O jogaço do Brasileirão

Fluminense e Grêmio têm feito alguns jogaços nos últimos anos. O dramático 4 a 4 de 2006, o nervoso 3 a 2 na Copa do Brasil de 2010, o maluco 5 a 4 de 2011. Mas, tecnicamente, nenhum chega perto do que vivemos hoje à noite. Foi uma partida de alto nivel, entre dois dos melhores times do país, em um estádio lotado, fervilhando de ansiedade e clima de decisão - embora não fosse exatamente uma decisão, já que o Flu é o virtual campeão brasileiro da temporada.

O Grêmio de Vanderlei Luxemburgo é o melhor time construído pelo Tricolor desde 2001. Neste período o Grêmio foi vice-campeão brasileiro e da Libertadores, semifinalista sul-americano outras duas vezes, mas nenhum desses times jogava mais futebol que o atual. Hoje, a atuação no Engenhão foi um resumo do campeonato que o time faz: mesmo como visitante, diante do líder, tomou a iniciativa do jogo, não se acovardou e jogou melhor na maior parte do tempo. Poderia e deveria ter vencido, não tivesse este Fluminense tanta pinta e sorte de quem é campeão.

Como previmos, foi o time gaúcho que partiu para cima. Com um meio organizado e ofensivo, o Grêmio se colocou no campo do Fluminense. Leandro levava perigo em velocidade, Anderson Pico subia bem pelo outro lado. Elano, de volta, deu a categoria habitual à meia-cancha. Os primeiros 20 minutos foram de dominação. Dali em diante, o Flu se reorganizou. Mesmo com Wagner em (mais uma) péssima jornada e Deco não tão brilhante como de costume (mas ainda assim bem), a equipe levava perigo em velocidade. Wellington Nem fez muita falta, mas Bruno e Carlinhos apoiavam bem. Sobis foi perigoso o jogo todo, o melhor do time. E é reserva, para se ter ideia do elenco.

O segundo tempo iniciou como começara o primeiro: domínio gremista. Quando fez 1 a 0 em cobrança genial de falta de Elano, a equipe gaúcha já havia criado ao menos duas grandes chances de abrir o placar. Era o resultado merecido. Mas o Fluminense é implacável: a vantagem durou quatro minutos, até o empate de Digão, no primeiro cochilo gremista no jogo. O Flu não perdoa cochilos, nem falhas. O chute de Rafael Sobis no 2 a 1 foi realmente indefensável, mas porque Marcelo Grohe estava mal posicionado. O ex-atacante colorado estava desmarcado, claro, e só por isso ocorreu o chute. E, fazendo a diferença como em nenhum Gre-Nal que disputou, levou a cotovelada que expulsou Marcelo Moreno de campo, 43 segundos depois de ele ter entrado. Uma atitude absurda do boliviano, que merece severa punição.

Aí, mais uma vez apareceu a melhor faceta do Grêmio de 2012: a falta de medo de perder, aquele que tira a vontade de vencer, uma máxima de Luxa. Mesmo com um a menos, contra o virtual campeão, fora de casa, o Grêmio foi para cima. Cedeu espaços, correu riscos, mas tentou o empate. Passou a dominar o melhor time do país com dez homens em campo e fez o gol de empate, o primeiro de Zé Roberto desde que chegou a Porto Alegre. Um resultado a ser comemorado, diante das circunstâncias, mas que poderia ter sido ainda melhor.

O Grêmio fez 4 pontos contra o Fluminense neste campeonato. Não dá título, mas dá a dimensão da qualidade do time. O empate de hoje foi um ótimo resultado na briga pela Libertadores. Para o Flu, fica um gosto amargo de ter deixado a vitória escapar no fim, mas o time conseguiu um resultado até superior à sua atuação, que não foi ruim, mas pior que a do Grêmio na maior parte do tempo. Seja como for, um jogaço. De ficar na memória por muito tempo.

Em tempo:
- Muita gente contestou Sandro Meira Ricci antes do jogo, mas era simplesmente impossível não expulsar Marcelo Moreno. O Grêmio dará sorte se ele não pegar um gancho pesado, pois merece. A única reclamação possível é não ter apresentado (no mínimo) amarelo para Gum no lance que originou o gol de Elano. E algumas faltas ignoradas sobre Kléber, por implicância.

- Ótima partida de Anderson Pico no apoio. De fato, um dos melhores laterais do campeonato. Ou há alguém jogando muito mais que ele?

- Tradicional local de fracassos, o Engenhão foi simpático ao Grêmio em 2012: uma vitória e dois empates em três jogos. Dois deles contra estádios lotados.

- Há muito mais o que falar sobre a rodada, mas não falarei. O Carta na Manga entra em regime de férias até a próxima sexta, dia 26. Podem ocorrer postagens no período, ainda que esporádicas. Fiquem atentos, pero no mucho.

CAMPEONATO BRASILEIRO 2012 - 31ª RODADA
FLUMINENSE (2): Diego Cavalieri; Bruno, Gum, Digão e Carlinhos; Edinho, Jean, Deco e Wagner (Thiago Neves); Rafael Sobis (Marcos Júnior) e Fred. Técnico: Abel Braga
GRÊMIO (2): Marcelo Grohe; Pará, Werley, Gilberto Silva e Anderson Pico; Fernando (Marquinhos), Marco Antônio, Elano (Léo Gago) e Zé Roberto; Leandro (Marcelo Moreno) e Kléber. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Local: Estádio Engenhão, Rio de Janeiro (RJ); Data: quarta-feira, 17/10/2012, 19h30; Árbitro: Sandro Meira Ricci (Fifa-DF); Público: 35.217; Renda: R$ 783.325,00; Gols: Elano 9, Digão 13, Rafael Sobis 17 e Zé Roberto 40 do 2º; Cartão amarelo: Jean e Anderson Pico; Expulsão: Marcelo Moreno

Comentários

Marcelo disse…
Pior que esse 11 anos sem títulos não são apenas incompetência.

É uma tremenda falta de sorte.

2012 o Grêmio faz uma BAITA campanha, mas o Fluminense vai lá e faz a melhor campanha dos pontos corridos.

2008, mesmo com um ataque formado por Marcel e Perea, o Grêmio só perdeu porque o SP fez um segundo turno espetacular (só perdeu pro Grêmio).

2007 o Boca inspirado, 2010 o Santos com Neymar e Ganso inspirados, e por aí vai.

Estivemos perto de comemorar algo várias vezes. É muito azar.
Lique disse…
como alguém já citou aqui, se o brasileirao fosse uma grande copa do brasil, os unicos confrontos que o gremio teria perdido seriam: atletico mg (0x1 em casa, 0x0 fora), santos (1x1 em casa, 2x4 fora). dos que faltam, tem que ganhar da portuguesa fora e do coritiba e da ponte em casa. os outros confrontos estao bem encaminhados.
Vine disse…
Putz, queria ler a tua opinião sobre a obra prima do Inter contra o Figueirense...