Um time no fim do túnel

Há dois anos vendo sendo até chato por repetir inúmeras que vezes que a seleção brasileira não se sustenta só com gurizada. Era preciso alguém experiente para conduzir os mais jovens, introduzi-los à responsabilidade de vestir a camisa canarinho. A decadência precoce da geração que jogou os Mundiais de 2006 e 2010 e a ideia de que era preciso jogar todo o trabalho de Dunga fora dificultaram este processo. Mas bastou um daqueles experientes craques voltar à ativa para Mano Menezes chamá-lo.

Por isso, não critiquei a convocação de Kaká, mesmo quando ele mal começava a voltar ao banco do Real Madrid. E a importância tem se mostrado dentro de campo. Contra o Iraque "não valeu", pois era uma seleção fraquíssima. Mas hoje o Brasil pegou o Japão, que não ficou entre os melhores do mundo na Copa de 2010 porque perdeu uma decisão de pênaltis para o Paraguai, e lidera disparado a eliminatória asiática para 2014. Um teste válido, contra uma seleção no mínimo média. E o time brasileiro passou com louvor.

Além dos 4 a 0 e da boa participação de Kaká, há um fator importantíssimo que deve ser ressaltado na goleada: o fim da dependência de Neymar. Nos últimos dois anos, a seleção se viciou no craque santista. Todos procuram o camisa 11 o tempo todo. Com Kaká, o centro técnico muda. Assume um jogador não tão artístico para quem olha, mas bem mais experimentado, acostumado a este tipo de responsabilidade, que faz os outros jogarem, mas não joga tanto para si próprio. Neymar pode sentir no começo, mas agradecerá no final. As atenções não se voltarão mais todas para ele. Nem da torcida, nem dos adversários. Haverá mais gente com quem se preocupar no time, e isso pode abrir espaços para mostrar seu futebol. Hoje já foi assim, ao marcar dois gols e demonstrar em campo uma importância tática até então desprezada em favor de seus dribles geniais.

Outro fato importantíssimo: Mano Menezes parece ter uma ideia de time. Começa a pensar uma escalação que vai se firmando, algo que Dunga encontrou mais ou menos nesta mesma época, no fim de 2008. Ela tem Daniel Alves e Marcelo nas laterais (não puderam atuar hoje), David Luiz e Thiago Silva atrás. Mas, principalmente, o maior ganho é no meio-campo: Paulinho, Ramires, Kaká e Oscar formam o melhor quarteto desde que a Copa de 2010 acabou. Os volantes marcam e jogam, os meias são criativos e aplicados taticamente. Há, pela primeira vez, equilíbrio entre ataque e defesa. Tem tudo para funcionar. Hernanes, que anda esquecido, pode ser um peça interessante de reposição para este sistema que começa a ser implementado. Lucas, do Liverpool, pela característica, também.

Falta, ainda, o companheiro de Neymar no ataque. Leandro Damião fez uma ótima Olimpíada e é quem melhor rendeu até agora, mas seu 2012 no Inter foi bem inferior ao 2011. É uma vaga ainda em aberto. Lucas, do São Paulo, não é o cara. É, por enquanto, um ótimo reserva para Neymar e uma alternativa importante para abrir o jogo quando necessário.

Em tempo:
- Jogo de hoje deu prejuízo para os organizadores. Custa fazer um Brasil x Japão em Tóquio ou por aqui? Lotaria qualquer estádio, desde que os ingressos tivessem preço dentro do razoável.

AMISTOSO
JAPÃO (0): Kawashima; Uchida (Sakai), Konno, Yoshida e Nagatomo; Nakamura (Inui), Endo, Hasebe (Hosogai) e Kiyotake; Kagawa e Honda. Técnico: Alberto Zaccheroni
BRASIL (4): Diego Alves; Adriano, Thiago Silva, David Luiz e Leandro Castán; Paulinho, Ramires (Sandro), Kaká (Lucas) e Oscar (Thiago Neves); Neymar (Leandro Damião) e Hulk (Giuliano). Técnico: Mano Menezes
Local: Estádio Miejski, Breslávia (POL); Data: terça-feira, 16/10/2012, 9h; Árbitro: Marcin Borski (POL); Gols: Paulinho 11 e Neymar (pênalti) 24 do 1º; Neymar 2 e Kaká 29 do 2º; Cartão amarelo: Ramires e David Luiz

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