Como nos velhos tempos
O jogo não foi tão parecido com o de Porto Alegre como eu imaginava. A torcida do Palmeiras estava tão empolgada que naturalmente empurrou o time para frente. O começo de jogo, onde Barcos quase abriu o placar num carrinho, já demonstrava claramente que a partida seria diferente da que tivemos no Olímpico. E isso era ótimo para o Grêmio. Pegar o Verdão fechado o tempo todo mais uma vez dificultaria ainda mais as já minguadas chances de uma virada.
A chuva ditou as circunstâncias do jogo porque propiciou o contato físico exacerbado, o choque. Isso acabou sendo ruim para o Grêmio: a equipe entrou com espírito bastante positivo, mas as provocações palmeirenses acabaram fazendo os gremistas confundirem e exagerarem na dose, especialmente no fim do jogo. O time esqueceu de jogar bola em muitos momentos. Às vezes, pelo piso encharcado, nem havia como, mesmo.
O Grêmio foi melhor no primeiro tempo. Passada a empolgação inicial do Palmeiras, os espaços começaram a surgir. Pará tinha muita liberdade para apoiar pela esquerda. Participou bem, mas faltava qualidade de acabamento. Marco Antônio, com campo ruim, simplificava - e melhorou bastante, teve boa atuação. Fernando ia bem na cobertura. Barcos e Werley fizeram ótimo duelo - especialmente no quesito bate-boca.
Assim como no Olímpico, a etapa inicial terminou justamente no melhor momento gremista. Luxemburgo voltou com Rondinelly no lugar de Souza. Era preciso mesmo dar mais ofensividade, mas talvez o ideal fosse manter Souza, jogador de porte físico indicado para um jogo naquelas circunstâncias. A equipe gaúcha seguiu melhor: com muita vontade e jogando futebol melhor que o do primeiro jogo, abriu o placar merecidamente, na bola parada, com Fernando. Mas se abriu em busca do segundo, tudo o que não poderia acontecer. Nestes espaços que antes não havia, o Palmeiras empatou, com Valdívia. Ali, sim, o time gaúcho morria nesta semifinal.
Ao final, a confusão tradicional de partidas apitadas pelo péssimo Ricardo Marques Ribeiro. Rondinelly foi bem expulso, Edilson idem - e pegará gancho grande por ter partido para o pugilato contra Henrique, que levou vermelho por atacado e não joga a primeira final contra o Coritiba. Um final triste e melancólico para uma campanha muito boa, mas que não terminou em título. O Grêmio fez uma Copa do Brasil praticamente impecável, mas vacilou por cinco minutos no primeiro jogo. Em Copa do Brasil, cinco minutos são absolutamente tudo.
O Palmeiras chega para a decisão contra o Coritiba de forma merecida, pois foi a equipe mais eficiente e que jogou com as armas que tem, levando o mata-mata com extrema sabedoria, mas sem o favoritismo que talvez lhe apregoem. É um time com deficiências técnicas e de conjunto, mas que Luiz Felipe soube muito bem reagrupar para conseguir eliminar um adversário tecnicamente mais capacitado. Pode conseguir de novo, claro, embora o Coxa seja melhor e pareça mais preparado para ser o campeão.
Em tempo:
- Atuação pífia de Marcelo Moreno: constantemente impedido, mais atrapalhou do que ajudou o ataque. Foi bem substituído.
- É impossível não falar em Valdívia, que decidiu o jogo após todo o trauma do sequestro relâmpago. Além do gol, armou jogadas e provocou os jogadores do Grêmio com muita catimba. Jogou aquilo que se viu dele em 2007 e 2008. Seria ótimo para o Palmeiras que voltasse a ter desempenho parecido com aquele.
