 3 x 1 Sport: Leandro entra no segundo tempo e faz dois gols, ajudando na virada
Coritiba 2 x 1 Grêmio: o time perde no fim, mas quase arranca um empate em gol de André Lima
São Paulo 1 x 2 Grêmio: Marquinhos cruza para o gol de Werley e André Lima faz o gol da vitória
Grêmio 4 x 0 Figueirense: o reserva Leandro começa como titular e faz dois gols. André Lima entra no segundo tempo e marca outro, em jogada de Marquinhos
Corinthians 3 x 1 Grêmio: o time perde no Pacaembu, mas o gol foi marcado por Leandro
Grêmio 2 x 1 Cruzeiro: Marquinhos faz o gol da vitória no segundo tempo
Sport 1 x 3 Grêmio: com vários titulares fora, Marquinhos e Leandro dão conta do recado e marcam
Grêmio 1 x 1 Botafogo: Léo Gago, outro reserva que começou como titular, faz o gol
Grêmio 1 x 0 Ponte Preta: André Lima entra e faz o gol da vitória
Grêmio 2 x 1 São Paulo: André Lima entra e marca o gol de empate
Portuguesa 2 x 2 Grêmio: Marquinhos e André Lima (autor de um gol) participam dos dois gols
Definições da rodada
O Sport conquistou uma vitória importantíssima sobre o Botafogo: 2 a 0, eliminando o alvinegro da Libertadores, classificando o São Paulo e, mais importante, deixando ele próprio a um ponto da salvação. A distância para a Portuguesa, que já foi de nove pontos, é de apenas um agora. Isso torna ainda mais importante a vitória do Bahia sobre a Ponte Preta, por 1 a 0. Com 43 pontos, os baianos estão ainda só três pontinhos longe da degola. A briga para não cair será fortíssima nas duas rodadas finais. Até Ponte Preta, Coritiba e Náutico, que pareciam salvos, correm riscos.
O Sport, ainda o mais ameaçado, pega o desmobilizado campeão Fluminense na Ilha do Retiro. A Ponte recebe o São Paulo, também com objetivos cumpridos, e se salvará empatando. A Lusa visita o decadente Internacional, o Coritiba pega o também quase em férias Cruzeiro. O jogo mais complicado é o confronto direto entre Bahia e Náutico, no Pituaçu. É o jogão da 37ª rodada.
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