Demonstração de força

Não foi uma grande atuação do Grêmio, muito longe disso. Na verdade, uma exibição de alto nível ontem em Guayaquil era utopia: dificilmente o time de Vanderlei Luxemburgo conseguiria se impor ao Barcelona-EQU. Não que não tivesse condições técnicas para isso: não tinha possibilidades físicas, por melhor que seja o trabalho de Paulo Paixão. Mas a preparação é tão boa que a equipe conseguiu terminar o jogo com mais pernas que seu adversário. O sistema defensivo é tão bom (goleiro faz parte do sistema defensivo) que o time não sofreu gols mesmo sem seu melhor zagueiro, fora de casa, com um adversário forte ofensivamente e com um esquema diferente do habitual. E o time é tão bom que, mesmo sem dois titulares e cansado após longas viagens, venceu o jogo.

É claro que houve problemas. O esquema, por exemplo. Por que Luxemburgo resolveu mudar as coisas e entrar com um 3-5-2? Não seria mais fácil, se a ideia era se defender melhor, colocar de volta o losango do primeiro semestre, formação a que o time está mais habituado? Certamente sim. No esquema que jogou ontem, o Grêmio deu o meio de campo ao Barcelona. Talvez a opção tenha vindo pelo fato de Tony e Anderson Pico serem laterais de vocação ofensiva. Compensa-se a fragilidade defensiva de ambos com mais um zagueiro. Pode ser, embora eu discorde de alterações de esquema. Só se deve mexer na estrutura tática de um time, ainda mais antes de jogo decisivo, em últimíssimo caso. Ainda mais quando a transformação é radical.

A zaga, de fato, foi quase perfeita - exceção ao lance que Vílson recuou errado para Werley e deixou Mina cara a cara com o salvador Marcelo Grohe, no começo do jogo. De resto, estes dois defensores e Naldo passaram a partida inteira cobrindo as falhas dos laterais - especialmente de Pico, de atuação desastrosa na esquerda. Pará fez falta ontem. Mas Fernando, pela segunda vez seguida, atuou como nos grandes momentos do primeiro semestre, ganhando quase todas as divididas que disputou. Souza foi, como de hábito, praticamente perfeito. Elano foi muito bem: experiente, segurou o jogo quando era preciso, embora tenha armado pouco, e deu o passe para o gol. A ideia defensiva (à exceção de Pico) foi tão bem posta em prática que mesmo após a tola expulsão de Tony o Barcelona não conseguiu aumentar a pressão. E quando o time equatoriano arrumava espaço para o chute, lá estava Marcelo Grohe, o melhor em campo.

Eu esperava um pouco mais do Barcelona. Damián Díaz provou ser um jogador inteligente, mas o melhor, ontem, foi o liso atacante Arroyo. Movediço, deu muito trabalho à marcação, assim como Mina. Ayoví entrou nos minutos finais, e talvez pudesse ter ido para o jogo mais cedo: entrou pela direita, demonstrou habilidade. Poderia ter explorado melhor a noite ruim de Anderson Pico.

Por boa parte do jogo, o Grêmio limitou-se a tentar intimidar os jogadores equatorianos, com chegadas fortes, esquecendo um tanto de jogar. A catimba faz parte do mata-mata sul-americano, mas talvez a equipe gaúcha não tenha dosado isso tão bem ontem. O tricolor jogou pouco, teve um gol quase fortuito, que premiou sua maior maturidade, mas não representou sua atuação, que foi menor do que normalmente é. Poderia ter perdido, mas não perdeu. Resistiu, do jeito que foi possível. Isso faz toda a diferença. Mas, voltamos ao início deste texto, era impossível manter o nível dos bons jogos do Campeonato Brasileiro. As circunstâncias foram mesmo adversas.

Resultado excelente, diante das circunstâncias. O Grêmio traz para Porto Alegre uma vantagem de poder empatar a partida, que significa muito em tempos de calendário apertado. O jogo de volta é no dia 24 de outubro, e lá o funil do Brasileiro será intenso. Não precisar recuperar um mau resultado é evitar um desgaste ainda maior, e num momento de finalização da temporada isso conta muito. Só não dá é para achar que a coruja está pelada. Não está.

Em tempo:
- Luxemburgo demorou a tirar Vílson. O zagueiro "pedia" para ser expulso. Tony, no fim das contas, é que acabou sendo.

- Belíssimo estádio do Barcelona. A torcida, porém, não fez o caldeirão que muito se esperava.

FICHA TÉCNICA
BARCELONA-EQU (0): Banguera; Perlaza (Ferreyra), Campos e Erazo; De La Torre (Ayoví), Amaya (Quiñonez), Matías Oyola, Díaz e Roosevelt Oyola; Arroyo e Mina. Técnico: Gustavo Costas
GRÊMIO (1): Marcelo Grohe; Naldo, Werley e Vílson (Léo Gago); Tony, Fernando, Souza, Elano (Marquinhos) e Anderson Pico; Kléber (Edílson) e Marcelo Moreno. Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Local: Estádio Monumental, Guayaquil (EQU); Data: quarta-feira, 26/09/2012, 22h; Árbitro: Georges Buckley (PER); Público: 60.000; Gol: Werley 44 do 1º; Cartão amarelo: Perlaza, Vílson, Fernando e Elano; Expulsão: Tony

Comentários

Anônimo disse…
Eu já critiquei muito o Naldo em jogos anteriores, mas ontem ele se desdobrou para compensar os espaços que os laterais deram na defesa. Aliás, a zaga e os volantes ontem jogaram com um ímpeto de quem está numa decisão, como deve ser numa competição de mata-mata.

E o Grohe... Partida monstruosa no gol, com uma boa dose de sorte para segurar o placar.

Tiago