Inevitáveis vaias

Mano Menezes recebeu vaias da torcida de Goiânia, mas quem mais as merecia era a seleção argentina. Não apenas por ser a adversária do Brasil, mas pelo que não jogou. O time hermano que disputou o superclássico de ontem era bem melhor que o do ano passado. O primeiro gol, feito no típico toco y me voy platino é a maior prova disso. Só ter Maxi Rodríguez, hoje no Newell's, entre os 11 titulares, já era garantia de uma boa qualidade na articulação.

Ou seja: a Argentina podia muito mais. Em vez de encarar o Brasil, Sabella preferiu ficar atrás, abdicar de atacar. Tornou o jogo feio e desinteressante. Talvez uma estratégia para enervar a torcida no Serra Dourada. Mas que acabou limando as possibilidades da sua equipe de vencer a partida - e elas existiam.

O grande erro de Mano Menezes ontem à noite foi mesmo ter sacado Lucas do jogo. Discordo dos que viam o são-paulino fazer uma grande partida, não o acho o cracaço que muitos consideram, mas era fato que vinha sendo o mais perigoso brasileiro no jogo. Fato, também, é que a equipe precisava da imprevisibilidade de Wellington Nem para furar o bloqueio albiceleste. Mas no lugar de quem o atacante do Fluminense devia ter entrado?

Neymar, ora. O santista não fez boa partida. Tentava jogadas de efeito, mas não conseguiu vitória pessoal quase nunca. Era uma noite particularmente infeliz do atacante do Peixe. Mano resolveu deixá-lo em campo seguindo a máxima que não se deve tirar aquele jogador que pode lhe dar a vitória em um lance isolado. É uma teoria respeitável, mas quando não se tem outras expressões técnicas que possam fazer o mesmo. No caso de ontem, Lucas estava muito mais próximo de decidir o jogo que Neymar. O próprio Wellington Nem tem condições técnicas para isso. 

A torcida viu a mudança, constatou o erro do técnico, pegou seu histórico ruim nesses dois anos e despejou as vaias que estava guardando desde antes da partida, conforme atestam as inúmeras faixas de "Fora Mano" levadas ao Serra Dourada. É provável, portanto, que Mano fosse vaiado até mais do que foi se tivesse tirado Neymar. Com um agravante: hoje, a imprensa nacional estaria crucificando o técnico se ele tirasse o craque do Santos da partida, mesmo que ele estivesse mal. Para um técnico já pressionado, seria colocar a cabeça a prêmio de vez. Mano foi um tanto covarde, portanto. Dunga não era. Por isso fez um bom time, e por isso comprou tanta briga.

A seleção, em si, não foi tão mal assim. Ganhar da Argentina é sempre complicado. O time fez o que pôde: diante de um adversário fechado, martelou até obter a vitória. Ganhou na marra, com um gol em impedimento e outro em um pênalti esquisito. Agora tem a volta, lá, onde a Argentina é bem mais interessada em conquistar vitórias.

Em tempo:
- Fábio Santos não foi bem, está longe de ser o melhor lateral-esquerdo em atividade no país, não merece convocação. Ok. Mas não dá para perpetuar a mentira de que se trata de um "bruxo" de Mano Menezes. Não foi jogador de Mano nem no Grêmio, nem no Corinthians. Nunca foi treinado por ele, inclusive. Chega de memória curta e seletiva.

FICHA TÉCNICA
BRASIL (2): Jefferson; Lucas Marques, Dedé, Réver e Fábio Santos; Ralf, Paulinho e Jadson (Thiago Neves); Lucas (Wellington Nem), Luís Fabiano (Leandro Damião) e Neymar. Técnico: Mano Menezes
ARGENTINA (1): Ustari; López (Vergini), Desábato e Domínguez; Peruzzi, Braña, Guiñazu, Maxi Rodríguez e Clemente Rodríguez; Martínez (Somoza) e Barcos (Funes Mori). Técnico: Alejandro Sabella
Local: Estádio Serra Dourada, Goiânia (GO); Data: quarta-feira, 19/09/2012, 22h; Árbitro: Carlos Amarilla (Paraguai); Público: 37.871; Renda: R$ 2.700.670,00; Gols: Martínez 19 e Paulinho 25 do 1º; Neymar (pênalti) 48 do 2º; Cartão amarelo: Paulinho e Neymar

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