Não foi só ele

O Internacional tem duas alternativas para seguir após a noite de hoje. A primeira é muito cômoda: enfiar na cabeça que Neymar decidiu tudo sozinho, que é impossível pará-lo, e que não havia o que fazer diante de um craque deste nível. A segunda é analisar a fundo as razões da derrota para o Santos e ver o que é possível melhorar para as próximas partidas. É bem mais trabalhosa, mas é a correta.

Neymar teve uma atuação espetacular, como poucas dentro de sua já brilhante carreira, mas os 3 a 1 não são culpa exclusiva dele. E não é apenas jogando a culpa em Rodrigo Moledo, que foi driblado pelo gênio nos dois gols, que o Inter pode começar a explicar a derrota. Ela passa, principalmente, por uma questão de postura. Passa por Dorival Júnior.

Antes do jogo, todos sabiam que os três volantes, sendo um deles Elton, tendiam a dar errado. Dorival, no entanto, garantiu que seu time não seria cauteloso, retrancado. Agrediria o Santos. Mas não foi isso o que se viu. É simplório demais encher um time de marcadores e achar que isso vai parar Ganso e Neymar (fora Ibson, Henrique e outros). São jogadores inteligentes, que se movimentam, iludem a marcação. O Inter não encaixou a marcação no Santos em momento algum. E o pior: sem um segundo atacante, além de não marcar, deixou de jogar.

Leandro Damião, coitado, foi uma ilha em meio a Durval e Edu Dracena. O Santos sufocava o Inter de tal modo que a bola sequer chegava a Oscar e D'Alessandro, que dirá ao centroavante. Também aí a postura pesou: nenhum dos meias voltou para buscar a bola, nenhum participou do jogo. D'Alessandro só reclamou da arbitragem; Oscar só apareceu no lance do gol de Damião. Lance isolado e insuficiente para qualificarmos como mediana sua pobre atuação.

É claro que Neymar desequilibrou. Fez dois gols antológicos. Mas antes disso, no primeiro tempo, só dava Santos. E aí apareciam os apoios interessantes de Fucile, a marcação adiantada de Henrique e Arouca, o dinamismo de Ibson e a qualidade de Ganso. O Inter não foi páreo em nenhum momento para o Peixe, foi menos time sempre. Neymar foi só a cereja do bolo, o diferencial que não deixou dúvidas.

Taça Libertadores da América 2012 - Primeira Fase - Grupo 1 - 2ª rodada
7/março/2012
SANTOS 3 x INTERNACIONAL 1
Local: Vila Belmiro, Santos (SP)
Árbitro: Evandro Rogério Roman (BRA)
Público: 12.587
Renda: R$ 389.460,00
Gols: Neymar (pênalti) 18 do 1º; Neymar 8 e Leandro Damião 18 e Neymar 19 do 2º
Cartão amarelo: Neymar, Juan, Índio, Kleber, Elton, D'Alessandro, Bolatti, Oscar, Tinga e Dagoberto
SANTOS: Rafael (6,5), Fucile (6), Edu Dracena (5,5), Durval (5,5) e Juan (5,5); Arouca (6,5), Henrique (6), Ibson (6) (Elano, 34 do 2º - sem nota) e Ganso (7); Neymar (10) e Borges (5) (Allan Kardec, 30 do 2º - sem nota). Técnico: Muricy Ramalho (7,5)
INTERNACIONAL: Muriel (5,5), Nei (5), Rodrigo Moledo (4), Índio (4) e Kleber (4,5); Bolatti (4,5) (Tinga, 17 do 2º - 4,5), Guiñazu (4,5), Elton (4,5) (Dátolo, intervalo - 5), D'Alessandro (4) (Dagoberto, 17 do 2º - 5) e Oscar (4,5); Leandro Damião (6). Técnico: Dorival Júnior (3)


Comentários

Vine disse…
Bem, depois de um jogo desses torna-se INJUSTO qualquer salário que ganhemos abaixo do que recebe o Dorival. Não dá simplesmente para recuar diante de um time muito qualificado. O trabalho dele acho que começa a ser questionado. Deveria, ao menos.
Lourenço disse…
Acho que o maior erro do Dorival foi ter colocado um time que não joga junto. Ou seja, mudar na hora do jogo decisivo. Isso é um absurdo.
Agora, a escalação em si não foi ruim. Trocaria, claro, Elton ou Bolatti pelo Tinga (acho que o Dorival faria isso se o Tinga estivesse com mais ritmo), mas depois do grenal eu comentei que o melhor para o Inter era reforçar um pouco o time no meio de campo e deixar alguém do "quadrado mágico" no banco.
O problema, insisto, é o Dorival escalar o time sempre com os 4 na frente e na hora do jogo mais difícil mudar. Ou seja, passa a ideia de que o time não vai usar a sua escalação ideal nos jogos decisivos.

Ah, e havia quem não gostava de Neymar, que o chamava de firulento, se preocupando mais com suas dancinhas do que com o que acontece no campo. Um abraço a todos esses.