Brilhantemente pragmático

Criou-se uma cultura no Brasil de que o time daqui tem sempre que amassar e golear o adversário sul-americano quando joga em casa. Se não, foi mal. Muitos tentam aplicar esta arrogante máxima ao jogo de ontem à noite, no que discordo profundamente.

O Grêmio nem poderia ter amassado o Millonarios ontem, por razões físicas. Esteve longe de ser brilhante (quem precisa disso estando quase em novembro?), mas foi quase perfeito na execução de seu plano: ganhar o jogo sem sofrer gols. A derrota para o Palmeiras na Copa do Brasil deixou lições, que foram aplicadas ontem. O time de Vanderlei Luxemburgo dominou o jogo praticamente inteiro, sem contudo se atirar para cima de forma desordenada. Jogou no campo do adversário sem lhe dar espaço para contragolpear ou ter chances claras de gol. Foram pouquíssimas as vezes onde a equipe de Bogotá chegou com perigo. Marcou muito a saída de bola, até o fim do jogo, algo raro em um final de temporada. E tudo isso só seria possível sem o abafa. Ou seja: dosando forças.

O Millonarios começou a noite dando a impressão de que faria um jogo franco, algo surpreendente para quem viu o time se fechar diante do Palmeiras em São Paulo. Teve um bom chute de Otálvaro de fora da área e uma boa jogada de Rentería salva por um calcanhar magistral de Gilberto Silva. Mas não passou disso. O primeiro tempo foi quase todo do Grêmio. Zé Roberto, com movimentação, um chutaço defendido por milagre pelo goleiro Delgado e passes precisos, era o centralizador de tudo, como era previsto sem Elano. O time atuou em losango, com Marco Antônio e Léo Gago na segunda linha. Leandro incomodou bastante a defesa no primeiro tempo e foi taticamente importante ao impedir avanços do lateral Ochoa. No segundo, caiu de produção.

Mesmo com o gol, o Grêmio não baixou o ritmo nem a guarda. Seguiu marcando forte e dominando a partida sem afobações. A curiosa parada para atendimento ao árbitro parou o jogo por alguns minutos e fez bem ao Millonarios, que viveu seu melhor momento na partida logo após o ocorrido. Mas o Tricolor não demorou a retomar o controle e criou mais chances de perigo. As substituições vieram na hora certa: Marco Antônio já perdia divididas, e Souza deu um novo fôlego à marcação; Leandro já mostrava a precipitação típica dos jovens e levava pouca vantagem sobre a marcação, e Marquinhos poderia auxiliar o ataque com passes qualificados; Léo Gago errava simplesmente todos os passes que tentava, dificultando a tarefa de ampliar o placar, e André Lima poderia ser peça importante numa pressão de fim de jogo, pela bola aérea.

Mas então qual foi o pecado do Grêmio? Conclusões. Tem sido problema há algum tempo. Kléber não jogou ontem, mas tanto ele como Marcelo Moreno não vivem suas melhores fases. Moreno conseguiu algumas antecipações e até fez boa partida ontem, mas não marcou gol mais uma vez. O time gaúcho criou várias chances, mesmo sem forçar tanto, mas não traduziu esta criação em vantagem maior. Esse tipo de problema pode ser fatal em mata-mata.

Mesmo assim, a vantagem é boa. O Millonarios, em determinado momento da partida, achou que o 1 a 0 era interessante e segurou o resultado negativo mínimo. É um time que pressiona bastante em casa, mas não pode se iludir: o Grêmio é muito superior aos titulares do Palmeiras. Que dirá dos reservas, que foram à Colômbia. Eliminar o Verdão não pode ser parâmetro. No máximo, um fator de animação. De resto, é um time que não se defende bem, mas tem alguns jogadores interessantes do meio para a frente. Rentería fez boa partida, Otálvaro tem qualidade técnica. O jogo do dia 15 vai ser duro. Mas o Grêmio deu um passo importante e está bem mais perto da semifinal que antes de a partida do Olímpico começar.

Em tempo:
- O gol anulado de André Lima é polêmico: ele certamente não está impedido, mas possivelmente tocou com o braço na bola. Nenhuma câmera mostra direito se foi ombro ou braço, embora aparentemente o lance seja mesmo ilegal. O bandeirinha errou, pois anulou por impedimento. Mas foi salvo pela mão do centroavante gremista, que atrapalhou o andamento da jogada: saindo dela, possivelmente teríamos gol contra de Rentería.

- Pouca gente no Olímpico. 20 mil pessoas é público baixo para jogo de tamanha importância. A torcida gremista parece de fato não curtir a Copa Sul-Americana. Uma classificação na Colômbia e a vaga entre os quatro melhores certamente ajudará a termos uma semifinal mais cheia no Olímpico.

- Este pode ter sido o último jogo oficial contra um adversário estrangeiro na história do Olímpico. Basta que o Grêmio passe, pegue o São Paulo nas semifinais e decida jogar uma possível decisão na Arena. Ou seja eliminado antes disso.

- Segunda grande partida de Naldo seguida. Perfeito por cima, por baixo e nas antecipações. Muito seguro. Mas Werley é mais jogador.

COPA SUL-AMERICANA - QUARTAS DE FINAL - JOGO DE IDA
GRÊMIO (1): Marcelo Grohe; Pará, Gilberto Silva, Naldo e Anderson Pico; Fernando, Marco Antônio (Souza), Léo Gago (André Lima) e Zé Roberto; Leandro (Marquinhos) e Marcelo Moreno. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
MILLONARIOS (0): Delgado; Ochoa, Torres, Franco e Martínez; Ramírez, Ortíz (Vásquez), Candelo (Blanco) e Otálvaro; Rentería e Cosme (Perlaza). Técnico: Hernán Torres
Local: Estádio Olímpico, Porto Alegre (RS); Data: terça-feira, 30/10/2012, 21h50; Árbitro: Julio Bascuñan (Chile); Público: 20.055; Renda: R$ 281.775,50; Gol: Marco Antônio 36 do 1º; Cartão amarelo: Leandro, Marco Antônio, Naldo, Torres, Ramírez e Martinez

Comentários

Anônimo disse…
Sobre o Naldo, acho que a evolução dele se deve ao sistema defensivo melhor formatado do que de quando ele chegou e saiu jogando. Acredito que seja um bom reserva para o grupo, se não tem nenhum guri da base para essa posição.
Vicente Fonseca disse…
Concordo. Com um sistema defensivo ajeitado o jogador mais limitado aparece melhor, ganha mais confiança. O que não dá é para vender o Werley, como se cogitou nos últimos dias, e achar que ele será um bom titular. Não será.