Dois sorrisos

Ronaldinho, mais uma vez, cumpriu sua biografia. Em todos os clubes pelos quais passou durante sua carreira, proporcionou dois sorrisos aos torcedores: um na chegada, outro na saída. Em alguns clubes, claro, proporcionou felicidade enquanto esteve em forma. Mas em nenhum clube pelo qual passou ele se mantém como ídolo da torcida. Só mesmo os do Grêmio, lá em 2001, não ficaram felizes com sua partida do Olímpico, não por tristeza por sua transferência, mas por indignação. Mas os gremistas riem agora, pelo alívio que sentem de verem apenas de longe tudo o que os flamenguistas passam agora - estes também com um sorriso de alívio, amarelo, mas ainda assim sorriso.

Patrícia Amorim moveu mundos e fundos para trazê-lo para a Gávea no início do ano passado, e nisso demonstrou extrema competência. Mas não planejou absolutamente pra que a contratação se sustentasse. Não houve plano algum de marketing, por exemplo. Não houve um modo seguro de garantir o pagamento do altíssimo salário do jogador. Não houve um plano para garantir que Ronaldinho, que é quase um ex-jogador desde o Mundial Interclubes de 2006, se mantivesse focado e interessado em ser vencedor no Flamengo. E não houve a montagem de um elenco capaz de levar o Flamengo a grandes títulos. O título carioca invicto acobertou a eliminação precoce na Copa do Brasil. O Fla apostou tudo em Ronaldinho. É muito risco. Um show de incompetência e ingenuidade da direção.

Outro grande erro foi quando Vanderlei Luxemburgo foi demitido. Não exatamente por causa do técnico em si - Luxa vinha mal, transbordando prepotência como forma de manter-se como a autoridade do vestiário e, por isso, errando demais - mas pela contratação do substituto. Trazer Joel Santana foi a cereja no bolo dos erros grotescos de Patrícia nestes dois anos e meio à frente do clube. Foi a tentativa de trazer um conciliador, que acobertasse as barbaridades que Ronaldinho cometia e passasse a mão sobre sua cabeça, quando justamente o contrário deveria ser feito. Só agora, com Zinho como dirigente, é que existe um pouco mais de pulso firme.

O ano do Flamengo já parecia condenado desde a saída de Thiago Neves, ainda mais que ninguém foi contratado para o seu lugar. A nação rubro-negra pode se preparar para um Brasileirão bem difícil, mas talvez a saída de Ronaldinho possa ser o ponto de partida para um time mais humilde e focado. Ele demorou a sair, mas não foi tarde demais para levar o clube ao rebaixamento, por exemplo. Porque o destino rubro-negro seria esse caso ele permanecesse na Gávea.

Em tempo:
- Com apenas dois jogos, Ronaldinho pode jogar em qualquer outro clube do Campeonato Brasileiro. Alguém se habilita?

- Quantas camisas na loja do Flamengo Assis terá que roubar para receber os R$ 40 milhões que pede?

- Qual terá sido a reação de Paulo Odone ao saber da rescisão de Ronaldinho com o Flamengo?

- Alguém tem outra manchete mais adequada para um caderno de esportes nesta sexta-feira?