Encilhado, mas não montado

O Grêmio foi o único dos três primeiros colocados que pontuou na rodada, mesmo jogando fora de casa. A 25ª rodada do Campeonato Brasileiro foi quase perfeita para o Tricolor, exceto pelo jogo dele próprio.  A equipe começou bem, saiu na frente do Flamengo e parecia encostar de vez na luta pelo título. Mas cedeu o empate e o campo ao adversário no segundo tempo, e por pouco não terminou o domingo como Galo e Flu:  perdendo. Saiu, até mesmo, no lucro. Mesmo que o 1 a 1 tenha sido, sim, um mau resultado, pelo cavalo encilhado que passou e não foi montado.

Luxemburgo ousou hoje: escalou o Grêmio num 4-1-3-2. Era só Souza como volante e três meias. Na prática, o losango do primeiro semestre, só que o antigo Fernando foi Souza, Elano e Zé Roberto compunham a segunda linha do meio e Marco Antônio, tal qual no Gauchão e na Copa do Brasil, era o meia mais adiantado. A tática funcionou. Porque Souza foi impressionante à frente da defesa, Elano e Zé Roberto marcaram e armaram com grande qualidade e Marco Antônio cresceu junto com eles.

Tudo se encaminhava para uma vitória. O gol de Marcelo Moreno foi na pura qualidade técnica: primeiro de Elano, ao achá-lo no espaço vazio; depois, do próprio Moreno, ao dar o tapinha certeiro na saída de Felipe, como bom centroavante que é. O Flamengo, desorganizado, tentava equiparar na vontade. E encontrava na acomodação gremista uma grande aliada. Foi o grande pecado do time de Vanderlei Luxemburgo: administrou a vantagem cedo demais. Ainda no primeiro tempo, diga-se.

Na etapa final, o Fla veio disposto a buscar o resultado. E o Grêmio, além de acomodado, estava mais cansado. Elano e Zé Roberto deram certo no primeiro tempo, mas a função dupla, de marcar e avançar, os desgastou demais. Por isso, entrou Vílson: ajudaria Souza e liberaria ambos para só criar. E Leandro entrou para puxar os contra-golpes. Mas poderia ter saído Kléber, apagado, e não Moreno, hoje bem mais perigoso e voluntarioso. Só que o golaço de Adryan de falta, além de estabelecer justiça, veio logo em cima.  E trouxe o Flamengo para cima. O Grêmio só melhorou com a posterior entrada de Marquinhos, reequilibrando o jogo. Mesmo assim, o final do jogo foi de pressão intensa.

Foi a terceira partida com atuação abaixo da média normal do Grêmio, o que acende o sinal amarelo. E foi uma chance perdida contra uma equipe em crise, que não ganha há sete jogos, só perdia há quatro e está na beirada do rebaixamento. Mas agora haverá uma semana para treinar, raridade nos últimos meses. E será preciso mesmo o retiro em Atibaia. Não só porque domingo que vem há o Atlético-MG, um confronto direto e importantíssimo (mas não definitivo, para bem ou para o mal, pois há 12 rodadas depois), mas porque alguns jogadores dão mesmo sinais de cansaço. Serão dias de descanso, muito pijama-training e para Luxemburgo pensar bem na estratégia. Haverá time completo, é bom lembrar.

Em tempo:
- Sem o fôlego de outros tempos, o Flamengo tenta fazer de Léo Moura um meia, processo semelhante ao que Zé Roberto sofreu há alguns anos. Hoje, ele esteve perdido. Ibson é quem foi bem, depois de muito tempo apagado e em crise técnica.

FICHA TÉCNICA
FLAMENGO (1): Felipe; Wellington Silva, Frauches, González e Ramon; Luiz Antônio (Adryan), Cáceres, Léo Moura (Darío Bottinelli) e Ibson; Vagner Love e Liédson (Nixon). Técnico: Dorival Júnior
GRÊMIO (1): Marcelo Grohe; Pará, Werley, Gilberto Silva e Anderson Pico; Souza (Marquinhos), Elano, Zé Roberto e Marco Antônio (Vílson); Kléber e Marcelo Moreno (Leandro). Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Local: Estádio Engenhão, Rio de Janeiro (RJ); Data: domingo, 16/09/2012, 18h30; Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (Fifa-MG); Público: 15.625; Renda: R$ 233.790,00; Gols: Marcelo Moreno 18 do 1º; Adryan 16 do 2º; Cartão amarelo: Léo Moura, González, Gilberto Silva, Werley e Vílson

Comentários

Lourenço disse…
Na verdade, o Zé Roberto não foi para o meio porque ele não tinha mais fôlego para lateral. O Candinho disse que em 1996 ele já tinha dito para o Zé migrar para o meio, pela qualidade técnica, como o Felipe do Vasco, e acho que ele fez isso no começo de Europa já, com 25 anos ou algo assim.
Vicente Fonseca disse…
Sim, claro, Lourenço. O que quis dizer é que o processo é semelhante: deixou a lateral e foi para o meio. Mas no caso do Zé foi uma evolução de posicionamento, não cansaço.
Lourenço disse…
Aliás, eu lembro do Gilberto fazer essa migração em virtude da idade, mais antigamente o Júnior, mas, apesar de parecer algo supercomum, eu tô tendo dificuldade de lembrar de outros casos assim...
Vicente Fonseca disse…
No caso do Gilberto, foi algo temporário, em 2003, diante da fragilidade do time do Grêmio na época. Tanto que na Copa de 2006 ele foi como lateral. Só mais tarde, no fim da carreira, veio para o meio.
Lourenço disse…
Mas eu acho que o Gilberto só jogou de lateral pela Seleção mesmo, na época acho que já era mais meia.

Solução para o Palmeiras: só o Delegado resolve. Primeiro reforço: Maricá, mas na meia.
Rodrigo disse…
Fiquei com a sensação de que ontem o Grêmio se comportou como uma equipe que se dará por satisfeita apenas com a confirmação da vaga na Libertadores. Após marcar o gol, se acomodou em excesso, e no segundo tempo ficou praticamente assistindo ao Flamengo jogar. Deveria ter aproveitado a situação dramática da equipe carioca, o nervosismo dos seus jogadores, para matar a partida logo na primeira etapa. Mas não teve a ambição de time que pretende ganhar campeonato. Espero que essa postura não seja mantida nos próximos jogos.
Vicente Fonseca disse…
Também acho que houve uma acomodação ontem, Rodrigo. Acho que talvez em função dos maus resultados de Atlético-MG e Fluminense - deveria haver maior motivação neste caso, mas enfim. Só não sei se foi porque a equipe se contenta em ficar na faixa da Libertadores ou se o cansaço apontado pelo Luxemburgo pesou. Acho que a função dupla de Elano e Zé Roberto os cansou demais, por exemplo.
Igor Natusch disse…
Acho que o Grêmio se acomodou por causa do Flamengo, que (apesar da bola do Liédson na trave) fez um primeiro tempo muito ruim. Na segunda etapa o Flamengo melhorou e o Grêmio, desconcentrado, sentiu. Mas não acho que tenha sido conformismo com a Libertadores, me pareceu mais algo do jogo específico, mesmo.

Seja como for, não perder para o Atlético-MG é fundamental. Vencer seria o ideal e deve ser o objetivo dentro de campo - mas aqui entre nós, cochichando no cantinho, o empate até que serve...
Vicente Fonseca disse…
Também acho o empate um resultado bom. Bem melhor que contra o Flamengo. E não tão bom porque o Grêmio só empatou com o Flamengo.