A maior eleição que não aconteceu

É uma pena o Internacional ter 73 mil sócios eleitores e nenhum deles poder votar para presidente. Culpa de um estatuto que impõe uma cláusula de barreira alta demais. Se o índice para que um candidato passasse para o segundo turno caísse dos atuais 25% para 20%, por exemplo, já teríamos eleição. Que seria a maior da história do futebol brasileiro, mas acabou não acontecendo.

A vitória em primeiro turno é um alívio para Giovanni Luigi, que teria dificuldades em enfrentar Luiz Antônio Lopes, um candidato apoiado por Vitório Piffero (e com promessa deste participar como vice de futebol), no segundo turno. Piffero tem apelo junto aos sócios bem maior que Luigi. O maior mérito deste nestes dois anos não foram os dois títulos gaúchos e o da Recopa, mas sim o de não ter cedido às pressões para assinar um contrato desvantajoso para o clube com a Andrade Gutiérrez. Ou seja: até mesmo em seu maior acerto, Luigi irritou boa parte dos colorados, dando a impressão de não ser firme na tomada de decisões. Neste caso, uma crítica injusta. Mas em muitos outros houve justiça na contestação.

Um erro básico, talvez o maior de todos e especialmente em 2012, foi o de renovar o futebol de forma equivocada. Luigi precisa cercar-se de pessoas experientes, com pulso firme, para comandar o vestiário colorado. Ao contrário: trouxe dirigentes inexperientes (Anápio, Fernandão e Luciano Davi), inventou Fernandão como técnico, renovando a direção, mas não o time. O Inter precisa de renovação muito mais dentro que fora de campo. Nomes como Bolívar, Kleber e Índio já encerraram seu ciclo no Beira-Rio há dois anos, mas seguem jogando. D'Alessandro deveria ter sido vendido em janeiro, mas ficou por um salário incompatível com seu retorno para o clube e para o time. Em 2013, a grande maioria deles deve permanecer no plantel. Só Bolívar tem saída quase certa. Até o limitado Nei tem chances de ficar. E Davi, que não seria o vice de futebol em caso de segundo turno (Luigi perderia votos propondo sua manutenção), também pode receber continuidade.

Nada disso quer dizer que a eleição de Luigi não reflita a vontade dos sócios do Internacional. Mesmo com Piffero ao lado de Lopes, o atual presidente ainda assim teria chances de vencer entre os associados. Algumas enquetes em emissoras de rádio (nada científicas, é bom deixar claro) apontavam isso. Talvez um bom termômetro para sabermos como seria o pleito será a eleição para renovação do Conselho, que ocorrerá dentro de algumas semanas. Uma boa medida para os novos conselheiros será reduzir a atual cláusula de barreira. Afinal, a maior derrota sofrida pelo Inter ontem foi a não-realização da eleição, mais que a reeleição de Luigi. Os sócios que ficaram mais indignados ontem por não poderem participar da eleição presidencial de 2012 devem eleger chapas que proponham a adoção desta medida.

Em tempo:
- Muitos sócios ameaçam não pagar mais mensalidades no ano que vem. Afinal, o time vai mal, o Beira-Rio não oferece condições para quem quer ir aos jogos e nem mesmo votar para presidente estes associados puderam em 2012. Difícil rebater tais argumentos.

- Só para não passar em branco: vitória do Inter no STJD contra o Palmeiras evitou o grande fiasco do futebol nacional em 2012. É o fim dos temíveis asteriscos na tabela do Brasileirão.

Comentários

Lourenço disse…
Não sou contra cláusula de barreiras em eleições presidenciais. Candidato que não tem 25% de apoio no Conselho não tem sustentação política e fica isolado, mesmo. O que não pode ter é cláusula de barreira em eleição para o Conselho, pois ali sim é que se deve estimular a oxigenação e a proporcionalidade dos grupos do clube. A eleição para o Conselho é proporcional e deve respeitar isso, a de Presidente é majoritária.

Mas enfim, ainda que não se concorde com o que eu digo, a vitória de Luigi é legítima, baseada em um estatuto que existe há muito tempo. Não acho correto que se promova uma "vingança" contra isso na próxima eleição do conselho, como se fosse culpa da situação o fato de não ter havido eleição no pátio. Se tivéssemos apenas um candidato de oposição, com certeza iria para o 2º turno.
Vicente Fonseca disse…
Lourenço, só pra deixar claro: também não sou contra cláusulas de barreira. Apenas acho que 25% é um percentual alto demais.

E concordo: com oposição mais unida, certamente haveria segundo turno no Inter.