Não confunda os animais

Alguém lembra do Goiás de 2010? É mais ou menos esta a comparação que podemos fazer em relação ao Tigre, finalista da Copa Sul-Americana 2012. Embora seja um time tecnicamente até inferior àquele esmeraldino que fez a final com o Independiente, a esquadra de Victoria, cidade da região metropolitana ao norte de Buenos Aires, conseguiu a mesma façanha que a equipe de Rafael Moura há dois anos: mesmo indo pessimamente no campeonato nacional (é penúltimo, com aproveitamento de apenas 23%), decidirá a Sul-Americana contra um gigante continental.

Desta vez, ao contrário daquela, o gigante é favorito. O São Paulo pode ter tido imensas dificuldades para eliminar a Universidad Católica (sem falar na LDU de Loja), mas é muito mais time. O que não significa que a coruja esteja pelada: afinal, o Tigre cumpriu ontem uma tarefa que o Grêmio, equipe que está bem à frente do próprio São Paulo no Brasileiro, não conseguiu: eliminar o Millonarios, em Bogotá. Tigre é Tigre, zebra é zebra. Tratar tigre como zebra pode dar problemas, seja numa floresta africana ou numa final de Copa Sul-Americana.

A equipe argentina, que empatara em 0 a 0 jogando em casa, saiu à frente no placar, aos 20 minutos do segundo tempo, algo que o Grêmio também fizera. Só sofreu o empate nos descontos. O Millonarios era melhor time: fez a melhor campanha no Campeonato Colombiano, recém havia eliminado um dos favoritos do torneio. Mas o mata-mata permite que o Tigre faça o que o Grêmio não conseguiu. Seja por falta de pernas ou por qualquer outra razão. O Tigre prioriza a Sul-Americana quase que totalmente, o Grêmio não, o que também pesou. Só este fato já é um belo cartão de visitas, e que mostra que este time inspira cuidados.

É claro que o São Paulo entra como favorito. É difícil imaginar o cenário de ver o penúltimo colocado do Campeonato Argentino ser campeão no Morumbi lotado. Mas também era difícil ver isso acontecer no El Campín lotado e 2,6 mil metros acima do nível do mar. Além disso, os são-paulinos abriram sua torcida pelo Tigre, para poder jogar a segunda em casa. Sabemos que não faz tanta diferença, não só pela estatística, mas por outro simples motivo: o jogo de ida é na Argentina, em estádio acanhado. Ninguém também imaginava o Newell's e o Vélez levando decisões de Libertadores para os pênaltis na década de 90 no Morumbi lotado.