Campeoníssimo

Contestamos bastante o futebol apresentado pelo Fluminense. Afinal, um time com Diego Cavalieri, Rafael Sobis, Deco, Thiago Neves, Wellington Nem e Fred poderia ter jogado um futebol não só mais bonito, mas mais dinâmico e coletivamente que enchesse mais os olhos, dominasse os adversários, massacrasse alguns, até. Mas Muricy Ramalho já demonstrou quatro vezes nos últimos sete anos (três delas com o São Paulo, outra com o próprio Flu): ter o melhor elenco do país nas mãos e fazê-lo jogar de forma até burocrática, mas extremamente eficiente, é a receita que mais dá certo para ganhar um campeonato longo. Tite fez isso em 2011. Abel fez agora - o Flu 2011, do próprio Abelão, até jogava mais bonito, mas perdia muito (foram 15 derrotas), e por isso perdeu o título.

Dito isso, vamos aos números e a alguns fatos. O Fluminense é campeão com três rodadas de antecipação. De 2003 para cá, só o fantástico São Paulo de 2007 fez melhor; o incrível de Cruzeiro 2003 fez igual. Já são 22 vitórias. Com mais duas, supera o São Paulo de 2007, recordista (23) desde que o campeonato passou a ter 20 clubes. O Grêmio, segundo que mais ganhou esse anos, tem três vitórias a menos. Foram só três derrotas. Mantendo-se invicto, será o campeão brasileiro com menos derrotas desde o Vasco de 1989. O time tem o melhor ataque (59 gols), a melhor defesa (28 sofridos) e o melhor saldo (31). São 72,4% de aproveitamento. O melhor da era dos pontos corridos, o Cruzeiro de 2003, teve desempenho quase igual: 72,5%. E ainda pode ser superado. Fora isso, tem o melhor goleiro do campeonato (Diego Cavalieri) e o melhor jogador (Fred), que também será o provável artilheiro da competição. Tudo no Brasileiro 2012 é do Fluminense.

Ontem, a vitória sobre o quase rebaixado Palmeiras foi absolutamente previsível, principalmente pelo modo como ocorreu. Nada menos que 40 pontos separavam as duas equipes antes do jogo. A tendência natural era vermos um Flu jogando no erro de uma equipe desesperada pela vitória. Aproveitar o erro de quem propõe o jogo é a grande arma tricolor neste ano. A estratégia não funciona contra os melhores (o time não ganhou nenhuma de Atlético-MG e Grêmio, os únicos que ameaçaram seu título em algum momento do certame), mas é perfeita para ganhar de times mais fracos: o Fluminense deixa o rival gostar do jogo, sentir que o "bicho não é tão feio assim" e, num contragolpe, o fere mortalmente. Tudo isso só é possível tendo uma zaga confiável, um goleiraço, meias criativos, um atacante habilidoso e rápido e um matador sanguinário. Ou seja, tendo um timaço.

O Palmeiras até foi dominado no começo. Levou 2 a 0, buscou o empate em Presidente Prudente, mas sofreu um gol no fim, que selou a derrota e o seu quase confirmado rebaixamento. Na verdade, o 2 a 2 já praticamente rebaixaria o Palmeiras. Faltando nove pontos em disputa, a equipe segue precisando tirar sete de Bahia ou Portuguesa. Ambos vêm decadentes, mas o Verdão não se ajuda. Já na próxima rodada, se a equipe não diminuir a diferença para ao menos um deles, estará matematicamente na Série B. As chances de salvação são mínimas.

O Brasileirão 2012 ficará marcado como um dos melhores em nível técnico, mas piores em termos de emoção e competitividade nos últimos tempos. Ao menos, o jogo em que o título antecipado do Fluminense foi confirmado veio em uma partida emocionante e absolutamente dramática, contra um adversário desesperado, um clube grande à beira do abismo e de um ataque de nervos. Mesmo com a tabela jogando contra, foi um domingaço.

Rio de Janeiro: o Vasco (7º, 51) interrompeu sua série de seis derrotas em carreira e segurou o Atlético-MG (3º, 65) em São Januário, que recebeu 7 mil pessoas. Ronaldinho, de pênalti, abriu o placar para o Galo, mas Alecsandro empatou: 1 a 1. O resultado foi bom para o Grêmio, que ultrapassou o time de Minas e agora é vice-líder, o que lhe daria vaga direta na fase de grupos da Libertadores. E para o Flu, claro, que comemorou o título ontem mesmo.

Campinas: mais uma jornada melancólica do Internacional (8º, 51), em especial sua defesa, que levou outro gol de bola parada. Na saída para o intervalo, o clima era tenso: Leandro Damião pôs a culpa na defesa, "que sempre leva gol de bola parada"; Bolívar, claro, reclamou do ataque, "que não segura a bola lá na frente"; Josimar pediu "amor à camiseta"; Juan garantiu que o time viraria. Não conseguiu. O 1 a 0 deixa a Ponte Preta (11º, 46) quase livre do rebaixamento e bem colocada por um lugar na Sul-Americana. Roger fez o gol. Pouco mais de 8 mil no Moisés Lucarelli.

Recife: vitória importantíssima e muito comemorada pelo Flamengo (9º, 47), que fez 1 a 0 no Náutico (13º, 45) nos Aflitos e se livrou da queda. Renato Abreu fez o gol, em um pênalti contestadíssimo pelos pernambucanos, mas Paulo Victor é que foi o herói, com excepcionais defesas. Mais de 19 mil pessoas nos Aflitos, o maior público do Náutico no Brasileirão.

Belo Horizonte: em uma grande jornada de Martinuccio (autor de dois gols) e com um golaço por cobertura de Willian Magrão, o Cruzeiro (10º, 46) interrompeu a má fase e venceu o cada vez mais ameaçado Bahia (16º, 40), de virada, por 3 a 1. Fahel fez o gol solitário dos visitantes, que podem ingressar na zona de rebaixamento já na rodada que vem, caso percam para a Ponte Preta e o Sport vença o Botafogo. A Portuguesa (15º, 40) também está ao alcance do rubro-negro de Recife.

Florianópolis: no jogo mais melancólico da rodada, Figueirense (19º, 30) e Sport (17º, 37) ficaram no 1 a 1 no Orlando Scarpelli vazio, com menos de 3 mil torcedores. Gilberto abriu o placar para os pernambucanos, e Júlio César empatou. O resultado rebaixou o Figueira e foi péssimo para o Leão, que deixou de encostar em Bahia e Portuguesa na luta para não cair.

CAMPEONATO BRASILEIRO 2012 - 35ª RODADA
PALMEIRAS (2): Bruno; Wesley, Maurício Ramos, Henrique (Román) e Juninho; João Denoni, Corrêa, Marcos Assunção (Luan) e Patrick Vieira; Obina (Maikon Leite) e Barcos. Técnico: Gílson Kleina
FLUMINENSE (3): Diego Cavalieri; Bruno (Diguinho), Gum, Leandro Euzébio e Carlinhos; Edinho, Jean e Thiago Neves; Wellington Nem (Marcos Júnior), Fred e Rafael Sobis (Valencia). Técnico: Abel Braga
Local: Estádio Prudentão, Presidente Prudente (SP); Data: domingo, 11/11/2012, 17:00; Árbitro: Leandro Pedro Vuaden (Fifa-RS); Público: 8.461; Renda: R$ 222.495,00; Gols: Fred 45 do 1º; Maurício Ramos (contra) 8, Barcos 15, Patrick Vieira 19 e Fred 42 do 2º; Cartão amarelo: Luan, João Denoni, Jean e Carlinhos

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