Copa do Brasil 2012 - Semifinais - Jogo de volta
21/junho/2012
PALMEIRAS 1 x GRÊMIO 1
Local: Arena Barueri, Barueri (SP)
Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (MG)
Público: 26.255
Renda: R$ 1.086.242,00
Gols: Fernando 21 e Valdívia 27 do 2º
Cartão amarelo: Daniel Carvalho, Valdívia, Barcos, Gilberto Silva, Pará e Kleber
Expulsão: Rondinelly 34, Edilson 35 e Henrique 39 do 2º
PALMEIRAS: Bruno (6,5), Artur (6,5), Thiago Heleno (6) (Leandro Amaro, 41 do 2º - sem nota), Maurício Ramos (5,5) e Juninho (6); Henrique (6), Márcio Araújo (5,5), João Vítor (6) (Patrik, 47 do 2º - sem nota) e Daniel Carvalho (5,5) (Valdívia, 14 do 2º - 8); Mazinho (5) e Barcos (5,5). Técnico: Luiz Felipe Scolari
GRÊMIO: Victor (6), Edilson (4,5), Werley (5,5), Gilberto Silva (5,5) e Pará (5,5); Fernando (6,5), Souza (5,5) (Rondinelly, intervalo - 4,5), Léo Gago (5) e Marco Antônio (6) (André Lima, 14 do 2º - 5); Kleber (5,5) e Marcelo Moreno (4) (Miralles, 23 do 2º - 5). Técnico: Vanderlei Luxemburgo
Comentários
Não sei se eu sou tão fanático a ponto de ver a realidade de maneira diferente: mas o carrinho do Rondinelly foi na bola.
É muita corneta em cima do André Lima, no primeiro tempo, quando nem em campo estava, tinha gente no bar reclamando dele. E tem atacante no olímpico fazendo bem menos que ele.
O Grêmio fez o que tinha ao alcance. Acho que podia ter arriscado mais de fora da área e cruzado mais - mas aí faltou laterais, como era de se esperar. Eu pensava em colocar Miralles já no intervalo, justamente para que ele abrisse mais na ponta e garantisse uns cruzamentos. Mas com um time fraco na armação, em campo ruim, com juiz ruim... Grêmio fez o que dava para fazer. E não dá para esquecer o Palmeiras também.
Trabalho não é ruim. Com insistência e a entrada de algumas peças, dá até para CHULEAR uma Sulamiranda talvez. Óbvio que a eliminação dói, mas tem muito 2012 pela frente. Controlem-se. Mantenham a compostura.
Eu nem estava secando, estava jogando bola num dos HD's da vida das 22 às 23h, mas depois do jogo, quando vi a comemoração do cara na hora do gol, confesso que me emocionei.
Belíssima crônica do jogo, professor.
PS> sentimos falta do Carta na Mesa
Faltou malandragem pro Grêmio no primeiro jogo, o 0 x 0 em casa, em mata-mata, nunca é mal negócio.
Marcus
Sobre a falta do Rondinelly, aquela LENTE do Sportv captou o tranco no Barcos. Também achei que foi na bola num primeiro momento, mas ele tocou o palmeirense, que estava em clara e manifesta possibilidade de gol.
Este Ricardo Marques Ribeiro tem fama de bom, mas nunca vi apitar bem. Lembro de três jogos da Dupla com ele que terminaram em confusão: Inter 2 x 2 Corinthians (2009), Grêmio 4 x 2 São Paulo (2010) e Santos 0 x 0 Grêmio (2010). Ontem foi o quarto.
Concordo, mas a cada ano isso se torna um peso ainda maior. Na ânsia de acabar com esse jejum, a pressão por um título de expressão faz com que pouca gente dê o tempo necessário para se avaliar a evolução de um trabalho. E essa pressão também se fez notar na política de contratações, que prefere trazer jogadores a rodo sem fazer uma avaliação mais detalhada.
O pior dessa eliminação é saber que o adversário não tinha nada de excepcional, ao contrário do Santos de 2010. Dava para ter passado, mas faltaram peças para montar um time equilibrado e a atenção naqueles fatídicos 5 minutos finais em POA. Mesmo assim essa temporada tem tudo para ser melhor que a anterior, contanto que haja um time minimamente completo em campo, sem ter que apelar para improvisações.
Parabéns pelo blog,
Tiago
Valeu pelo elogio.
Abraço.
O chato realmente é ter sido eliminado por uma equipe pior (embora apenas levemente pior, antes que tratem esse duelo como um crime que o Felipão conseguiu fazer).
Achei que o Henrique foi merecidamente expulso.
E o Valdivia me pareceu oportunista. No pior sentido da palavra. Tava com tudo pronto para deixar o clube quando o momento era ruim, voltou na hora boa.